Volta à normalidade foi negativa para as vendas dos supermercados

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Com bom desempenho no início da pandemia, o setor supermercadista, que chegou a crescer 38% na última semana de março, começou a sentir o arrefecimento das vendas de abril em diante no estado de São Paulo.

Mesmo com previsão de alta de 16% nas vendas em 2020, os supermercados agora enfrentam alguns desafios, como a inflação dos alimentos e a dificuldade de acesso ao crédito para o pequeno varejo do setor.

Além disso, o impacto da reabertura dos bares e restaurantes foi sentido nas vendas dos supermercados, pois boa parte dos trabalhadores que não estão mais em home office voltaram a comer fora de casa.

Depois do boom em abril e maio, e da alta real de 6% no estado de São Paulo em junho, em julho e agosto as vendas vêm desacelerando, disse um representante do setor em reunião do Comitê de Avaliação de Conjuntura da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), realizada na última quinta-feira (24/09).

“Essa troca de consumo, de dentro para fora do lar, além do aumento do desemprego e a queda na renda das famílias, têm impactado as vendas mais expressivamente”, afirmou.

Historicamente, os participantes dessa reunião da ACSP pedem que seus nomes não sejam divulgados.

Porém, um dos principais pontos de atenção no momento, que colaborou para desacelerar ainda mais as vendas, é a inflação nos preços de alimentos da cesta básica como o arroz, cujo preço disparou nas prateleiras e registrou a maior alta acumulada desde 2008 (25,7%), o leite (24,3%) e o óleo de soja (23,8%).

Os dados, do Índice de Preços dos Supermercados, calculados pela Associação Paulista de Supermercados (APAS) e a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), apontam que a inflação do setor, que cresceu 0,9% em agosto, acumulou alta de 5,93% em oito meses – quase o dobro de igual período de 2019 (3,03%).

Por ser considerada uma questão sistêmica (como o aumento das exportações e a maior procura de itens da cesta básica com o Auxílio Emergencial, entre outros), os supermercados foram orientados a comprar o essencial para repor estoques e restringir quantidades de venda para evitar risco de desabastecimento.

A confiança dos supermercados também não é unanimidade, apesar de mais elevada que no início da pandemia. Por não conseguirem acesso às linhas de crédito disponíveis no mercado, muitos estabelecimentos de pequeno porte estão em busca de apoio para minimizar os efeitos negativos, destacou o representante.

Essa, inclusive, é uma das grandes preocupações do setor, já que principalmente suas margens foram muito espremidas pelo aumento de despesas para fazer frente aos protocolos sanitários impostos pela pandemia.

“Mas não é culpa só da covid: muitos desses pequenos já entraram nela meio apertados, e ficaram com dificuldades financeiras maiores – o que demanda a procura de mais alternativas para sair delas.”

O especialista lembrou que, a despeito disso, o cenário não é de todo ruim: foi aberta uma janela para o movimento de fusões e aquisições desses mercadinhos por redes de médio e até grande porte.

Também houve impulso maior ao atacarejo, que ganhou força na pandemia. “Eles não têm o mesmo nível de serviço do supermercado, mas entregam preço. E nesse momento de crise, o consumidor está focado nisso.”

Um outro movimento aponta para a desaceleração envolvendo as estruturas para atender pedidos on-line e delivery montadas na quarentena. Para fazer frente a eles, houve um incremento de 700 vagas em supermercados no estado de São Paulo só em julho. Em igual mês do ano passado, sem pandemia, foram 400.

A avaliação, seis meses depois, é que esse processo é passageiro. “Quando as vendas físicas voltarem fortemente, não será mais preciso tanta operação on-line”, sinalizou o representante dos supermercados.

NO AGRONEGÓCIO

Responsável pelo abastecimento alimentar de 1,1 bilhão de pessoas em todo o mundo, o agronegócio brasileiro tem ido na contramão da crise, continua a bater recordes e deve fechar o ano exportando 225 milhões de toneladas. “Mas há uma expectativa de fechar em 230 milhões”, disse um empresário do setor na reunião da ACSP.

Nesse quadro mundial de carência de alimentos, nos próximos cinco anos o setor deve começar a exportar para a Índia, um país com tamanho da população semelhante à da China, a maior compradora do Brasil.

A alta do dólar, segundo um especialista do setor presente à reunião, beneficiou ainda mais o agro, fazendo com que, pela primeira vez em dez anos, o agricultor recebesse uma fatia maior do bolo das exportações.

O aumento no preço do arroz para o consumidor brasileiro ilustra bem essa situação. Após cinco anos ‘colhendo mal’, segundo o empresário, houve uma melhora para o produtor logo em ano de pandemia.

E o grão se viabilizou: se normalmente sobra pouco para exportar, com a questão do dólar o arroz não deu conta de atender o consumo interno. “Mas foi uma explosão de preço momentânea, a nova safra vem aí”, disse.

Porém, ainda há alguns desafios para garantir a produção e o abastecimento, ainda que o Brasil tenha terras disponíveis e tecnologia que permite produzir duas ou até três safras por ano, dependendo da região.

Mesmo sendo o principal exportador global de soja, o país já chegou a um nível difícil de ampliar a produtividade do grão. Com isso, subiu a demanda por milho, cuja produção aumentou 50% na última década – de 50 milhões para 102 milhões de toneladas. E deve bater as exportações de soja, chegando a 200 milhões até 2030.

Por ser matéria-prima de ração animal, há países na fila para importar milho do Brasil, como Japão, Egito e até a China, a maior produtora mundial da commodity. Com o aumento da procura, segundo o especialista, faltam máquinas tanto para colher a safra que será plantada em outubro, quanto para a que será colhida em março.

“As vendas de caminhões estouraram. A demanda agrícola está muito grande, e agora estamos caminhando para chegar a um equilíbrio nessa produção para não esgotar até o Natal”, concluiu.

Fonte Diário do Comércio
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