Bom por enquanto, mas e depois?

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Por Prof. Dr. Claudio Felisoni de Angelo, presidente do IBEVAR

Os dados do varejo mostram que o consumo vem se recuperando. Pelo menos é essa a história contada pelos números do IBGE. Eles mostram o desempenho do varejo tanto medido de forma concisa, isto é, excluindo automóveis e material de construção, como também no que se chama varejo ampliado, onde essas duas categorias estão também presentes.

Esse resultado é, sem dúvida, importante. Revela basicamente a efetividade da ação contra – cíclica representada pelo auxílio emergencial, que atinge a cifra de mais de R$ 300 bilhões. Esse número global, mais de 4% do PIB, entretanto, não dá uma visão mais concreta da extensão dessa medida. O auxílio emergencial atingiu quase 68 milhões de pessoas, ou seja, mais de 30% dos brasileiros e chegou a 40% das residências.

Foi, sem dúvida, uma injeção nunca vista, porém absolutamente necessária. Com isso o déficit público calculado para 2021 é de R$ 188 bilhões em números redondos. Apesar do tamanho do rombo, o número pode ser considerado uma boa notícia. Sim, porque não fosse a recuperação estimava-se que as receitas seriam menores que as despesas em nada menos que R$ 286 bilhões. Ou seja, o dito rombo seria mais de 50% maior do que o atualmente estimado.

Por paradoxal que pareça essa é a parte boa. Se associarmos o País a imagem de um barco, podemos dizer que a referida embarcação apresenta sérias avarias. Fendas abertas no casco, desemprego e inflação, desestabilizam a nave. Os tripulantes bastante desorientados, correm de um lado e de outro aturdidos procurando ver se conseguem divisar algum porto razoavelmente seguro. Enquanto se movimentam, os responsáveis na torre de comando se digladiam. Disputam quem herdará o timão. O timão de um barco muito fragilizado.

No que se refere ao consumo, em que pese, a recuperação apontada, o cenário é evidentemente preocupante.  Desemprego e renda real ameaçam fortemente o desempenho das vendas. Obviamente, o desemprego não só freia as compras por parte daqueles alijados dos seus proventos, como também comunica insegurança mesmo para os que mantem o trabalho. A taxa de desemprego medida pelo IBGE chegou a 14,6% da população, o que significa que mais de 14 milhões de pessoas estão fora do mercado de trabalho.

Claudio Felisoni de Angelo, presidente do IBEVAR

Para tornar o quadro mais delicado temos a aceleração da inflação. Com a divulgação da inflação de agosto, medida pelo IPCA, 0,87%, o acumulado nos últimos doze meses, 9,68%, registra uma elevação dos preços de quase 10%. A inflação é como se fosse um imposto. Sim porque se a moeda desvaloriza nossa renda é menor. Com uma menor renda podemos comprar menos. É o mesmo efeito de um imposto. Entretanto, a inflação é também um imposto terrivelmente regressivo. O que é isso? Onera mais quem ganha menos. Sim porque quem ganha menos não consegue se proteger tão bem do aumento dos preços. Em palavras mais simples: “o gerente do banco é menos atencioso com quem ganha menos”. Portanto, além do desemprego elevado que trava o consumo, a inflação alta é outro fator que obriga as famílias a pisar no freio das compras ainda com mais força.

 

 

 

 

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