Como será o varejo em 2026?

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Por Juan Pablo D. Boeira, CDO – Chief Digital Officer – Innovation Center, mestre e doutorando em Design Estratégico e Inovação pela UNISINOS e professor de Inovação e Tópicos Avançados de Marketing na UNISINOS, ESPM e PUCRS.

Como você compra suas coisas atualmente? Você entra no seu carro e sai fazendo pedidos para um assistente virtual ou ainda “digita com os dedos” em seu smartphone para comprar algo?

Desde o ano passado, o comércio eletrônico aumentou 14%, enquanto as vendas de tijolo e argamassa caíram 3,5% no mesmo período. O varejo, e principalmente os shoppings centers, precisam entrar imediatamente na economia da experiência. Na próxima década, a personalização impulsionada pela AI (Inteligência Artificial), as interfaces AR (Realidade Aumentada) / VR (Realidade Virtual) e os ambientes inteligentes orientados a sensores, transformarão o “shopping center” atual em uma plataforma invisível e crescente para educação, entretenimento e novos modelos de negócios que nunca imaginamos.

Como exemplo disso tudo, vamos imaginar o seguinte. É março de 2026, um dia frio e chuvoso em Boston. Você saiu para almoçar com seus amigos, mas esqueceu seu casaco. No trajeto para o centro da cidade, em seu Uber Autônomo, uma rápida pesquisa on-line revela uma loja que vende aquelas novas jaquetas de couro veganas ecológicas de que você já ouviu falar tanto – um couro produzido a partir de células-tronco, sem vacas prejudicadas pelo caminho.

Você clica no botão “interessado” na tela, desliza o telefone de volta no bolso e esquece do assunto. A AI da loja faz interface com a AI do seu telefone e redireciona automaticamente seu Uber sem motorista. Você chega do lado de fora de uma daquelas lojas de varejo de artesanato, que ainda empregam humanos de verdade. Uma mulher chamada Lagertha encontra você na porta, segurando o casaco de couro vegano que você selecionou. A jaqueta se encaixa perfeitamente – o que não é uma surpresa. Há alguns meses, você usou um app do seu telefone para mapear seu corpo com precisão. Além disso, a maioria dos sapatos têm sensores de peso; portanto, à medida que você caminha, o mapa corporal se ajusta automaticamente.

Também não é necessário esperar na fila para pagar pelo item. Uma variedade de câmeras e sensores rastreia você e a jaqueta; assim, quando você sai pela porta, o preço é deduzido instantaneamente da sua carteira virtual – ou de criptomoedas. Como esses sensores sabem que esta é sua primeira vez na loja, eles tentam seduzi-lo a uma segunda rodada de compras, enviando uma mensagem de texto com um cupom digital que reduzirá 25% da sua próxima compra.

Enquanto a transação é concluída, os sensores embutidos no rack onde sua jaqueta estava pendurada, alertam a AI da loja. Instantaneamente, a AI pede outra jaqueta ao fabricante e envia uma mensagem para um funcionário para reabastecer o rack que agora está vazio.

Mas você não era o único que estava de olho no produto. Por acaso, esta é a terceira jaqueta vegana de couro vendida em dois dias. O sistema de controle de estoque, por sua vez, identifica o padrão e ordena algumas jaquetas de backup em tamanhos populares, notificando a AI de marketing da empresa para acompanhar a tendência.

O que é notável é que o cenário acima não permanece tão distante. De fato, requer pouco além do impacto cada vez maior da IoT (Internet das Coisas) em nosso mundo, uma vez que crescerá em importância quase automaticamente à medida que mais e mais dispositivos se conectam à internet.

Até 2025, de acordo com uma pesquisa realizada pela McKinsey, a IoT deverá ter um impacto potencial no valor de varejo entre US$ 410 bilhões e US$ 1,2 trilhão. Mas o melhor é que a maior parte dessa tecnologia já chegou.

O checkout automático, que libera os clientes da labuta de espera, já está disponível. A Amazon, por exemplo, apresentou o conceito aos americanos em janeiro de 2018, quando sua loja Go inicial foi aberta para negócios em Seattle.

Ao entrar na loja, os visitantes escaneiam QR codes com o telefone e a AI faz o resto. As câmeras rastreiam o movimento do cliente pelos corredores e os sensores embutidos nas prateleiras fazem o mesmo com os produtos da loja. Basta pegar o que quiser, colocar na mochila e voltar para casa. Ao sair, os custos são cobrados automaticamente em sua conta da Amazon.

Mais uma vez, trata-se de compras sem atritos. As longas filas destroem as experiências de compra. E caixas custam dinheiro. A McKinsey estima que o check-out automático economizará de US$ 150 a US$ 380 bilhões por ano até 2025 aos varejistas.

É por isso que a Amazon não é a única empresa que busca esse futuro sem caixa. A startup v7labs, sediada em São Francisco, por exemplo, ajuda qualquer loja de varejo a fazer essa mesma transição, enquanto as lojas Hema da Alibaba sem caixa, foram testadas na China dois anos antes da Amazon.

Pesquise também as startups AiFi e Grabango. Ambas desenvolveram sistemas autônomos para grandes varejistas em concorrência com empresas como a Amazon. A tecnologia de prateleira inteligente já está empregando etiquetas RFID (identificação por radiofrequência) e sensores de peso para detectar quando um item foi removido. A inovação impede o roubo, automatiza o reabastecimento e garante que o estoque esteja sempre no lugar certo.

Muito em breve, as prateleiras inteligentes serão aprimoradas pela AI e serão capazes de conversar com os clientes tirando qualquer dúvida sobre produtos. Bastará “perguntar para a prateleira”.

Mas a maior mudança no varejo será em relação à eficiência no gerenciamento da cadeia de suprimentos. Em 2015, um estudo da Cisco descobriu que as soluções de IoT terão um impacto de mais de US$ 1,9 trilhão no setor de cadeia de suprimentos e logística, e por boas razões. A AI poderá detectar padrões nos dados que os humanos não conseguem. Isso significa que todos os elos da cadeia de suprimentos – níveis de estoque, qualidade do fornecedor, previsão de demanda, planejamento de produção, gerenciamento de transporte e muito mais – serão revolucionados, e rápido.

Contudo, o varejo físico deve ser repensado para permanecer vivo. As AIs pessoais atrairão novos clientes, preenchendo lojas equipadas com espelhos virtuais, roupas pré-adaptadas para nos encaixar perfeitamente e “caixas sem caixa”.

Enquanto isso, uma convergência explosiva de sensores e impressões 3D agregarão ainda mais valor à experiência pessoal, pois as digitalizações corporais ultrarrápidas permitirão que as impressoras 3D criem produtos perfeitos, no local e com zero desperdício.

Prepare-se para uma economia de experiência futura em que o tempo será o recurso mais valioso e o varejo se tornará muito mais do que aquilo que você compra. Ou seu varejo fará poeira, ou comerá poeira muito em breve!

Fonte Época Negócios
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