Consumo das famílias crescerá mais rápido que previsto

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A liberação dos recursos do FGTS ajudou, mas a volta do consumo das famílias veio para ficar e é o que deve sustentar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nesta fase inicial da retomada. Movimento que vai aquecer a venda de produtos e serviços, em geral de menor valor agregado, mais rápido do que era esperado no início do ano. A expectativa é de que o nível de consumo das famílias retorne ao patamar de 2014 (último ano de crescimento) até 2019. Parece distante, mas o fato é que ninguém previa a retomada a esse patamar antes de 2020.

“Achávamos que a retomada seria liderada pelos investimentos, mas isso não vai acontecer porque a ociosidade está elevada. O que vamos ver é uma recuperação gradual com os investimentos das famílias à frente. O FGTS ajudou, mas temos de fato um aumento da renda disponível das famílias devido ao recuo da inflação, queda dos juros e uma tendência de alta da confiança (o emprego parou de piorar)”, explica Rodolfo Margato, economista do banco Santander.

O resultado é que as empresas dos segmentos mais beneficiados nesse processo são estimuladas a adotar estratégias mais pró-ativas: abertura de lojas, novos turnos de produção nas indústrias voltadas a bens de consumo e contratações são algumas das ações que devem ficar mais evidentes até o fim do ano e, principalmente, no ano que vem.

O Santander projeta crescimento de 0,8% no consumo das famílias neste ano, acima da previsão para a expansão do PIB, de 0,7%. Para o ano que vem, a previsão é de que o consumo cresça 3,5% — número que não repõe o tombo de 8% acumulado entre 2015 e 2016.

Para Igor Velecico, economista do Bradesco, o medo do desemprego fez o consumidor se retrair muito a partir do final de 2015. “Isso é positivo porque o consumo voltando mostra aos empresários que as coisas não estão tão ruins e de fato estamos saindo da recessão. A dúvida é o ritmo dessa retomada”, diz o economista.

Vestuário e calçados já se recuperam

A recuperação do varejo já começou a aparecer nos segmentos que comercializam bens de menor valor. Dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que no ano, até julho, as vendas do segmento de calçados e vestuário crescem 7,1% ao ano, enquanto o comércio de uma forma geral cresce apenas 1,1%.

Crescimento similar registra itens de eletrodomésticos, que avançam 7,2% no ano. Vislumbrando a disseminação desse movimento, Magazine Luiza e a Farmais, por exemplo, já anunciaram planos de abertura de novas lojas. Essa é uma das formas de conquistar parte dessa demanda de consumo reprimida.

O cenário é impulsionado pelo segmento de eletroeletrônicos, que se beneficiou da liberação das contas inativas FGTS e do desligamento do sinal analógico em algumas regiões. No entanto, já há sinais de melhora em outros segmentos, como os produtos de linha branca, que engloba geladeiras e fogões

Aposta na demanda reprimida

Sergei Epof, diretor de marketing da Panasonic no Brasil, afirma que a empresa conseguiu manter o crescimento nos últimos anos — em parte, pela saída de concorrentes que tiveram que fechar as portas. No entanto, reconhece que há a consolidação de uma retomada da demanda neste ano.

“Os consumidores conseguiram saldar algumas dívidas com os recursos do FGTS . Dessa forma, voltaram a consumir. Neste ano, em julho, abrimos um segundo turno na fábrica de Extrema (MG)”, disse.

Uma das razões para esse otimismo está relacionado ao tombo no setor. Ou seja, depois da queda, a tendência é melhorar. Em televisões, por exemplo, as vendas saíram de um patamar de 12 milhões de unidades ao ano para 8 milhões. Outras categorias tiveram redução similar.

“A crise causou um grande represamento no consumo e isso vai voltar. O país tem um grande potencial. O mais importante para este ano é que parou de cair e agora já vemos o crescimento em algumas linhas”, afirmou.

Raphael Galante, economista da Oikonomia Consultoria, lembra que, com a queda dos juros, o crédito está voltando, o que também ajuda o consumidor a tomar decisões de compras, mas alguns setores, que exigem desembolsos maiores das famílias e que não são considerados essenciais, devem demorar um pouco mais a reagir.

“O brasileiro se apertou porque passou a ganhar menos, o PIB per capita caiu. Agora que ele vê uma melhora, o racional é fazer primeiro o que é mais urgente, como o convênio de saúde ou colocar o filho de volta na escola particular. Itens de maior valor, como a venda de veículos, vão crescer em uma velocidade menor”, avaliou.

Fonte Agência Brasil
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