O lado empreendedor de Ana Hickmann: “Você precisa acreditar no que faz”

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Ana Hickmann ficou conhecida por seu trabalho na televisão, nas passarelas e nos anúncios publicitários. Mas ela também detém um título mais recente em seu currículo: empreendedora. E de um tipo inusitado, diga-se. No caso dela, a linha que separa pessoa física e jurídica quase inexiste. Afinal, sua marca leva o nome da dona — e está diretamente ligada a sua imagem. Depois de licenciar produtos por quase 15 anos, Ana decidiu no ano passado agregar itens de vestuário em uma empresa própria, com franquia de lojas. Já são 10 unidades abertas (em São Paulo, Jundiaí, Bauru, Maringá, Foz do Iguaçu, Goiânia e Londrina). Ela não abriu mão, no entanto, de licenciamentos. O conjunto de itens que levam o seu rosto vai de óculos a esmalte, passando até por iogurte e secador de cabelo.

Em 2016, totalizava R$ 414 milhões em produtos no varejo. E a previsão é de um aumento de 8% este ano. Isso sem contar o seu canil, que cria cachorros da raça rhodesian ridgebacks. A lista de negócios é tão grande quanto diversa.  Em entrevista, Ana revela como gerencia esse império:

Além de apresentar um programa diário na Rede Record, você empreende e trabalha como modelo. Na sua visão, qual é a chave para lidar com múltiplas tarefas?

Se eu fosse procurar uma só palavra, seria organização — tanto em relação ao horário quanto às minhas responsabilidades. Eu falo que minha vida é regida, literalmente, pelo relógio e pela agenda. Mas dá certo. Eu prefiro esperar por alguém do que fazer alguém esperar por mim — por isso peço tantas desculpas quando faço alguém esperar. Você mostra profissionalismo e respeito às pessoas. E também acaba de certa forma ajudando a dar conta de tudo. Depois que o meu filho nasceu [em março de 2014], eu fiquei ainda mais objetiva. Antes, fazia tudo desse mesmo jeito, mas não era tão objetiva. Agora eu tenho horário para começar e terminar as coisas.

Quando começou a atrelar o seu nome a produtos?

Em 2002, eu tive minha primeira chance de começar licenciamento, o que era incomum para uma modelo. Apresentadoras e atrizes eram os grandes nomes em licenciamento naquela época. Mas o segmento de moda não era assim. Tive a chance de fazer o meu primeiro trabalho com sapatos. Depois vieram os óculos e tantos outros produtos. Na época, eu não pensava: “ah, vou ser a primeira modelo a licenciar”. Nunca passou pela minha cabeça. Muitas pessoas se perguntavam se ia dar certo. Mas nunca tive medo de dar a cara a tapa. Se eu acredito em algo, vou até o fim. Isso sempre foi algo muito forte para mim: aceitar os riscos. Acho que acima de tudo, quando você faz um trabalho, precisa acreditar naquilo que está fazendo. Se você não acredita, como os outros vão acreditar em você?

Por que você tomou a decisão, em 2016, de lançar a própria marca e agregar nela alguns dos itens que antes eram licenciados?

Em questão de vestuário, eu nunca estava satisfeita. Quando você trabalha com licenciamento, por mais que o envolvimento seja muito forte (a ponto de ir para o pátio da fábrica saber como tudo é feito), alguns detalhes não batem. Por exemplo, quando você falava de preço, matéria-prima, aviamento [capacidade de produzir lucro], eu chegava em embate com a área comercial. “Ah, a gente quer vender a tal preço”, eles diziam. Tá, mas eu não quero vender só um preço, quero vender história, quero vender moda. Então, em 2016, eu tive de tomar uma decisão. Meu marido [e empresário Alexandre Correa] e o Gustavo [Correa, cunhado e sócio], me apoiaram e foram muito fortes junto comigo. Decidimos que estava na hora de mostrar o que a gente queria ver na moda. Licenciamento nada mais é do que uma sociedade. Falei para o meu licenciado que tinha sido muito legal o que tínhamos feito até ali, mas que dali para frente eu achava que ele poderia se tornar o meu fornecedor. Até me olharam espantados. Foi quando iniciamos o Ana Hickmann Collection. Eu comecei a realmente conhecer o processo, porque por mais que você se envolva, só vem a saber o que é de fato pôr em prática uma coleção quando é responsável por ela.

O que mais chamou sua atenção?

Tudo. A gente fez a primeira coleção a toque de caixa, porque eu queria entrar naquela mesma temporada. Deu certo. Depois, para as próximas, o ideal é começar com um ano de antecedência, para pensar não só em questão de coleção, tendência, cor, modelos, mas também para que tudo seja feito no prazo certo. Tem que ver os tecidos antes, muitas vezes importados, e o fornecedor. São tantas coisas que você olha e fala: “Tá, por onde começar?”. E já digo também: faço isso com moda, não faria com os outros acessórios, porque sei quão complexos são cada um deles. Por mais que você venha a terceirizar o trabalho, é diferente. Os licenciamentos que a gente tem hoje são com empresas que têm uma expertise muito grande e com quem estou muito feliz.

