Relatório da PF reaquece disputa Abilio vs. Casino

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O grupo varejista francês Casino está envolvido em nova polêmica no Brasil justamente quando a economia dá sinais de recuperação e o Grupo Pão de Açúcar, controlado pelos franceses, se prepara para uma nova leva de bons resultados.

Em relatório encaminhado ao Superior Tribunal de Justiça na Operação Acrônimo, a Polícia Federal concluiu que o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), atuou com o auxílio do ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Luciano Coutinho para favorecer o Grupo Casino ao não liberar empréstimo para viabilizar a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour, em 2011.

Segundo a PF, Pimentel e Coutinho se articularam para impedir a concretização de um empréstimo do BNDES para o empresário Abilio Diniz, que na época buscava apoio do banco público para a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour.

As ações do GPA chegaram a cair cerca de 1% no início do pregão desta segunda-feira, mas depois se recuperaram, com queda de 0,1% ao meio-dia. Analistas avaliam que o impacto para a rede será pequeno, e que dificilmente vai interromper um período de resultados promissores. Na sexta-feira, dia 13, o GPA anunciou aumento de 8% nas vendas do terceiro trimestre, para 10,9 bilhões de reais.

O maior responsável é a rede de atacarejo Assaí, que teve aumento de 25,2% nas vendas. A rede de hipermercados Extra, a bandeira mais problemática do grupo nos últimos anos, também teve bom desempenho graças ao foco nas lojas mais rentáveis, depois da conversão de 15 unidades para a marca Assaí desde o início do ano.

No ano, as ações do GPA já subiram 33%, graças a uma melhora nos resultados que deve continuar, segundo relatório recente do branco Brasil Plural. “Acreditamos que a companhia vai continuar se beneficiando de sua estratégia assertiva com melhora na execução”, diz o relatório. A margem líquida da empresa passou de -2,8%, no segundo, trimestre de 2016, para 1,5% no segundo trimestre deste ano. O resultado consolidado do terceiro trimestre será divulgado na quinta-feira 26.

Ainda assim, a companhia ainda está devendo sob o comando do Casino. Em cinco anos, as ações caíram 15%, enquanto o Ibovespa valorizou 30%. A margem líquida ainda está aquém do segundo trimestre de 2012, último sob comando de Abilio Diniz, quando bateu 3,8%. Claro que na época a economia brasileira estava num momento muito melhor, mas de lá pra cá uma série de problemas fez com que a varejista desempenhasse abaixo do esperado sob comando dos franceses.

“Eles não estavam preparados para assumir o negócio e cometeram uma série de erros de execução e de estratégia, com seguidas trocas de executivos”, diz um analista que acompanha a empresa. “Mas conseguiram se recuperar. O relatório da PF não deve impactar a recuperação, mas certamente não ajuda”.

Tensão total

O caso citado no relatório remonta ao período de maior tensão entre os franceses e seu antigo sócio no Brasil. Em 2006, Abilio e os franceses assinaram um acordo de acionistas que previa que, em 2012, o Casino poderia assumir o controle do Pão de Açúcar no Brasil.

Mas o tempo foi passando, a operação da varejista foi melhorando, e Abilio passou a buscar alternativas para o negócio — todas elas pressupunham, evidentemente, que ele permanecesse no controle da varejista fundada por seu pai, pisando no calo do controlador do Casino, seu antagonista Jean-Charles Naouri.

Em fevereiro de 2011, segundo a PF, Diniz apresentou o polêmico projeto de fusão a Coutinho, que teria autorizado a realização de estudos técnicos sobre a operação.

Era o auge da política de campeões nacionais, e ter um varejista com condições de brigar de igual para igual com os maiores do mundo poderia fazer sentido para o Brasil. Certamente fazia sentido para Abilio, mas não para Naouri, que usou o episódio como gota d’água para informar, em julho de 2011, que de fato exerceria a opção para assumir o controle do Grupo Pão de Açúcar.

A PF aponta no relatório que o Casino, contrário à compra, teria efetuado pagamentos para uma empresa que cedeu 40% dos valores à mulher de Pimentel, Carolina de Oliveira.

Para os investigadores, o repasse seria uma contrapartida à inclusão de uma cláusula em desfavor de Diniz. A cláusula tratava da obrigatoriedade de o Pão de Açúcar não possuir qualquer disputa judicial com os franceses para poder ter acesso ao dinheiro do BNDES.

Segundo a PF, em troca da inclusão da cláusula e da manutenção da situação de interesses do grupo, foram pagos 8 milhões de reais pelo Casino à empresa MR Consultoria.

A PF concluiu que a empresa, de propriedade do jornalista Mário Rosa, intermediou o repasse de parte do valor para a atual primeira-dama de Minas Gerais. Pimentel não foi indiciado porque é governador e tem foro privilegiado no STJ. A primeira-dama, Coutinho e Mário Rosa foram indiciados pela PF por corrupção passiva.

Procurada por EXAME, a assessoria do Casino afirmou que é “um absurdo alegar que Pimentel e Coutinho possam ter atuado para beneficiar o Casino contra Abilio Diniz, sabidamente próximo do banco de fomento”. Em nota, o grupo informa que “cooperou plenamente com a investigação e foi surpreendido por suas conclusões equivocadas”. A empresa afirmou ainda que a investigação da Polícia Federal possui erros primários de apuração, inclusivo cronológicos, e que a cláusula de não-litígio que a PF alega ser a prova da suposta corrupção, é nada menos que uma cláusula “perfeitamente normal” e clássica em transações societárias.

Vida nova

Depois de perder o controle do Pão de Açúcar, varejista fundada por seu pai em 1948, Abilio e o Casino voltaram a se desentender em 2013, quando o empresário foi eleito para a presidência do conselho da fabricante de alimentos BRF. O Casino alegou conflito de interesse, já que a BRF e o Pão de Açúcar eram importantes parceiros comerciais.

Abilio deixou definitivamente o Pão de Açúcar em setembro de 2013. E, por conta própria, retomou a relação com o Carrefour, mas desta vez para bater de frente com sua antiga companhia. Atualmente, a empresa de investimentos de Abilio, é o terceiro maior acionista do Carrefour no mundo, com 7,86% das ações totais. Em dezembro de 2014, Diniz também comprou uma participação de 10% na unidade brasileira do Carrefour, elevada a 12% em junho de 2015.

No Brasil, a Península indicou seis executivos para operação, e colocou em marcha um agressivo plano de crescimento batizado de Usain Bolt, que fez a rede deixar o Casino para trás em muitos quesitos.

Foi beneficiado, em partes, pela claudicante estratégia dos franceses, tanto no varejo físico, quanto no e-commerce, com a Via Varejo. O relatório da PF divulgado neste domingo reaviva uma antiga rivalidade, que deve ganhar corpo no dia a dia em 2018. Procurados, GPA e Península não comentaram.

Fonte Exame.com
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