Por que trabalhar 30 horas por semana é uma realidade próxima

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Recentes estudos mostram que grande parte dos millenials não quer passar horas e horas trabalhando e que prezam pelo tempo que passam fora do trabalho como forma, também, de progredir profissionalmente. Estudo da Deloitte recente com profissionais de 29 países (incluindo o Brasil) mostrou que os jovens consideram “equilíbrio entre trabalho e vida pessoal” mais importante que progredir na carreira. Trabalho com horário flexível também foi apontado com um dos objetivos de carreira, à frente de treinamento oferecido pela empresa ou possíveis oportunidades de viagens internacionais. Eles querem chegar em casa logo – seja para cuidar dos filhos, para jogar Nintendo ou para praticar ioga.

Se a exigência pode causar arrepios em certos recrutadores, chefes ou empresas, já uma demanda que vem se tornando realidade em alguns países. Artigo publicado na edição impressa de fevereiro do Financial Times discorre sobre a tendência e cita particularmente o caso da Alemanha. Segundo a análise, “com a economia mundial crescendo desde 2011, candidatos qualificados estão escassos – e podem fazer exigências”. O maior sindicato da Alemanha, o IG Metall, fechou um acordo que permite que os profissionais filiados possam ter uma jornada de trabalho semanal de 28 horas por até dois anos, no caso deles tenham filhos pequenos. “A criação não é só um problema da mãe alemã. A maioria dos filiados ao sindicato é homem”, afirma o FT.

Tudo bem que as regras trabalhistas da Alemanha podem ser consideradas um “paraíso” perto da realidade de outros países. Mas o que a matéria indica é que se a economia mundial continuar a crescer, a carga de trabalho vai ganhar relevância. “Durante ‘booms’, muita gente quer trocar dinheiro por tempo'”, analisa Simon Kuper, no FT. O tempo parece se tornar cada vez mais precioso às pessoas.
No mundo desenvolvido, é uma demanda plausível considerando o alto nível que os rendimentos alcançaram. Segundo a matéria, os salários estão acima do nível médio que vigorava antes da crise de 2008 nos países desenvolvidos (com exceção do Reino Unido e da Grécia). O desemprego na zona do euro é o menor – e os salários nos Estados Unidos estão crescendo.

Por esta e outras razões, o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho vem se tornando uma questão importante. Gurus de auto-ajuda recomendam abandonar o Facebook, ignorar emails e meditar. Há best-seller já fazendo sucesso com dicas para as pessoas se desconectarem de seus celulares e “aproveitarem mais a vida ao redor”. Há, porém, quem garanta que não são os indivíduos que precisam mudar – mas o sistema (Anne-Marie Slaughter, no livro Unfinished Business).

O passo que a Alemanha deu agora não é pontual ou fortuito. O país vem, como a matéria analisa, reduzindo a carga horária de trabalho década após década. “Em 1960, os alemães ocidentais trabalhavam, em média, 2,1 mil horas por ano. Hoje, eles trabalham 1,3 mil horas, menor número entre países desenvolvidos. Grandes empresas limitam e-mails após o expediente. A Daimler, por exemplo, chega a apagar automaticamente e-mails para funcionários em férias”, diz o FT.   pontualidade

O país não é o único nesta direção em busca de melhor equilíbrio pessoal-profissional. Países considerados “workaholics”, como Coreia do Sul, China e Tailândia têm buscado reduzir as lições que os filhos levam para a casa. Oi? Muitos pais chineses estavam se rebelando contra o fato de chegaram em casa tarde da noite e adentrarem horas a mais ajudando os filhos a resolverem problemas de trigonometria, segundo o FT. O governo da Coreia do Sul sinalizou querer cortar a carga média de trabalho para menos de 1,8 mil horas (em 2016, esta média foi de 2,069 mil). “O plano ainda não saiu do papel, mas qualquer governo que melhorar a vida dos coreanos irá ganhar o voto dos millenials”, analisa Simon Kuper, no FT.

Buscar este equilíbrio, porém, não é uma realidade acessível a todos, ao menos, por enquanto. Segundo a matéria, “menos horas de trabalho não ajudarão trabalhadores de baixa renda, que não podem se dar ao luxo de trabalhar menos”, nem os “profissionais da elite, que amam o que fazem e podem pagar por trabalhadores domésticos”, que os ajudem a organizar suas vidas. A “nova vida” que pode surgir descrita pela matéria deve atingir a classe média dos países ricos – que devem conseguir semanas de trabalho mais curtas, ao menos quando tiverem filhos pequenos ou pais idosos para cuidar. Por outro lado, nas “fases mais calmas” de suas vidas, eles podem trabalhar mais. O próprio acordo do sindicato alemão também facilita aumentar a carga horária de 35 (padrão) para 40 horas com facilidade. De toda forma, quem sabe o futuro do trabalho não se pareça mais com o da Alemanha: dias mais curtos, alta produtividade e instituições de ioga bombando.

Fonte Época Negócios
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