O Brasil está longe da 4ª Revolução Industrial

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Por Carlos Arruda, coordenador do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral

O Relatório de Competitividade Digital, divulgado hoje pelo IMD (escola de negócios Suíça) e que no Brasil é realizado em parceria com o Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral, coloca o país na 57ª posição entre os 63 países analisados no relatório de Competitividade Digital. O país caiu duas posições em relação ao ano passado e o estudo expõe necessidades prementes de um Brasil que precisa elevar seu padrão educacional e, ao mesmo tempo, tornar-se uma nação digital competitiva, ativa na 4ª Revolução Industrial, que avance em realidades tecnológicas.

O ranking de competitividade digital reforça a importância de um maior envolvimento das empresas e da sociedade civil na transformação do Brasil em uma nação digital, na qual o desenvolvimento humano e tecnológico faça parte da agenda de todos, não delegando exclusivamente para os governos a responsabilidade de construir as bases para o Brasil do nosso futuro. O contexto clama por um pacto nacional para construir um Brasil digital, relevante no seu sistema educacional e com este protagonista desta transformação.

Uma breve análise dos resultados descortina inúmeros aspectos em relação aos países líderes. Os Estados Unidos ocupam o primeiro lugar, seguidos por Singapura e Suécia. O relatório destaca dez países europeus (Suécia, Dinamarca, Suíça, Finlândia, Holanda, Reino Unido, Áustria, Alemanha e Irlanda) entre os 20 países com melhores condições para produzir e aproveitar as tecnologias digitais e alavancar sua competitividade. Estados Unidos, Canadá, Singapura, Hong Kong, Coreia do Sul e Taiwan, além de Israel, Emirados Árabes, Austrália e Nova Zelândia completam o bloco de países líderes digitais. Entre os grandes países emergentes, os chamados BRICs, o melhor colocado é a China, que aparece apenas na 30ª posição, seguido da Rússia (40ª), Índia (48ª), África do Sul (49ª) e Brasil na (57ª). Entre os países latino americanos, o único destaque é o Chile, que fica no 37º lugar.

Metodologia e pilares

O estudo Competitividade Digital analisa cinquenta variáveis que são agrupadas em três pilares: conhecimento, tecnologia e prontidão futura. Combinando dados estatísticos e a opinião de representantes da comunidade empresarial, são avaliados fatores diversos, tais como a qualidade da educação, a capacidade de geração de conhecimento científico e tecnológico, a infraestrutura de telecomunicações, o ambiente regulatório e financeiro, os instrumentos de incentivo à pesquisa, desenvolvimento e a inovação, assim como as práticas de cooperação entre empresas, academia e governos.

No pilar conhecimento, o Brasil fica na penúltima posição, demonstrando não apenas um baixo nível de inserção tecnológica na educação, mas revelando graves deficiências na qualidade da educação básica e superior. Apesar de ser o 10º país com maiores investimentos públicos em educação (6,2% do PIB em 2016), o país fica apenas no 57º lugar no indicador de percentual de graduandos, com apenas 16,6% da população de 25 a 34 anos com diplomas de nível superior. Entre os alunos cursando o terceiro grau, apenas 15,3% estudam em cursos relacionados às ciências, tecnologias, engenharias e matemática, os chamados STEM. Um percentual muito aquém das necessidades científicas e tecnológicas do país, principalmente quando comparamos com países como Singapura (47%) e Índia (31,7%), e até mesmo com outros países latino americanos como o México, com 27,9%.

No pilar tecnologia, que agrupa variáveis associadas ao ambiente regulatório, a disponibilidade de capital para financiar o desenvolvimento tecnológico e a infraestrutura de telecomunicações, o Brasil tem se mantido na 55ª posição. Marcado pela burocracia e pela complexidade do sistema tributário, ficamos na 59ª posição no conjunto de indicadores que avaliam o ambiente regulatório. Com um sistema financeiro e bancário orientados para financiar o curto prazo, ficamos na 52ª posição na avaliação dos entrevistados sobre a disponibilidade de capital de risco e na 51ª posição na avaliação dos instrumentos disponíveis no setor bancário para financiar os esforços de pesquisa, desenvolvimento e inovação. E, apesar de aparecermos na 39ª posição na avaliação da qualidade dos investimentos em telecomunicações, ficamos apenas na 53ª no indicador de velocidade de banda larga de 6,8 Mbps. O benchmarking neste indicador é a Coreia do Sul, com 28,6Mbps.

Tais fragilidades expostas demonstram que os desafios vividos pelo Brasil apresentam não só as deficiências humanas, institucionais, políticas e econômicas do presente, mas a necessidade de um país que precisa cuidar de sua educação e avançar em realidades tecnológicas trazidas pela digitalização. No terceiro pilar analisado, o relatório procura avaliar a capacidade dos países de explorar as vantagens da transformação digital, seja na geração de novos negócios, seja na melhoria da gestão dos negócios e da administração pública. Ficando na 47ª posição neste pilar, após perder três posições em relação a 2017, o Brasil se destaca positivamente no subfator “atitudes adaptativas”, que avalia o comportamento da sociedade em relação ao uso das tecnologias digitais disponíveis, mas ficamos aquém do nosso potencial no conjunto de variáveis que avaliam o uso e aproveitamento das tecnologias digitais, tanto pelo setor público quanto pelo setor privado. Alguns dos indicadores críticos neste bloco são o baixo nível de segurança digital (54° no estudo) e a cooperação público-privado (59 entre os 63 países pesquisados).

É urgente que o Brasil promova a atualização do seu modelo educacional, incluindo não apenas programas e disciplinas sobre as novas tecnologias digitais, mas também novas competências requeridas para o profissional do futuro. É fundamental que o setor privado, em cooperação com o setor público, assuma seu papel na liderança do esforço e do compromisso de inovar em todos os aspectos. Não faltam no Brasil bons exemplos de empresas inovadoras. O que falta é que estes exemplos se tornem parte de um modelo empresarial dominante e parte de uma cultura de transformação tecnológica e comportamental da nossa sociedade.

Fonte Época Negócios
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