Desempenho morno do varejo expõe dúvidas sobre fôlego da retomada

0 491

Quem estiver insatisfeito com o ritmo da atividade econômica neste início de ano, melhor respirar fundo e recorrer a alguma terapia antiansiedade. Está cada vez mais difícil enxergar um cenário propício a uma aceleração da retomada, nesses tempos de incertezas políticas. O comportamento do comércio, refletido nos números de fevereiro divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira, é um bom exemplo.

As vendas do varejo caíram 0,2% sobre janeiro, mas tiveram uma alta de 1,3% sobre o mesmo mês do ano passado. Ficaram abaixo das expectativas dos analistas — embora a variação nos 12 meses terminados em fevereiro tenha sido de 2,8%, a maior desde outubro de 2014.

Como se pode ver, não se trata de uma virada na trajetória do setor, mas de mais um sinal de que a retomada perdeu fôlego. O próprio IBGE prefere falar em estabilidade, destacando que o nível de vendas do setor empata com o registrado em setembro de 2017 e alertando para a inexistência de novos estímulos específicos ao consumo, como a sempre lembrada liberação das contas inativas do FGTS.

Além disso, a maioria dos analistas começa a ver esse desempenho morno do varejo como causa e efeito do comportamento do mercado de trabalho, cuja melhora vem sendo ancorada na informalidade. Sem a garantia de um emprego e de uma determinada remuneração, os trabalhadores informais mostram-se cautelosos em assumir compromissos. Com isso, põem limites à reação do consumo, à atividade econômica em geral e, na outra ponta da linha, ao próprio mercado de trabalho.

Romper esse circuito desfavorável não é tarefa fácil, já se sabe. Requer estratégia econômica correta e persistente. E, além de tudo, previsibilidade — pressuposto que, em épocas de mudança de governo, costuma rarear e, desta vez, torna-se quase inexistente. O painel de candidatos à sucessão presidencial ainda é provisório e, além de nomes, o que se espera é a definição de propostas para a condução da economia — que vão além do simples discurso e tenham viabilidade de aplicação dentro da configuração política do grupo ou grupos que disputam o poder.

O mais preocupante é que esses fatores que limitam a recuperação da economia pela via do consumo tornam ainda mais complicada a recuperação pela via dos investimentos. Não custa repetir: a economia saiu do fundo do poço, iniciou uma escalada, mas precisa de mais impulso para apressar essa subida.

Fonte Estadão
Notícias Relacionadas
Deixe um comentário

Seu endereço de email não será publicado.