Orgânicos pedem e ganham espaço nos supermercados

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Por Adriana Bruno

A onda dos orgânicos veio para ficar. Se até a pouco tempo o acesso a alimentos orgânicos se dava apenas em feiras específicas ou através de pequenos produtores hoje esses produtos estão mais acessíveis e já podem ser encontrados em grandes redes como Pão de Açúcar e Carrefour.

Segundo o Organis – Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Saudável, o crescimento do mercado de orgânicos no Brasil é irreversível, mas ainda falta muito para se consolidar. “Nossa fatia do mercado mundial é de cerca de 1%. O lugar onde mais se comercializa orgânicos é nos Estados Unidos, responsável pela metade do faturamento mundial, que é de cerca de 100 bilhões de dólares. Em nosso país, segundo revelou a nossa pesquisa de consumo de orgânicos realizada em 2017, 15% dos consumidores brasileiros consomem orgânicos. Mas estimamos que este mercado está crescendo cerca de 20% ao ano”, conta Cobi Cruz, diretor do Organis. Para ele, o crescimento dos orgânicos no Brasil sempre foi obra do esforço e do engajamento de produtores conscientes, comprometidos com as causas ambientais e com adoção de práticas sustentáveis. “Mas agora, parece que há um cenário muito favorável se formando. De um lado, temos um número cada vez maior de consumidores conscientes, preocupados com a saúde e com a preservação do meio ambiente. Do outro lado, temos as empresas que estão acordando para o fato de que, ingressando no mercado de orgânicos, podem agregar muito mais valor às suas marcas e conquistar novos clientes”, avalia Cruz.

Cobi Cruz, diretor do Organis

Ainda segundo Cruz, o maior número de consumidores está na região sul, que consomem orgânicos motivados pelos benefícios à saúde que eles oferecem. Consomem mais frutas, legumes e verduras, e adotam um estilo de vida mais saudável. Também reconhecem os benefícios dos orgânicos para o meio ambiente. “O supermercado é o local mais comum para a compra de orgânicos, mas as feiras também atendem uma parcela importante desse mercado”, afirma.

Mudança de comportamento

Com a ampliação do acesso à informação e a busca por um estilo de vida mais saudável, as pessoas passaram a se interessar e procurar mais por alimentos orgânicos. “É perceptível um perfil crescente de consumidores que buscam alimentos com menor impacto socioambiental, mais saudáveis e mais sustentáveis, que é o caso dos orgânicos, principalmente frutas, verduras e legumes, que não utilizam agrotóxicos, nem transgênicos, respeitam a sazonalidade, além de também considerarem aspectos sociais em sua produção”, comenta Susy Midori Yoshimura, Diretora de Sustentabilidade do Pão de Açúcar. Segundo ela, no Pão de Açúcar a demanda vem crescendo tanto na categoria específica de orgânicos, como na categoria de saudáveis como um todo. “Merece destaque de crescimento frutas, legumes e categoria líquida (vinhos, chás e água de coco). Hoje temos em média mais de 600 produtos orgânicos em loja, nas mais diversas categorias (frutas, verduras, legumes, mercearia, laticínios, vinhos etc.). Investimos também em comunicação aos clientes no ponto de venda e nas redes sociais com explicações sobre a categoria, além de dicas e receitas”, releva Susy.

Susy Midori Yoshimura, Diretora de Sustentabilidade do Pão de Açúcar

A rede Pão de Açúcar foi pioneira no Brasil na venda de orgânicos no grande varejo. “Os primeiros itens dessa categoria chegaram às nossas gondolas há mais de 20 anos. Hoje o segmento está consolidado na rede, que é referência no assunto com 100% das lojas dispondo de orgânicos, inclusive com uma marca própria (Taeq), que possui uma grande variedade de itens orgânicos em seu sortimento”, conta Susy. Ele ainda destaca que desde o início de 2018, a rede está implementando, também, gradualmente o projeto ‘Espaço Saudável’ em suas lojas, reformulando a exposição das categorias com a criação de uma seção exclusiva para as linhas de produtos mais saudáveis e sustentáveis. “A seção está presente em 20 lojas da nova geração do Pão de Açúcar e agrupa os itens em quatro categorias: orgânicos, naturais, free from (englobando produtos sem açúcar, sem lactose e sem glúten) e funcionais, voltado a alimentos com alto benefícios à saúde além de suas funções nutricionais básicas”, diz.

