Picpay entra no varejo de produtos de consumo

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O PicPay, aplicativo que opera como uma carteira digital, vai estender a operação para ser um shopping center virtual – negócio explorado por Amazon, B2W, Mercado Livre, Magazine Luiza e Via Varejo. Será a primeira incursão da empresa, controlada pelo Banco Original, da holding J&F, no varejo on-line de bens de consumo, e os contratos com lojistas e indústrias já começaram a ser negociados.

No fim da semana passada, o acesso à loja on-line estava disponível aos 49,9 milhões de usuários do Pic Pay – desse total, 36,6 milhões são ativos. A equipe de 60 pessoas dessa operação, a “PicPay Store”, tem buscado lojas de eletrônicos, moda e beleza para a primeira fase do projeto. A Multilaser é uma das marcas que fecharam contrato e está pondo 200 produtos à venda na loja, como acessórios, eletroportáteis e TVs.

Numa segunda fase, entre 2021 e 2022, devem ser fechados acordos com parceiros do setor de viagens, educação e transportes.

A intenção é criar uma nova unidade que se integre à uma plataforma digital maior, e que ainda está em desenvolvimento no PicPay. O shopping virtual, ou marketplace, no jargão do setor, é parte desse planejamento, que se abre em duas vertentes: marketplace de produtos financeiros (seguros, empréstimos) que funcionará como plataforma aberta e está sob estudo, e o marketplace de produtos de consumo. Este último funciona dentro do que parecer ser uma lógica simples, mas que precisa ganhar tração e convencer parceiros, dizem consultores.

A empresa vai tentar atrair lojistas usando como chamariz o acesso à base de quase 50 milhões de usuários além da carteira de serviços financeiros ao varejista. Mas, inicialmente, o pacote a ser oferecido tem limitações. “Vamos gerar negócios pela nossa enorme carteira e pela força financeira e tecnológica que já temos […]. Mas não vamos fazer a logística e a distribuição [para o vendedor]”, diz Fabio Plein, executivo contratado em janeiro para liderar esse negócio, e ex-gerente geral do Uber Eats.

“Não é por aí que vamos trazer parceiros, mas pela massa de usuários e pela carteira de outros serviços ao lojista e ao consumidor”, afirma. Para efeito de comparação, as carteiras dos concorrentes também são relevantes: o Mercado Livre, dono do Mercado Pago, tinha 74 milhões de usuários ativos nos últimos 12 meses na América Latina, e analistas estimam que mais da metade disso está no Brasil. A B2W tinha 39,7 milhões em dezembro de 2020, e o Magazine, 33 milhões. O PicPay, no fim de 2020, tinha 28,4 milhões de usuários ativos – hoje são 36,6 milhões.

O comando do PicPay acredita que a base de consumidores que usa o aplicativo para fazer recarga de celular ou buscar voucher de delivery vai acessar a sua loja on-line, e o vendedor, então, ganharia visibilidade automática. “A ideia é dar destaque a essa aba do marketplace no app [aplicativo] e que o cliente faça várias transações por ali, como recargas, compra de uma geladeira ou TV, e mais à frente, possa contratar empréstimo de financeiras ou bancos. É criar uma plataforma aberta e unificada, num super aplicativo”, afirma ele.

Na prática, é o desenho do modelo de marketplace chinês, e que tem sido explorado por varejistas brasileiras de três anos para cá. Grandes marketplaces no país vêm comprando fintechs e startups, o que tem acirrado o cenário de competição no digital.

Foi aberta, desde 2020, após a pandemia, uma disputa pela entrega mais ágil e eficiente, isso melhorou o nível de serviço e levou Amazon e Mercado Livre a abrir centros de distribuição no país.

Para entrar nessa disputa logística, o PicPay teria que avançar sobre um campo bem diferente do seu negócio atual. “Se as redes varejistas precisam de fintechs e startups de tecnologia, para montar seu marketplace, o PicPay já fez uma parte desse caminho. E agora precisa ser identificado como um canal de varejo para que seu usuário gaste dentro da sua plataforma. Mas para isso avançar, focar em logística poderia ser um desvio [na sua rota], e algo bem complexo e custoso”, resume um diretor de uma empresa de entregas.

Para Eduardo Terra, sócio-diretor da BTR Educação e Consultoria, um lojista que busca um marketplace hoje avalia a audiência, logística, tecnologia e navegabilidade e a segurança do sistema, como proteção a fraudes. “O PicPay têm audiência e um sistema seguro, então é possível que, sem logística, eles tragam varejistas e indústrias maiores que façam a própria distribuição e entrega”, afirma.

“A questão é saber se é possível ser competitivo sem ter na sua loja vendedores médios e pequenos, que hoje já contam com a distribuição feita pelas plataformas”. Para consultores, o aplicativo deve adotar postura agressiva, com taxas de comissões menores e algumas facilidades para atrair vendedores para a loja – considerando o poder financeiro do banco controlador – algo que B2W já fez e Via Varejo tem feito recentemente.

Perguntado sobre a hipótese de praticar redução ou isenção de taxa, Plein diz que a empresa “vai investir nisso se for preciso”, incluindo o “cash back” (devolução de uma parte do valor pago) ao consumidor sobre o valor da venda, como incentivo. Varejistas on-line cobram uma taxa de comissão sobre o preço do produto e do frete, que tem variado de 10% a 20%.

Nesse segmento, o concorrente PagSeguro lançou seu marketplace no fim de 2020, após acordo com redes como Fast Shop, Centauro e Cobasi. O cliente acessa a aba “shopping” e é direcionado ao site da loja parceira, com possibilidade de receber “cash back”. O PicPay também tem contactado grandes redes varejistas para abertura de lojas em sua plataforma.

Desde 2019, Plein diz que o volume de transações pelo PicPay cresceu nove vezes, e reforça que a empresa tem quase 80 parceiros no marketplace oferecendo serviços (voucher, recargas, cursos).

O PicPay viu as transações pela sua plataforma dispararem após a chegada da covid-19, com ajuda de altos investimentos em inserções publicitárias e ações em redes sociais. O total de usuários mais que dobrou, de menos de 20 milhões há um ano para os atuais 50 milhões.

A empresa teve prejuízo de R$ 275,5 milhões em 2020, pouco mais de três vezes superior à perda de 2019 – a empresa já acumula prejuízos de R$ 471 milhões. Em 2020, a receita com prestação de serviços subiu 174%, para R$ 250 milhões.

O PicPay foi fundado por um grupo de sócios em 2012 e acabou adquirido em 2015 pelo banco Original, que segundo acordo de acionistas, é o controlador da empresa. O maior sócio do Pic Pay é José Batista Sobrinho, patriarca da família Batista, que organiza seus negócios a partir da holding J&F.

Fonte Valor Econômico
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