E se as empresas gerenciassem as pessoas com o cuidado que gerenciam o dinheiro?

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Os executivos passam grande parte do tempo olhando para o balanço financeiro de seus negócios, apesar de esse documento não contabilizar o recurso mais escasso para uma empresa. O capital financeiro é relativamente abundante e barato – pelo menos é o que defende Eric Garton, sócio da consultoria Bain & Company, em artigo publicado na Harvard Business Review.

De acordo com uma pesquisa realizada pela consultoria, a oferta de capital é quase dez vezes maior que o PIB global. Com essa abundância, em conjunto com a tendência atual de relaxamento monetário no mundo e a baixa demanda por investimentos em pesquisa e desenvolvimento, o custo final para uma empresa conseguir um empréstimo é quase igual à inflação. (Vale lembrar que no Brasil, com a taxa Selic a 10,25%, o cenário é bastante diferente.)

Por outro lado, o recurso mais escasso para uma empresa atualmente é o capital humano, medido pelo tempo, talento e energia da sua força de trabalho. O tempo, medido em horas ou dias, é finito. O talento também é limitado. Em média, as empresas consideram que apenas 15% dos seus funcionários fazem a diferença. Encontrar, desenvolver e reter esses talentos é difícil – tão difícil que a imprensa muitas vezes se refere à “guerra por talentos”, lembra Garton.

A energia também é uma variável difícil de encontrar. Apesar de ser intangível, ela pode ser medida pelo número de empregados inspirados na força de trabalho de determinada empresa. As pesquisas realizadas pela companhia mostraram que empregados inspirados são três vezes mais produtivos que os funcionários insatisfeitos. Na maioria das empresas, apenas uma a cada oito pessoas estão inspiradas.

Esta é a questão: o capital financeiro é abundante e cuidadosamente gerenciado; enquanto o capital humano é escasso e poucas empresas dão valor a este ativo. Por que isso acontece? Em parte, discorre Garton, porque as empresas valorizam e recompensam o bom gerenciamento do capital financeiro. E porque isso é medido. Grandes CEOs são reconhecidos pela boa alocação de recursos financeiros. Mas os CEOs precisam estar igualmente atentos à gestão do capital humano.

Como melhorar a gestão do capital humano?

Métricas
Não se pode gerenciar aquilo que não pode ser medido. Uma vasta combinação de letras é usadas para medir o capital financeiro – ROI, Ebitda e outros. Para medir o capital humano, é possível usar métricas como o índice de produtividade, que mede os benefícios da gestão efetiva dos talentos e energia sobre o poder produtivo.

É possível, segundo Garton, medir a quantidade e o valor do tempo gasto em projetos e iniciativas, e é possível medir o retorno sobre esse tempo. Também se pode medir a quantidade de talentos que uma empresa tem.

Invista em capital humano da mesma forma que você investe o capital financeiro
“Para o capital financeiro, o mundo dos negócios desenvolveu conceitos como custo de oportunidade do capital. Nós medimos o valor de nossos investimentos e estabelecemos o retorno mínimo antes de deslocar um dólar de capital”, lembra ele. Há simulações para avaliar o retorno do investimento sob incertezas.

Para o capital humano, é preciso pensar no custo oportunidade de cada hora perdida. Uma forma de fazer isso é medir o custo de cada reunião. Um estudo da Bain & Company mostrou que uma reunião semanal de executivos em uma empresa consome 300 mil horas por ano, tempo que poderia ser usado para dar suporte a vários departamentos da empresa. Quando a empresa australiana Woodside resolveu avaliar suas reuniões, descobriu que elas estavam consumindo entre 25% e 50% do tempo dos funcionários. “Deveríamos pensar nos projetos em termos de horas e dólares, e antes de marcar uma nova reunião ou começar uma iniciativa, incluir o custo oportunidade do tempo e talento nesse cálculo.”

Monitore
Equipes de analistas e planejadores financeiros medem os resultados esperados e os resultados reais do capital financeiro. Comitês de gerenciamento de investimentos avaliam os novos investimentos. Os planos de investimentos são submetidos a análises detalhadas. Todos os funcionários de uma empresa precisam pedir aprovação para a liberação de recursos. De forma similar, as empresas deveriam fazer avaliações regulares para o capital humano, para analisar o quanto de tempo está sendo gasto e como minimizar isso. Há ferramentas que usam big data, como a Microsoft Workplace Analytics, que podem levantar informações detalhadas sobre como usamos nosso tempo no trabalho. Para talentos, a empresa precisa diferenciar aqueles que fazem a diferença e avaliar se eles estão sendo empregados em iniciativas importantes da empresa.

Reconheça e recompense o bom gerenciamento do tempo, talento e energia
Historicamente, o sucesso em investimentos de capital financeiro pode determinar o sucesso da carreira de um profissional. Normalmente, há algum tipo de remuneração variável atrelada a alguma medida de valor econômico adicionado. Ainda que os profissionais não escolham mais ficar em uma só empresa por toda a sua vida, as empresas devem tentar encontrar formas de reter e re-contratar esses talentos, criando um ambiente de trabalho inspirador.

Os líderes deveriam ser avaliados e recompensados pelo “quociente inspirador”, defende Garton. Segundo ele, os chefes também deveriam ter seu desempenho medido por ter construído uma base de talentos em sua equipe: quantos indivíduos com grande potencial eles contrataram, desenvolveram e conseguiram reter.

“Essas são apenas algumas formas de começar a criar uma disciplina maior na gestão de capital humano. Há muitas outras soluções criativas”, diz Garton. “O tempo é finito. O talento é escasso e vale a pena lutar por ele. Energia pode ser criada e destruída. Quanto antes você agir sobre essas crenças, antes receberá o retorno sobre o capital humano.”

Fonte Época Negócios
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