Setor de cervejas é pressionado por mudanças de hábitos de consumo dos brasileiros

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A Capital Research divulgou esta semana um relatório sobre o mercado de cervejas no Brasil. Entre as informações, a casa de análises destaca as mudanças de hábito do brasileiro, influenciadas pela lei seca de 2008 e pela crise econômica de 2014, que levaram à queda do consumo per capta da bebida no país — com pico de mais de 65 litros anuais por pessoa em 2012 e queda para 60 litros em 2017, segundo o Euromonitor. Segundo os analistas da casa, as mudanças dos hábitos de consumo com relação à bebida explicam por que mesmo com a melhora da economia, o incremento das receitas para o setor não é esperado.

Além dos fatores citados, impactam esse mercado a criação de marcas de cervejas artesanais, que crescem, em média, 20% ao ano e oferecem grande variedade de aromas e sabores. Estas novas opções, embora sejam mais caras, caíram no gosto do brasileiro e, conforme o material destaca, impactaram no aumento do consumo da bebida em residências, em detrimento dos bares: “em supermercados e atacarejos, os preços são mais baixos e há maior gama de opções de marcas e sabores. No entanto, as cervejarias têm menores margens de lucro nas vendas para esses canais e concorrem espaços de prateleira com seus concorrentes”, afirma Samuel Torres, analista de investimentos da Capital Research.

Outro fator interessante do setor é que a popularidade da produção de cerveja artesanal chamou a atenção até mesmo do governo, que em outubro de 2019 instalou a Câmara da Cerveja no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, com o objetivo de consolidar os cervejeiros e cervejarias artesanais.

Ações da Ambev podem ser arriscadas

Diante desse cenário, a casa destaca a pressão sofrida pela Ambev para controlar suas margens e não perder market share, hoje em 65%.

“A companhia enfrenta o forte aumento da competição, nos últimos anos, não somente com as cervejarias artesanais, como também com o Grupo Heineken. Vale dizer, ainda, que as margens da gigante estão pressionadas em função do aumento dos custos com matérias-primas, como alumínio e cevada, e do dólar, além de dificuldades de subir os preços para acima da inflação. Por conta desse conjunto de fatores, não recomendamos a compra da ABEV3”, destaca Torres.

Para tentar contornar a situação, a companhia optou por iniciativas como expandir o portfólio de cervejas premium (um dos que mais cresce), investir mais em bebidas não alcoólicas e aplicar tecnologia no negócio. A casa Capital Research, no entanto, não acredita que as medidas serão suficientes. “O acirramento da competição tende a dificultar o aumento de preços, que implica em perda de volume, enquanto a mudança de hábitos de consumo pode fazer com que a empresa tenha que sair um pouco de sua zona de expertise. Assim, em nossa visão, as margens devem continuar pressionadas, sendo possível que caiam ainda mais, caso a Ambev decida abrir mão de preço para tentar recuperar uma parte do mercado”, completa Torres.

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