Unilever se esquiva do fogo cruzado do Brexit

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Em 1929, a Lever Brothers, fabricante britânica de sabonetes, uniu-se numa fusão com a Margarine Unie, companhia holandesa de margarinas, dando origem à Unilever. A empresa agora tem um faturamento anual de mais de US$ 59 bilhões e um portfólio de marcas reconhecidas em todo o mundo, que vão da manteiga Flora ao sabão em pó Persil. Há quase 90 anos a companhia mantém a dupla nacionalidade, com holdings e ações listadas em bolsa nos dois países.

Agora, a Unilever informa que, em benefício dos seus negócios, terá de escolher um lado. Mas ainda hesita. Em 28 de novembro, antes da reunião anual dos investidores, a diretoria da empresa fez uma revisão da sua configuração corporativa. Unificar a estrutura compartilhada da companhia propiciaria uma “flexibilidade estratégica” e seria o mais conveniente para ela e seus acionistas – mas não especificou se a nova sede ficaria em Londres ou Roterdã.

Paul Polman, diretor executivo do lado holandês, disse ao Financial Times ter recomendado que essa decisão fique para depois. E não deu prazos.

Uma proposta de aquisição do controle societário da companhia, feita pela gigante americana Kraft Heinz e o fundo 3G Capital, temida por seus métodos radicais de corte de custos, não teve prosseguimento, mas provocou a revisão das estratégias da Unilever.

Ela planeja cortar custos e diversificar setores menos lucrativos, incluindo as marcas de margarina. A dupla estrutura, a direção admite, aumenta a complexidade do problema. A unificação tornaria mais fácil levar a cabo a diversificação: uma única sede também reduziria custos administrativos.

Escolha. Mas, por causa das raízes profundas da empresa nos dois países, a decisão deve provocar controvérsias, apesar de a Unilever ser uma companhia global, com quatro quintos da sua mão de obra trabalhando fora da Europa. Assim, postergar a decisão é o mais sensato. Não tem sentido a Unilever tomar uma decisão arriscada quando as negociações do Brexit ainda estão em curso: uma falta de acordo no caso do Brexit, por exemplo, certamente empurraria a Unilever para a Holanda.

Essa pausa para pensar também vai chamar a atenção dos dois governos; o holandês já vem cortejando empresas multinacionais como Unilever, e também a Shell, companhia petrolífera que tem uma história conjunta anglo-holandesa.

A estratégia é reduzir o imposto corporativo para 21% (que, mesmo assim, permanecerá mais alta do que o da Grã-Bretanha, que hoje é de 19% e deve cair par 17% em 2020).

O Parlamento holandês também vem debatendo proposta do governo de eliminar os 15% de imposto na fonte sobre os dividendos, outro atrativo; a Shell prometeu abandonar sua dupla estrutura se o corte for aprovado.

Os oponentes afirmam que isto equivale a um presente para as multinacionais e os investidores estrangeiros, mas o primeiro ministro Mark Rutte (ex-funcionário da Unilever) está decidido a atrair para o país grandes empresas que estão em busca de novas bases por causa do Brexit.

Tornar-se a sede de uma das maiores empresas locais seria mais um golpe em cheio, depois de Amsterdã acolher a European Medicines Agency (Agência Europeia de Medicamentos), que saiu de Londres e se transferiu para a capital holandesa em novembro.

O governo britânico, por seu lado, tem se mostrado reticente. Mudanças nas regras que regem “takeovers” – a aquisição de uma companhia por outra –, propostas em setembro para dar mais tempo para as empresas se defenderem de propostas hostis, podem ser convenientes para Polman. O diretor holandês da Unilever afirmou, na época da oferta da Kraft e do 3G, que seria necessário mais tempo para examinar as alegações da proponente.

O governo, no entanto, está muito ocupado com as conversações envolvendo o Brexit e tem se manifestado pouco sobre o caso da Unilever. Nos próximos meses é provável que haja uma tentativa, pública ou particular, de se chegar a um bom entendimento.

Fonte Estadão Conteúdo
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