Revelar o voto no ambiente de trabalho pode afetar a sua carreira?

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A pouco mais de uma semana das eleições, o clima está ficando cada vez mais árido. A tensão tomou conta das redes sociais. As polarizações políticas se acirraram e as pessoas defendem partidos e/ou candidatos avidamente, cada um com suas razões, argumentos e convicções sobre o que seria, em suas visões, um Brasil melhor. O problema é que junto com isso, intolerância, agressão verbal e comportamento violento acabaram ganhando espaço. Os sentimentos e emoções à flor da pele ultrapassam, por vezes, a racionalidade e o respeito. Em um momento delicado, especialistas dizem como lidar com opiniões divergentes e se revelar o voto no ambiente de trabalho pode atrapalhar a carreira.

Os quatro especialistas consultados pela Época Negócios afirmam que a liberdade para opinar varia conforme o ambiente de trabalho. É preciso levar em conta se a empresa dá margem para debates, se é um local mais rígido, se existe mais flexibilidade e pluralidade de ideias, como são as pessoas que trabalham com você e, inclusive, como você reage com opiniões diferentes. “Desenvolver relacionamentos é ter a inteligência de interagir com pessoas e isso requer habilidades comportamentais”, afirma Andrea Tedesco, mentora de carreiras da Digital House. Ela reitera que todo assunto político tem uma propensão a gerar conflitos. “Caso o profissional tenha verdadeiramente o interesse em se manter empregado, na minha opinião, ele deveria tomar cuidado sobre onde e como revelar o seu voto”, afirma.

Coach de carreiras e professora da Fundação Getulio Vargas, Ana Pliopas diz que zelar por um clima tranquilo é atribuição do chefe. “A liderança dita o tom. Eu acho que se você percebe que o clima está ficando tenso e que as pessoas estão se enfrentando, o líder tem que ter a habilidade de contornar a situação”, diz Ana. Uma alternativa sugerida pela especialista é valorizar o diálogo aberto, respeitando o momento de escutar o outro. “Assim, esses antagonismos podem servir para um acolhimento de diferentes perspectivas”.

Caso não haja espaço para essa pluralidade de ideias e opiniões, a recomendação é ponderar se vale mesmo a pena comprar batalhas. “A gente fala tanto em inclusão escolar, ser receptivo com os estrangeiros, mas quando isso é colocado dentro do trabalho, parece um desafio”, diz Christian Dunker, psicanalista e professor da USP. “Ao discutir política, você está indiretamente anunciando, para quem está acima ou abaixo do seu cargo, como você lida com diferenças”, completa.

Dunker diz que a maneira como a pessoa lida com divergências de posicionamento político diz muito sobre a sua personalidade, mas diz mais ainda sobre como esse indivíduo encara relações de poder. A forma como você entende a liderança se reflete na maneira como você discute política, diz o psicanalista. “A sua opinião sobre algo revela a sua imagem, portanto cuide disso com carinho”, diz Andrea.

A decisão de expressar a sua visão política ou de revelar o voto é única e exclusivamente do indivíduo. “Isso é um assunto de foro pessoal e que ninguém deveria ser obrigado a revelar o seu voto”, reitera Dunker.

No entanto, quando essas opiniões são expressadas, elas tornam-se instrumentos para o bem ou para o mal, especialmente quando ditas nas redes sociais. Engana-se quem acredita que o que é dito na internet não é visto pelos recrutadores e/ou chefes. “O cuidado deve ser redobrado”, alerta Andrea. Não se dissocia mais a imagem das redes e do trabalho, como se você pudesse se dividir em dois distintos personagens. Você é uma pessoa só. “As redes sociais são uma extensão da realidade de trabalho, de convivência social. É um elemento caracterizador da sua personalidade”, diz Antônio Euzébios Filho, professor de psicologia social da USP.

O que é escrito nas redes dá margem para inúmeras interpretações e, consequentemente, congrega os valores que você carrega consigo mesmo. Uma empresa costuma zelar por sua imagem. Ter um funcionário que destoa totalmente de seus propósitos e que não respira a sua cultura pode ser um problema. Mas Dunker diz que não é necessário a pessoa se reprimir demais. “Você só se limita se considerar isso a incorporação de uma etiqueta, como um código que vem de fora para dentro”, afirma. “Se você olha pra a questão dessa maneira, você também está dizendo como você entende a sua relação com o poder”, completa Dunker.

Mas não é preciso abdicar das suas relações virtuais por causa do trabalho. Andrea reforça que é possível utilizar toda essa tecnologia em prol dos seus objetivos. “Usar a tecnologia à seu favor é ter consciência exata da imagem que deseja mostrar e do poder do seu produto (você). Portanto, clareza, consciência e estratégia são fundamentais para utilizar a tecnologia, que passa a ser uma grande aliada de comunicação de desenvolvimento e sucesso profissional”.

Fonte Época Negócios
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