Como as casas de apostas esportivas online definem suas margens em comparação ao varejo?
O segmento de apostas online no Brasil gerou intensas discussões durante o último ano
O segmento de apostas online no Brasil gerou intensas discussões durante o último ano. Com o constante crescimento, o setor atingiu patamares impressionantes. Na receita com apostas esportivas no Brasil até 2023, o mercado movimentou aproximadamente USD 0,3 bilhão, e projeções sugerem que pode chegar a USD 1,7 bilhão até 2030, refletindo uma taxa composta de crescimento anual (CAGR) de 31,4% de 2023 a 2030.
Assim, o varejo tem se atentado a como as casas de apostas estão afetando outras áreas da economia. E, um dos principais pontos a serem discutidos é justamente a margem praticada por estas plataformas. Como elas se comparam às margens do varejo?
Como as casas de apostas lucram legalmente?
Tradicionalmente, a margem embutida nos mercados de palpites é a maior fonte de receita das casas de apostas. Para aqueles que não conhecem o conceito, seja em uma casa de apostas em dolar, real ou outra moeda, as apostas são feitas nos “mercados”, que dão opções para o apostador. Cada opção faz referência a um possível acontecimento no evento esportivo, como a vitória de um determinado time.
Indo além, os mercados possuem odds, ou cotações, em cada uma das opções. Estes números fazem referência a probabilidade de tal resultado se concretizar. Também, definem quanto o apostador ganhará se sua aposta for “vencedora”. Por exemplo, um mercado com odds de 2.00 pagará 2x o valor apostado.
Como uma bet lucra?
E como a plataforma lucra com o sistema mencionado acima? A resposta é simples: modificando ligeiramente as odds de cada mercado ofertado. Desse modo, em vez de as odds representarem puramente as chances de um determinado resultado ocorrer, também incluem um valor que não irá para nenhum dos apostadores.
O conceito pode parecer complexo, mas basta pensar em um mercado para a partida Vasco x Flamengo. Neste cenário hipotético, Vasco teria 33,3% de chance de ganhar, Flamengo teria 33,3% de ganhar e há 33,3% de chances de terminar em empate.
Todavia, na casa de apostas Y, ao converter as odds para porcentagens, os valores mudam, com Vasco tendo 35%, Flamengo 35% e o empate 35%. No total, o mercado teria 105% de chances em suas cotações, o que não refletiria a realidade.
Assim, os hipotéticos 5% extras seriam direcionados para a plataforma. Nesse modelo, todas as apostas feitas geram uma pequena receita para a plataforma, mesmo as que dão uma premiação para o usuário.
Vale dizer que, por não impedir que o apostador tenha a possibilidade de ganhos, essa estratégia é legal. Entretanto, há limitações para a margem de ganho das operadoras, de modo que mantenha uma experiência justa.
Como a margem de lucro das casas de apostas se diferenciam das margens do varejo?
Com a explicação acima, é possível entender como as casas de apostas conseguem a maior parte das suas receitas. Outros ganhos, como taxas, cobranças em alguns serviços e mensalidades, são considerados mínimos em comparação ao lucro nos mercados de apostas.
Dito isso, como as margens de lucro das plataformas de palpites se comparam ao varejo mais tradicional? Em primeiro lugar, há uma diferença basilar em como cada setor determina sua porcentagem de ganho.
No varejo, os custos operacionais, logísticos, materiais e outros semelhantes são o principal fator na precificação do produto. Já nas casas de apostas, grande parte da política de valores vem das probabilidades.
Ou seja, independente da estratégia de negócio de cada empresa, as estatísticas e prognósticos são fundamentais na determinação das cotações. Consequentemente, a margem de lucro do serviço é modificada conforme tais dados.
Assim, muitas vezes um evento com resultados mais previsíveis dá um lucro menor para a plataforma. Já mercados com números mais fora da média costumam gerar um ganho mais elevado — mas, é claro, são menos procurados pelos usuários. Exemplo: um jogo de uma segunda divisão de hóquei.
Todavia, é inegável que, em média, o setor de apostas desfruta de maior estabilidade em comparação com o varejo. Questões como flutuação no valor da matéria-prima ou variações cambiais impactam muito menos o segmento.
Em contraste a isso, a tributação e regulamentação do setor de apostas costumam ser significativamente mais custosas. Desde a licença de funcionamento até tributos específicos, grande parte dos países usam mecanismos legais como parte de políticas de jogo responsável.
As margens do setor de apostas podem impactar as margens do varejo?
O crescimento do segmento das bets tem causado dúvidas acerca do impacto causado em outras áreas econômicas e comerciais. Muitos questionam se a atividade pode modificar a dinâmica de consumo entre a população, principalmente nas classes C, D e E.
Nesse sentido, ainda há poucos estudos que possam dar uma visão mais sólida acerca do fenômeno. Apesar dos valores movimentados impressionarem, ainda é preciso colocá-los em análise no cenário macro.
Por exemplo, como as apostas afetaram o setor de entretenimento, especificamente? A atividade está modificando padrões de consumo em outras áreas, como turismo ou alimentação? O crescimento do segmento acompanha outros dados econômicos ou é um fenômeno à parte?
Conforme mais análises são feitas, boa parte dessas dúvidas serão respondidas. Por isso, profissionais e interessados no impacto das apostas no varejo nacional devem ficar atentos aos novos rumos que o segmento deve tomar a partir de agora.