“Os CEOs precisam olhar para o blockchain como um todo”

0 4.447

Os executivos não têm mais a desculpa de não atuarem no setor de tecnologia de suas empresas para não entenderem os conceitos e oportunidades criadas pelo blockchain. “Essa é a tecnologia que vai permear todas as próximas inovações, é por onde o valor vai ser transmitido pela internet”, defende Carl Amorim, executivo do Blockchain Research Institute (BRI) no Brasil. O instituto, de origem canadense, tem como objetivo desenvolver conhecimento, tecnologia e negócios em torno do blockchain.

A tecnologia, em que vários dados e informações são encadeadas e verificadas por uma rede distribuída, vai afetar as empresas como um todo, desde a estratégia, marketing, tecnologia, recursos humanos, supply chain até o jurídico. “O executivo estratégico (CEO) tem que ver isso como um todo, não dá mais para passar tudo para o CTO (diretor de tecnologia)”, diz Amorim. Segundo os estudos do BRI, o blockchain vai afetar a indústria, varejo, manufatura, tecnologia, saúde, mídia, governo e energia, além dos serviços financeiros. Este último foi o primeiro setor a ser afetado de forma importante pelo blockchain e pelos ativos digitais.

Carl Amorim
Aplicações

Amorim deu alguns exemplos de como o blockchain pode ser utilizados pelas empresas. O primeiro deles veio a partir de uma experiência pessoal, na tradução e revisão do livro “Blockchain Revolution”, escrito por Don Tapscott. “Não queríamos realizar esse trabalho a partir do modelo tradicional. Como é um livro sobre blockchain, a ideia era usar a mesma lógica, ou seja, fazer o trabalho de forma descentralizada”, conta Amorim.

Foi feita uma chamada pública a quem quisesse colaborar com a tradução e revisão. Com isso, mais de 50 pessoas têm seus nomes no livro. Um sistema contabilizava quantas palavras cada um traduzia ou revisava. Para recompensá-las pelo trabalho, foram distribuídos criptoativos – que se chamam prospera – baseado no sistema da criptomoeda ethereum. Este processo foi, segundo Amorim, o primeiro ICO (inicial coin offer) do Brasil. A receita obtida com a venda do livro, convertida em ethereum, foi distribuída entre quem tem esse criptoativo, que pode ser vendidos no mercado, em troca de outras criptomoedas, como bitcoin. O sistema deu tão certo que dois novos livros estão sendo traduzidos dessa forma.

Outra forma de as empresas usarem a tecnologia do blockchain para melhorar suas operações foi um sistema criado pelo Walmart para lidar com segurança alimentar. Com a cadeia de informações, a rede consegue rastrear os fornecedores e saber para quais lojas foram determinado o lote de um produto.“Se duas pessoas passam mal depois de consumir o mesmo produto, o Walmart consegue identificar qual foi o fornecedor produto e consegue retirar esse produto das prateleiras de todas as lojas até o fim do dia”.

 Atualmente, o BRI está trabalhando na criação de uma cadeia de suprimentos para consumo responsável, garantindo processo de produção sustentável. Usando um código no rótulo ou etiqueta do produto, o consumidor conseguiria rastrear todo o processo de produção e saber, por exemplo, que as matérias primas foram cultivadas em uma propriedade que não usa mão-de-obra infantil. Outros projetos no mundo que usam o blockchain citados por Amorim são o registro de diamantes, ou de uma empresa que utilizou a tecnologia para agilizar o processo de transporte de produtos entre Hong Kong e Roterdam. “Era um processo longo e burocrático, que leva em torno de dez dias, mas com o blockchain, demora segundos ou minutos”, diz.

O BRI tem como membros empresas como IBM, Accenture, SAP, Deloitte, FedEx, Pepsico, além de governos e agências governamentais. No Brasil, os membros incluem IBM, Governo do Estado de São Paulo e Instituto C&A.

Regulação

O fato do blockchain poder ter várias aplicações também implica um problema de regulação que envolve bancos, agências e instituições. “Um criptoativo muitas vezes pode ser moeda, ativo e produto ao mesmo tempo. Podemos ter um criptoativo que equivale a um quilowatt ou a uma cabeça de gado”, diz Amorim. “Se você possui papel de moeda, quem regula tem que ser o BC [Banco Central], se é ativo, é a CVM [Comissão de Valores Imobiliários], e se é produto, no caso do quilowatt, seria a Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica]. Mas hoje, a CVM diz que não é ativo mobiliário, o BC diz que não é moeda e a Aneel nem sabe o que é”, diz Amorim. A questão tem gerado polêmica. Recentemente, a CVM proibiu fundos de investir em criptomoedas, alegando “indefinição e riscos”.

Bolsa de moedas digitais

Uma iniciativa para aplicação do blockchain para empresas no Brasil comemorou uma vitória recentemente. A Bomesp (Bolsa de Moedas Digitais Empresariais de São Paulo) criou um criptoativo chamado Niobium, e recebeu há algumas semanas o entendimento da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de que não se tratava de um valor mobiliário, afastando a competência da instituição para regulamentar o ativo.

A ideia por trás da Bomesp, criada por brasileiros e austríacos, é que uma empresa poderia emitir criptoativos e vendê-los no mercado. “Por exemplo, uma grande rede de supermercados emite 10 milhões de criptoativos, a R$ 1 cada. A empresa se compromete a recomprar parte desses ativos a cada ano nos próximos cinco anos, pagando uma rentabilidade de 10% ao ano. E o cliente também poderia usar essa moeda para fazer suas compras nessa rede de supermercado”, diz Fernando Barrueco, diretor jurídico da Bomesp. As criptomoedas emitidas poderiam ser compradas e vendidas nessa bolsa, trocadas por criptomoedas de outras empresas, ou por bitcoin, ethereum ou ripple, por exemplo.

Fonte Época Negócios
Notícias Relacionadas
Deixe um comentário

Seu endereço de email não será publicado.