O que mudou na forma como líderes devem enfrentar desafios

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Se um dia uma boa dose de inteligência e habilidade de execução já bastaram para o sucesso de uma empresa, agora líderes precisam de muito mais se querem vencer seus desafios diários. É o que defende Joanna Barsh, sócia e diretora emérita da consultoria McKinsey & Company. Ela é autora dos best-sellers How Remarkable Women Lead e Centered Leadership (este último recebeu elogios até de Sheryl Sandberg, diretora de operações do Facebook.). Recentemente, Joanna veio ao Brasil para participar da HSM Expo. Na ocasião, falou sobre como ganhar a confiança dos profissionais que trabalham ao seu lado e como ser um líder alinhado com os desafios de hoje.

O que seria a centered leadership (ou liderança centrada) a que a sra. se refere?

Em suma, centered leadership é a habilidade de gerenciar seus pensamentos, o que você escuta e as suas ações visando conduzir a uma mudança profunda — primeiro em si mesmo e, em seguida, no seu time e na sua empresa. É a união de cinco capacidades: dar significado ao trabalho, entender os seus medos, criar conexões, engajar as pessoas e dar energia a elas. São as únicas cinco habilidades de que você realmente precisa para ir de “bom líder” para “ótimo líder”.

Pensando em significado, como um líder pode se concentrar no que realmente importa? E mais importante: como sequer saber o que realmente importa, no meio de tantas coisas que acontecem ao mesmo tempo?

Essa é uma pergunta brilhante. A maioria das pessoas não tem tempo para fazer essa avaliação. Portanto, é preciso começar tentando descobrir o que é importante para você, como pessoa. Se conseguir passar algum tempo fazendo isso e também pensando em quais são as suas forças, você será capaz de fazer boas escolhas nesse sentido. Saberá o que é importante para você. Nós não podemos todos ser super-heróis. E nem queremos. Então realmente acredito que é um processo de reflexão e também resultado de conversas com outras pessoas sobre o que importa para elas. Isso tudo vai ajudá-lo a descobrir o que realmente importa para você.

Na sua visão, os líderes de hoje estão cientes de que deveriam estar atuando de outra forma?

Sim, acredito que a maioria dos líderes de hoje tem autoconsciência – e eles estão trabalhando muito, muito duro. Não é que não tenham as capacidades necessárias — eles têm, são pessoas muito inteligentes. Mas estão completamente tomados pelos desafios do dia a dia. Portanto, você precisa fazer o esforço de dar um passo para trás, ser autoconsciente e estar aberto à mudança. Se eles fizerem isso, já estarão no caminho para se tornarem “líderes centrados”.

Qualquer um pode se tornar um líder centrado ou você precisa nascer com uma “capacidade especial” para isso?

Todo mundo pode, mas nem todo mundo quer. Eu vou lhe dar um exemplo. Meu marido é um cientista, um matemático que prefere não entender o que está acontecendo dentro dele. Ele não é um líder, mas também não quer ser. E tudo bem — sem julgamentos. Mas qualquer um que quer e está aberto a ganhar autoconsciência e se adaptar pode se tornar um líder centrado.

Na sua palestra na HSM Expo, a sra. mencionou a importância da confiança. Nós temos um problema de confiança no governo aqui no Brasil, assim como vocês nos EUA. Como um líder pode estabelecer confiança dentro da sua empresa?

A melhor coisa que um líder pode fazer é ser o exemplo. Existem quatro elementos da confiança. E um deles sempre, sempre vem à tona: a congruência. É quando você faz o que fala e, de fato, acredita no que está falando. O seu comportamento e as suas crenças têm de ser consistentes para que as pessoas acreditem em você como um líder. Pouquíssimos líderes políticos no mundo (não só no meu país) têm a confiança do público. Os outros três elementos são: entregar o que você prometeu — jamais faça uma promessa se você não pode cumpri-la —, ser transparente em relação as suas intenções e, finalmente, não julgar as outras pessoas — aceite que elas são humanas e erram. É simples e difícil ao mesmo tempo. O seu comportamento e as suas crenças têm de ser consistentes para que as pessoas acreditem em você como um líder.

Quais são outros grandes desafios que a senhora nota que líderes estão enfrentando hoje?

Acredito que seja a velocidade com que grandes mudanças vêm acontecendo. É tão extraordinário, que ninguém consegue entender sozinho. Eu diria que, por causa disso, o maior desafio é construir uma comunidade ao seu redor para que você possa se apoiar na visão de diversas pessoas sobre os problemas. Você pode criar aquela comunidade e desenvolver confiança nesse ambiente. Trata-se de uma tarefa difícil. Os líderes de ontem eram muito inteligentes, então pensavam que se trabalhassem duro, no fim, daria tudo certo. Eles diziam às pessoas o que fazer, e essas pessoas, que eram ótimas em execução, faziam o que era ordenado.

Isso não funciona mais?

Se você fizer isso hoje, vai falhar. Isso porque talvez todas aquelas pessoas estejam fazendo a coisa errada. Como líderes bem sabem, é muito difícil virar uma empresa de ponta cabeça. Ou seja, você não pode só dar ordens, precisa ser um “construtor de comunidades” extraordinário, um criador de propósito, um bom ouvinte, além de ser capaz de ajudar as pessoas a se sentirem seguras. Você precisa ter muita energia.

Fonte Época Negócios
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