Redes de restaurantes americanas apostam no Brasil mesmo com crise

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Ansiosas por aumentar sua participação no maior mercado de restaurantes da América do Sul, muitas redes americanas estão se expandindo no Brasil, apesar do enfraquecimento da economia do país.

Subway, Dunkin’ Donuts, Hooters, McDonald’s, Johnny Rockets, Sbarro, Outback e Domino’s Pizza estão entre as cadeias abrindo novas unidades no país, em meio à queda nos gastos dos consumidores e o que está se tornando a primeira contração da economia brasileira desde 2009.

Apostando em dias melhores, as empresas americanas estão se beneficiando do mercado em queda para atrair novos franqueados, obter descontos em aluguéis e se expandir enquanto muitos operadores locais estão se retraindo. O atrativo: uma classe média estimada em mais de 100 milhões de pessoas, muitas das quais adoram comer fora e têm afinidade com marcas dos Estados Unidos.

As dificuldades econômicas no Brasil “tornam [a empreitada] mais desafiadora, mas é também uma oportunidade”, diz Patrick Murtha, diretor-superintendente da divisão internacional da Bloomin’ Brands Inc., que é sediada na Flórida e opera a rede de churrascarias Outback no Brasil. “A economia brasileira vai melhorar e nós ficaremos em posição de tirar vantagem disso.”

Em 2015, o Outback planeja abrir doze estabelecimentos no Brasil, mais que em outros mercados extrangeiros. A Bloomin’ Brands atualmente tem 64 Outbacks e um restaurante Abbraccio Cucina Italina no Brasil, todos de propriedade da empresa, que representam cerca de 35% de sua presença internacional.

Vendas expressivas em sua unidade do Outback ajudaram a Bloomin’ Brands a registrar um lucro de US$ 32,2 milhões no segundo trimeste, 22% acima do obtido há um ano.

Vender carne no Brasil, um dos maiores produtores de carne bovina do mundo, pode parecer redundante. Mas os brasileiros desenvolveram um gosto por redes americanas de restaurantes, em parte porque viajam cada vez mais para a América do Norte. Os EUA são o principal destino internacional dos brasileiros, sendo que cerca de 2,3 milhões de pessoas visitaram o país em 2014, mais de três vezes o total de 2007, segundo dados do governo americano.

Elisama Lorenzo, 42 anos, diz que seus filhos gostam da sensação de novidade e distinção que dá comer em lugares de estilo americano. Eles recentemente foram comer hambúrgueres na nova unidade do Johnny Rockets em um shopping de São Paulo, onde a espera no almoço pode chegar a uma hora ou mais. “Venho a lugares americanos porque minhas filhas insistem”, diz.

Ainda assim, é preciso mais que um nome americano para fazer sucesso no exterior, diz Charles Bruce, diretor-presidente do Johnny Rockets Group Inc. De propriedade da empresa de private equity Sun Capital Management, a rede opera em 27 mercados internacionais, onde estão cerca de 40% de suas 340 unidades. A franquia brasileira têm hoje nove lojas, com mais três planejadas para este ano.

Bruce diz que o Johnny Rockets procura por fraqueados com experiência no varejo, perspicácia imobiliária e dinheiro para abrir várias unidades, que podem custar entre US$ 500 mil a US$ 750 mil cada. Tais operadores tendem a ter os recursos para resistir a crises econômicas.

Também pode haver vantagens em abrir um negócio durante tempos difíceis, como esses que assombram o Brasil agora, um mercado conhecido por seu alto custo e burocracia. Os imóveis, uma das maiores despesas, tornaram-se mais acessíveis. Além disso, o aumento do desemprego facilitou a contratação de funcionários qualificados.

O número de redes de alimentação franqueadas operando na maior economia da América Latina quase dobrou entre 2009 e o fim de 2014, para um total de 685, segundo a Associação Brasileira de Franchising. A associação não forneceu uma divisão por país de origem, mas confirmou que a presença das marcas americanas está crescendo.

O Papa John’s International Inc. estava entre as redes americanas tentando recrutar operadores em uma recente feira de franquias em São Paulo. A rede de pizzarias do Estado de Kentucky já possui unidades no Chile e na Colômbia. Agora, procura entrar no maior mercado da América do Sul, onde a pizza há muito faz parte da cultura, graças à imigração italiana.

“O Brasil é o próximo passo lógico para nós”, diz Michael Measells, diretor de desenvolvimento internacional de negócios do Papa John’s.

Mesmo assim, um mercado grande não é garantia de sucesso. A Arcos Dorados HoldingsInc., que opera mais de 2.100 restaurantes do McDonald’s na América Latina e Caribe, tem sofrido com a desvalorização da moeda e a redução de clientes no Brasil, país responsável por cerca de metade de suas vendas. A empresa, que tem sede em Buenos Aires, registrou lucro de US$ 7 milhões no segundo trimestre, depois de ter sofrido prejuízos no mesmo período de 2014 e no primeiro trimestre desde ano. A receita do segundo trimestre de sua unidade brasileira caiu 24%, afetada em parte pela desvalorização do real.

Em 2005, a Dunkin’ Brands Group Inc. fechou suas lojas de “doughnuts”, a clássica rosca americana, no Brasil devido a problemas com seu modelo de franquia e uma fraca infraestrutura de fornecimento, informaram executivos da empresa.

A rede voltou este ano com um plano ambicioso de abrir 150 lojas nos próximos anos. Ela reformulou seu modelo de franquia e de fornecimento e ajustou o cardápio ao gosto brasileiro.

Sua primeira loja em Brasília tem atraído filas de consumidores desde a inauguração, em maio. Daiana Kmiecik, de 27 anos, uma assessora do Congresso, enfrentava a fila numa tarde recente. “É minha terceira vez aqui, mas eles ficaram sem doughnuts das outras duas vezes”, diz. “Acho que vou comprar uma caixa com uma dúzia.”

Fonte: The Wall Street Journal

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