Com o projeto, o Pão de Açúcar registrou crescimento de 20% em vendas dessas categorias nas lojas onde o ‘Espaço Saudável’ já foi implantado, ante o ano anterior ao projeto, e mais de 500 novos produtos dessas categorias foram adicionados ao sortimento. Para este ano, o projeto deverá chegar a 30 unidades do Pão de Açúcar até dezembro.

Stéphane Engelhard, VP de Relações Institucionais do Grupo Carrefour Brasil.

Também alinhado a essa mudança na cesta de compras do consumidor, o Carrefour, por meio do movimento Act For Food, pretende duplicar até 2020 a participação de orgânicos no total de produtos frescos vendidos em relação a 2017 e expandir a nova seção de produtos ‘Saudáveis’, que facilita a escolha desses itens (orgânicos, integrais, sem antibiótico e para dietas restritivas), para todos os hipermercados e supermercados do país em 2019.
“Atualmente, a rede comercializa mais de 1.500 itens (SKUs) orgânicos em todas as suas lojas físicas e e-commerce, sendo cerca de 1.000 alimentos frescos. Dentre as marcas próprias da rede, a linha Viver, que reúne produtos para pessoas adeptas de uma vida saudável ou uma dieta restritiva a preços competitivos para a categoria, também oferece itens orgânicos, cerca de 120 itens (SKUs), incluindo frutas, verduras e legumes, além de geleias orgânicas”, revela Stéphane Engelhard, vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Carrefour Brasil. Segundo o executivo, de maneira geral, os itens orgânicos mais procurados são frutas, verduras, legumes e ovos, porém é crescente a demanda do consumidor brasileiro por outros produtos orgânicos, frescos ou não.

Até o fim de 2019 o Grupo Carrefour quer estar com 100% das lojas com espaço dedicado a produtos Saudáveis, hoje já implementado em 44 hipermercados. Além disso, o Grupo também busca ampliar parcerias com produtores locais, a fim de reduzir distâncias para as lojas e tempo até chegarem às gôndolas (menos de 24 horas), garantir o frescor dos produtos e reduzir perdas provocadas principalmente por manuseio e transporte.

Do campo para o código de barras
Nilson Gasconi, executivo de Desenvolvimento Setorial da GS1

Que o alimento orgânico é mais saudável ninguém duvida mas para que o consumidor tenha total segurança na compra do produto também é preciso que os varejistas estejam atentos à rastreabilidade desses alimentos. Para Nilson Gasconi, executivo de Desenvolvimento Setorial da Associação Brasileira de Automação-GS1, o principal objetivo da rastreabilidade é estabelecer a segurança dos alimentos e o controle de qualidade dos produtos. “Seja no segmento de produtos orgânicos ou não, o consumidor tem o direito de saber tudo o que está colocando na mesa”, afirma. Segundo ele, a rastreabilidade fornece informações como nome comum da espécie vegetal e a variedade, quando houver, nome do produtor primário (preferencialmente), ou do distribuidor (no caso de lote consolidado), município e estado de origem quando nacional, e o país, caso o produto seja importado. “Além disso, e muito importante, é o benefício de facilitar a retirada de produtos do mercado em caso de qualquer eventualidade. Ter a competência de recolher os lotes de produtos em curto prazo, antes que os consumidores sejam afetados, é o objetivo maior de um serviço bem prestado e da conquista de confiança”, diz Gasconi.

Ele ainda destaca que a padronização de dados dos bens alimentares na cadeia de suprimentos se torna cada vez mais necessária e que movimento do varejo na proteção do consumidor e na segurança dos alimentos é uma preocupação no Brasil. De acordo com Gasconi o Carrefour é um exemplo significativo. O supermercado participa do Programa de Rastreabilidade e Monitoramento de Alimentos (RAMA), implantado pela Associação Brasileira de Supermercados para orientar os supermercadistas sobre uso e controle de defensivos agrícolas em frutas, legumes e verduras (FLV). “Os padrões de identificação GS1 contribuem muito para o sucesso desse programa. Outro exemplo de preocupação com a rastreabilidade de alimentos é o Supermercados Pinheiro”, comenta. O grupo cearense atua no mercado desde 1979 com 11 lojas e um centro de distribuição para controle e gestão utilizando os padrões GS1 para inserção data de validade e lote nas etiquetas dos alimentos frescos embalados. “Esse trabalho envolve produtores de FLV (donos de marcas) para correta identificação. Ultimamente, o Pinheiro Supermercado implantou o padrão GS1 Databar para identificar FLV”, revela Gasconi.

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