Você diz que não é ninguém sem a sua equipe. Mas existem tarefas que prefere não delegar?

Decisões finais não delego para ninguém. A responsabilidade é toda minha. Se algo der errado, a responsabilidade é minha — eu prefiro. Não sei se a palavra certa é caxias, metódica ou perfeccionista, você pode dizer muitas coisas.

Isso também vale para os contratos publicitários?

Hoje em dia, eu me dou o luxo de poder fazer essas escolhas. Já houve uma época — quando a gente estava começando — que você tinha de vibrar quando qualquer coisa acontecia. Mas hoje, por tanta coisa boa que vem acontecendo, eu me dou o luxo de poder escolher. Essa é uma das minhas maiores conquistas.

Você tem mais de 6,2 milhões de seguidores só no seu perfil pessoal do Instagram. Como enxerga o papel das redes sociais na construção da sua marca?

Vejo como um mecanismo para muitas coisas boas. Com o número de seguidores que temos, dá para conseguir uma visualização muito legal. Porém, ao mesmo tempo, se você contar só com isso para a venda, não vai ser tão forte. Quem está ali na rede social quer saber, sim, do meu trabalho, mas também da minha vida pessoal, da família, do programa. Acaba abrindo muito o leque. Mas é, sim, uma forma de divulgar o trabalho de um jeito mais orgânico, até porque as pessoas estão um pouco cansadas de ver propaganda na rede social. Além disso, eu uso também como um mecanismo de pesquisa — para ver se algo vai dar certo, se as pessoas gostam, se vai ter muito hater…

Tem alguém que te ajude com isso?

No meu perfil pessoal, só eu mexo. Facebook, Instagram, Twitter e Snapchat (apesar de estar meio aposentado, depois que veio o Stories). Mas tem o perfil do Ana Hickmann Loja e do Collection, que eu tenho hoje uma pessoa responsável por fazer. E cada loja também tem sua rede social, porque a gente percebe que as clientes gostam e se sentem prestigiados.

Existe um esforço para balancear a exposição?

É difícil conseguir se preservar hoje. Nossa vida é um reality show. Eu estou cinco dias por semana na televisão ao vivo, temos a rede social e agora estreamos um canal no YouTube. Não tem só a minha rede, mas meu marido também é muito presente ali e as minhas irmãs. Eu preservo as pessoas que estão na minha família e que não querem aparecer. E com relação à minha vida privada, eu só não mostro o que é problema. O povo já vê tanto problema por aí, por que eu vou dividir os meus?
Alguns dos conteúdos que você posta extrapolam seus fãs e viralizam, como a foto da sua sala de estar, que impressionou pelo tamanho. Isso viralizou de uma tal maneira que achei muito engraçado [risos]. Mas eu achei o máximo. Não esperava isso, não com uma foto tão velha como aquela que postaram. Foram pegar uma foto de 2015. Mas achei muito legal, me divirto nessas horas.

Você trabalha com seu marido, seu cunhado, sua irmã… Como vocês dividem o que é hora de trabalho e o que é momento pessoal?

Vou falar que é um exercício bem difícil. Vira e mexe eu brinco: “Chega de trabalho, agora é família”. Mas há momentos, lógico, que não tem como fugir, porque o tempo da gente é muito escasso — temos muita coisa para fazer. Então a gente determina que, por exemplo, domingo no final do dia vamos sentar e falar de trabalho.

Deve complicar o fato de a empresa ser você…

A empresa sou eu, porque leva meu nome. Hoje uma coisa está refém da outra — a pessoa física e jurídica. A marca está atrelada à pessoa. Enquanto a pessoa estiver bem, a marca vai bem. Eu quero muito que em um futuro — não próximo, mas lá na frente —, a marca consiga existir sem minha presença física. Hoje meu sonho de consumo é poder ter uma longevidade. Já tem uns cinco anos que penso nisso. Não é que estou me achando velha, mas vai chegar um momento em que preciso dar uma cara nova, um frescor para a marca.

Do ponto de vista financeiro, qual é o veículo que paga as contas hoje e que consome mais tempo?

É a marca e a imagem. Mas claro, a TV traz uma boa remuneração e um grande mecanismo de vitrine. É um lugar onde eu sei que ainda vou colher grandes frutos, tem muita coisa para acontecer lá. E de termos de tempo, eu tento, na hora de distribuir, olhar para o que precisa da minha atenção emergencial e o que eu posso diluir ao longo do mês. Você pode falar: “Poxa, mas a sua vida é regida por um calendário?” Sim, mas não é por isso que ela é chata. Eu não considero, pelo menos.

Fonte Época Negócios
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