Itens mais baratos puxam retomada dos eletrodomésticos

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Liquidificadores, fritadeiras e aspiradores de pó verticais estão na linha de frente da retomada das vendas de eletrodomésticos no país. Vêm seguidos de televisores e, bem mais atrás, fogões e lavadoras, segundo varejistas e fabricantes do setor. A recuperação ganhou fôlego no primeiro semestre do ano, acionada pela liberação das contas inativas do FGTS. Com a melhora na economia, a previsão é de um segundo semestre melhor.

— Na crise, as pessoas restringiram e adiaram o consumo de eletrodomésticos. Com a liberação do FGTS, foi possível pagar dívidas e voltar a comprar, priorizando produtos de melhor custo e benefício e que não resultassem em novas dívidas. Os eletroportáteis têm preço médio mais baixo, o que pesa na decisão — explica Rogério Soares, sócio da consultoria Eneas Pestana Associados (EPA).

Foi o segmento de móveis e eletrodomésticos que sustentou o resultado do comércio de janeiro a junho, segundo o IBGE. No período, o varejo encolheu em 0,1%. Mas os móveis e eletrodomésticos ampliaram as vendas em 5,9% no semestre, sobre igual período do ano passado. O crescimento está concentrado, sobretudo, em maio e junho, quando as vendas dos eletrodomésticos subiram 17,3% e 16,9%, respectivamente.

A Eletros, que reúne os fabricantes de eletroeletrônicos no país, registrou aumento de 18,5% nas vendas de eletrodomésticos de janeiro a junho. O segmento de eletroportáteis avançou 23%, e a linha marrom (TVs, som e vídeo), 30,3%. Já a linha branca (fogões, refrigeradores e lavadoras) recuou 2,97%.

— Mas mesmo a linha branca já demonstra recuperação. Caiu 10% em 2016 e, agora, só 3%. As vendas de refrigeradores e lavadoras caíram em 7%, mas as de fogões subiram em 3%. Isso mostra que a linha branca pode encerrar o ano com desempenho positivo — diz Lourival Kiçula, presidente do Eletros.

João Carlos Brega, presidente da Whirlpool para América Latina, dona das marcas Consul e Brastemp, pondera que, para a linha branca, os resultados ainda não são animadores:

— Esperamos que aconteça algum momento, mas não cair (em vendas) também é importante. Como as vendas pararam de cair, então pode haver certo crescimento no fim do ano, embora a melhora significativa deva vir só em 2019.

Busca por praticidade

Brega destaca que há espaço para diversas categorias de eletrodomésticos crescerem:

— Lava-louças, por exemplo, traz uma economia incomparável de água e tem apenas 2% de penetração (nos lares) do país.

Neste segundo semestre, as marcas da Whirlpool terão mais de 50 lançamentos em seis categorias, como a lavadora da Consul que promete economia de até 40% da água e do sabão em pó, além de permitir que a água que seria desperdiçada no processo seja reaproveitada em casa.

O salto nas vendas de eletroportáteis tem a ver com o preço mais acessível dos itens, sublinha Giovanni Marins Cardoso, presidente da Mondial no Brasil:

— O custo médio dos eletroportáteis é de R$ 120. A pessoa pode adiar a compra da lava-roupa, mas consegue adquirir um liquidificador — diz ele, que espera que a Mondial feche 2017 com alta de 26% a 30% nas vendas.

No monitoramento de mercado feito pela Eneas Pestana, eletroportáteis para o preparo de alimentos e limpeza e cuidados do lar venderam 15% e 13% mais, respectivamente.

— As pessoas compram o que cabe no bolso. A indústria inovou, principalmente, em eletroportáteis, para ativar as vendas. Na linha branca, menos, onde a inovação acaba voltada à classe AB, de maior poder aquisitivo, mas que é uma fatia menor do mercado consumidor — diz Sérgio Noia, sócio da EPA.

A Arno, por exemplo, lançou um liquidificador com sistema que facilita a limpeza, separando copo, base e faca.

— O consumidor procura por produtos que unam melhor custo-benefício e uma marca consolidada, que gere segurança — observa Roger Ahlgrimm, gerente de Marketing de Food do Groupe SEB, dono da Arno.

Cardoso, da Mondial, cita a mudança no perfil de consumo:

— Há uma tendência maior de consumo de processadores de alimentos. A crise fez as pessoas deixarem de ir a restaurantes, dispensarem a empregada doméstica, buscando praticidade na hora de cozinhar ou limpar.

A aposentada mineira Cristina Torres, de Belo Horizonte, acompanha a mudança do filho Guilherme para o Rio:

— Comprei uma TV para ele. Agora estou pesquisando preços de itens como liquidificador e batedeira, que são mais fáceis de comprar. Fogão, geladeira e lavadora, ele vai trazer os que já tem.

Demanda reprimida pela crise

A tendência para este segundo semestre é de crescimento, mas lento, já que a incerteza político-econômica persiste, dizem os especialistas. O desligamento do sinal analógico de TV — na Região Metropolitana do Rio, o cronograma prevê a migração completa para o digital até 25 de outubro — impulsionou a venda de televisores, diz a Eletros.

— O consumidor busca tecnologia e se mostra interessado em antecipar a troca de sua TV. No Estado do Rio, em julho, a venda desse produto subiu dois dígitos na comparação com 2016, agosto mostrou a mesma tendência — diz Fabio Catarinozi, diretor regional da Via Varejo, dona de PontoFrio e Casas Bahia.

O varejo vem se adequando para estimular o consumo. Promoções, aposta em canais digitais e outras estratégias impulsionam resultados. A Via Varejo elevou em 10,8% suas vendas no segundo trimestre. A fatia com pagamento à vista chegou a 37,1% do total, ante 27,7% em 2016.

— A modalidade à vista é bem considerada para o consumidor, principalmente no momento da negociação com o vendedor. O parcelamento diferenciado que oferecemos nos cartões próprios os ajudam a ter acesso a crédito e escolher um produto de tíquete mais elevado — diz Catarinozi.

Para o Magazine Luiza, o último trimestre foi o melhor da história da companhia, com lucro de R$ 72 milhões e alta de 26% nas vendas.

— Acreditamos que exista uma demanda de troca de linha branca reprimida pela crise. O consumidor espera condições especiais para efetivar essa troca — pondera Bernardo Pontes, diretor comercial do Magazine Luiza.

Fonte Época Negócios
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