Inflação sobe em meio à crise; o que está provocando a alta dos preços?

0 228

As últimas semanas reacenderam uma antiga preocupação dos brasileiros: a alta de preços. Na sexta-feira (9), o IBGE divulgou que a inflação de setembro ficou em 0,64% – a maior taxa para o mês desde 2003. Já o IGP-M, a chamada inflação do aluguel, alcançou seu maior valor em 17 anos, no acumulado em 12 meses.

Mas afinal, o que está provocando essa alta na inflação?

O principal motor das altas de preços é a diferença entre a oferta e a demanda dos produtos. Quando a oferta é baixa e a demanda é alta, os preços tendem a subir.

Na situação oposta, quando tem pouca gente querendo comprar e muita mercadoria para vender, o natural é que os preços caiam.

Mas, na situação atual do Brasil, surgiram novos “vilões”: a procura por alimentos e commodities no mercado internacional e, principalmente, o dólar alto levaram a inflação de produtos no atacado às alturas.

A “temperatura” do atacado é medida pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que representa cerca de 60% do Índice Geral de Preços – Mercado, o IGP-M, aquele usado para corrigir os contratos de aluguel.

Na pesquisa de setembro, o IPA subiu 5,92%, acumulando alta de 25,26% em 12 meses. A consequência foi a disparada do IGP-M.

Na cesta do IPA estão produtos como minério de ferro (alta de 71,6% em 12 meses e 86,2% de janeiro a setembro), carne suína (76,1% e 41%, respectivamente), arroz (123,3% e 110,6%), trigo (38,8% e 40,7%) e soja (75,4% e 66,6%).

Os preços das commodities subiram com o relaxamento das medidas restritivas contra o novo coronavírus e com a lenta recuperação da economia em todo o mundo.

Todos os produtos, além de verem seus preços subirem dólar, também sofrem efeito de uma desvalorização forte do real frente à moeda americana.

Como mostrou reportagem do G1, o real se tornou a pior moeda do mundo em relação ao dólar por causa das incertezas com o plano de recuperação fiscal brasileiro, juros mais baixos, crescimento tímido e a despreocupação com o meio ambiente. E, sempre que o real se desvaloriza, acaba convidando os países a comprar do Brasil.

Por um lado, há melhora dos números da balança comercial. Por outro, acontece um desabastecimento do mercado brasileiro para itens que são matéria-prima para fabricação de alimentos que chegam às gôndolas. A alta da soja, por exemplo, aumenta o preço de ração animal, que se reflete nos custos da carne.

E quais os riscos?

“Enquanto o risco fiscal não se resolver, pode acontecer nova desvalorização da moeda e ampliar o efeito da demanda internacional. Se o mundo volta à normalidade, ele passa a consumir mais e, com a mesma quantidade de dólares, a comprar cada vez mais do Brasil”, afirma o economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV).
Braz, que é coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), não acredita, contudo, que o Brasil corre risco de um estouro inflacionário prolongado com crescimento estagnado, a chamada “estagflação”.

Ainda que os preços no atacado continuem pressionados por algum tempo, diz ele, o mercado interno ainda não recuperou os espaços perdidos para a pandemia. Com alguma retomada do trabalho, principalmente de prestadores de serviços que foram impedidos de manter atividades, haverá algum aquecimento da atividade econômica.

Inflação acelera para 0,64% em setembro, maior alta para o mês desde 2003

“A economia não tem renda suficiente na mesa, porque ainda temos desemprego alto, para sustentar repasses de preço a ponto de colocar a inflação acima da meta e com dificuldade do Banco Central contornar a situação”, afirma Braz.

O ex-presidente do BC, Gustavo Loyola, também aposta em um ambiente temporário, a depender do empenho político na agenda de equilíbrio fiscal. Com a demanda interna ainda fraca, as atenções se voltam ao enfraquecimento do real.

“Há a hipótese de a moeda se desvalorizar ainda mais e aumentar essa pressão de preços, mas parece improvável”, afirma o economista. Para Loyola, o governo precisa dar clareza a duas metas básicas para que a situação se equilibre e afaste rumores de inflação fora de controle.

No curto prazo, é preciso saber o desenho do Orçamento de 2021. Com essa informação em mãos, será possível compreender o plano de ajuste de contas que o governo terá para a saída da pandemia. Isso inclui o financiamento do programa Renda Cidadã dentro do teto de gastos.

Para o médio prazo, passadas as eleições municipais e as eleições para presidência da Câmara e do Senado, os olhos se voltam à continuidade das reformas administrativa e tributária. É nesse momento que o mercado verifica se ainda há prestígio e influência do ministro Paulo Guedes para o andamento da agenda reformista.

Fonte G1
Notícias Relacionadas
Deixe um comentário

Seu endereço de email não será publicado.