Caso Cristiane Brasil: líderes que não “dão o exemplo” também estão nas empresas

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O recente caso da indicação para Ministra do Trabalho da deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ) é ilustrativo de um tipo de fenômeno muito recorrente no Brasil. E isso acontece não só na área pública, mas também no setor privado. Nas empresas, também não é raro encontrar líderes que “não dão o exemplo”. Falam uma coisa, mas fazem outra. Pedem aos funcionários que sigam certos valores e comportamentos, mas eles mesmos praticam o contrário. Você certamente já se deparou com esse tipo de liderança e sabe o quanto isso é danoso.

O setor público nos traz vários casos assim. Apesar das pendengas jurídicas de se manter ou não a indicação, para a esmagadora maioria não há a menor dúvida de que uma Ministra do Trabalho deveria ser uma ferrenha defensora dos direitos trabalhistas, e não alguém que não cumpre preceitos básicos. Da mesma forma, o diretor de Detran-MG não dá nenhum bom exemplo ao ter 120 pontos na carteira.

No mundo corporativo, infelizmente, também se proliferam os maus exemplos.

É o caso daquele líder que promove discursos bem construídos sobre a importância da qualidade dos seus produtos, mas se você olhar um pouco mais de perto, vai perceber que, na prática, “por baixo dos panos”, ele trabalha mesmo é para tornar precários os processos produtivos e as especificações dos produtos. Só pensa em economizar, custe o que custar, mesmo que isso signifique diminuir a qualidade do que está sendo entregue.

Ou aquele líder que vive falando que o “cliente está em primeiro lugar”, mas que mantém em sua organização call centers e telemarketings mal gerenciados, de “fachada”, que cotidianamente protelam e atendem de forma ineficiente os clientes, deixando-os irritados e com problemas muitas vezes não resolvidos.

Tem ainda aquele líder que diz em alto e bom som nas reuniões gerais que “na nossa empresa as pessoas estão em primeiro lugar”, mas que, na verdade, não dedica nenhum tempo para ouvir e desenvolver as pessoas. Ou pior: veem as pessoas como “números numa planilha”, que podem ser descartados – demitidos – ao menor sinal de instabilidade econômica, independentemente do valor que agregam à organização.

Isso sem falar de líderes que adoram discursar sobre a importância de se respeitar as pessoas, a diversidade e o meio ambiente, mas que, na prática do dia a dia, assediam moralmente empregados, desrespeitam, discriminam ou não dão reais oportunidades a minorias e só tomam alguma iniciativa para minimizar os impactos no meio ambiente se receberem uma multa.

Claro que não se pode generalizar, mas esse tipo de fenômeno é muito comum em modelos de gestão tradicionais, em que os líderes – gerentes, diretores, presidentes etc. – são imbuídos, muitas vezes, de poderes “absolutos”. Tudo podem ou pretensamente resolvem. Nesse tipo de contexto é muito comum se descambar para esse tipo de atitude: de falar uma coisa (positiva) e fazer outra (negativa).

A gestão lean vê a liderança de forma totalmente distinta. Nela, o líder deve atuar como um mentor, e não como alguém que apenas dá ordens, que pune e que controla.

O líder lean é aquele que, antes de tudo, precisa desenvolver as pessoas. Fazê-las trabalhar melhor no dia a dia. Ajudá-las a agregar valor constantemente ao que fazem. Orientá-las a encontrar e eliminar desperdícios…

Para isso, é premissa básica do líder lean, antes de tudo, que ele “dê o exemplo”. Assim, a empresa evolui numa única direção. Por exemplo, se no sistema lean é importante que todos solucionem problemas com método, analisando fatos e dados, o líder tem que ter a humildade de aprender e praticar isso, fugindo do estereótipo de pular para soluções precipitadas, sem nem entender as causas.

O líder “duas caras” destrói qualquer possibilidade de credibilidade e alinhamento de propósitos. Os resultados negativos disso, mesmo escondidos, são irreparáveis. Geram instabilidades, prejudicam clientes, estrangulam bons fornecedores, geram multas ou processos e, na maioria das vezes, levam empresas para o buraco.

Se nas empresas isso já é ruim, no governo é certamente pior.

Fonte InfoMoney
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