Feiras e eventos no Brasil terão novos protocolos para serem realizadas

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Por Claudia Rivoiro

Em entrevista exclusiva ao portal Newtrade, Brena Bäumle,  sócia diretora da Bäumle Organização de Feiras,  com sede em São Paulo, especializada na organização e administração da participação de empresas exportadoras brasileiras em feiras internacionais de negócios, admite que o setor irá trabalhar de maneira diferente no mundo pós-Covid19,seguindo protocolos para preservação dos negócios e das pessoas

 1-Com tantos anos trabalhando no segmento de eventos e feiras no mundo inteiro, como as restrições impostas pelo novo Coronavírus impactou os negócios no primeiro momento?

Nesses 27 anos de empresa, nunca tivemos que viver um cenário como esse, com cancelamentos e adiamentos em massa dos eventos em função de uma séria pandemia mundial. Entretanto, uma coisa é certa, sem o apoio do governo, apesar dos grandes esforços da própria indústria de eventos e exposições, o setor não conseguirá atravessar esse período de crise, de maneira ágil.. As empresas precisarão urgentemente dos eventos para garantir plataformas de vendas, negociação e aproximação com os públicos-alvo. As principais perguntas no momento são: as plataformas digitais darão conta de manter os negócios aquecidos? Como o setor de feiras resistirá? Como os calendários vão se readequar para um segundo semestre repleto de eventos? Temos trocado informações intensivamente com as principais associações e promotores de feiras dos 20 países onde trabalhamos, tanto para discutir novas datas e deadlines, quanto para tratar de novas regras, protocolos e principalmente garantir que os envolvidos adotem uma política comercial flexível para lidar com a crise, que não prejudique ainda mais as empresas exportadoras brasileiras.

Segundo o Instituto da Indústria Alemã de Feiras – AUMA espera-se uma perda de cerca de três bilhões de euros para a economia apenas com os cancelamentos e adiamentos de feiras, afetando mais de 24.000 empregos, sem contar que o país perderá pelo menos 470 milhões de euros em receitas tributárias. Os investimentos de expositores e visitantes com feiras, de maneira macroeconômica, somam mais de 28 bilhões de euros. Mais de 230.000 empregos são garantidos anualmente e as receitas tributárias baseadas em feiras somam aprox. 4,5 bilhões de euros todos os anos (fonte: AUMA).

No Brasil ainda não temos dados tão precisos, mas acredito que logo teremos estimativas bem pesadas também.

Brena Bäumle,  sócia diretora da Bäumle Organização de Feiras
2- Já estamos caminhando para maio, como as feiras acontecerão ainda de 2020?

Esta havendo um esforço imenso no sentido de garantir algumas plataformas. O Sial China, por exemplo, que aconteceria em maio em Shanghai, foi transferido para setembro em outro pavilhão (ou seja, toda a feira tem que ser replanejada). Algumas feiras com ciclo anual não ocorrerão este ano, mas serão adiadas para a próxima data regular em 2021, como a tradicional Feira Industrial de Hannover.Vê-se também que as plataformas digitais se tornaram muito mais relevantes e alguns eventos estão migrando do presencial para o digital rapidamente, tal como a maior feira de Games do mundo, a Gamescom em Colônia que estava marcada para a última semana de agosto, mas o governo federal da Alemanha anunciou dia15 de abril uma proibição para eventos com mais de cem pessoas até o dia 31 de agosto (a feira recebeu 373.000 visitantes em sua ultima edição), então já foi lançada como uma evento 100% digital. A Canton Fair, a mais antiga feira multisetorial chinesa, que atraiu mais de 195.000 compradores estrangeiros, também irá acontecer de maneira online em 2020. No Brasil, com alguns centros de feiras sendo convertidos em hospital de campanha durante a crise do COVID-19, todo o calendário esta sendo refeito.

3- Existem novos protocolos e recomendações para a realização dos eventos no exterior?

Várias organizações estão discutindo algumas medidas a serem tomadas de precaução, quando do retorno às feiras. Podemos esperar para logo a publicação de um manual com os procedimentos. Mas, aqui na Bäumle, acreditamos que algumas ideias serão:

  • Redução no número de visitantes
  • Controle no número de expositores e visitantes dentro do estande
  • Controle do público (medidores de temperatura e alguma forma de desinfetar malas, bolsas, caixas e outros objetos)
  • Recuos obrigatórios na construção dos estandes – podem mudar para os estandes ficarem mais espaçados e amplos
  • Limpeza frequente de ambientes fechados como auditórios, banheiros, salas, etc.
  • Uma melhor ventilação dos pavilhões
  • Garantir que máscaras faciais ou lenços estejam disponíveis, assim como lixeiras especiais para o seu descarte
  • O cumprimento será sem se tocar
  • Como se deve evitar tocar em objetos comuns, interruptores de luz, torneiras e portas deverão trocados por modelos automáticos
  • Serão reforçadas as medidas de distanciamento social através de sinais, cartazes e marcações no chão
  • Uso permanente de máscaras e higienização adequada das mãos e outras etiquetas de higiene se tornará praxe

Enfim, promotores estão sendo fortemente pressionados pelos expositores para que as feiras do fim do ano aconteçam, visto que se entende que há uma necessidade de escoar as vendas urgentes. Mas, apesar de setembro, outubro e novembro teoricamente serem meses normais de feiras, com certeza, serão eventos menores e com algumas restrições como os pontos colocados acima. Acredito que uma vez definido o protocolo final, um plano de comunicação será construído e implementado em todos os grandes centros de feiras mundiais.

4- Os protocolos citados deverão ser seguidos no Brasil?

Sim, sem dúvida. Dentro do que for possível, muitas regras também serão seguidas pelos promotores de feiras nacionais, principalmente nos grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro e nas grandes feiras de publico.

5-As empresas expositoras estão confiantes para participar desses eventos mundiais?

Aos poucos, e com muita cutela, estamos vendo crescer um movimento de retração do lockdown para que a economia seja retomada, o que deve ocasionar um maior grau de segurança e estabilidade. Então depois de 4 semanas de silencio completo, estamos percebendo um interesse dos expositores em voltar a conversar para planejar os eventos do 2º semestre. Aos poucos estamos voltando a receber briefings de estandes e questionamentos sobre valores e deadlines. As empresas estão vendo que utilizar esse período de quarentena para planejar e definir mercados prioritários é uma atitude bastante eficiente. Estamos orientando nossos clientes mantenham os canais de contato com os seus clientes – mesmo com as equipes em casa, que organizem seus mailings e aproveitem a fase para analisar e descobrir novas oportunidades. É um trabalho que não poderá ser deixado para depois, pois com estruturas mais enxutas, as empresas não terão tempo hábil na velocidade da retomada dos negócios internacionais. Quem não estiver preparado poderá perder oportunidades.

6- Qual a sua expectativa para o segundo semestre de 2020 e 2021?

Sabemos que o setor de eventos é crucial para a economia dos países e envolve, não apenas as empresas promotoras de feiras, como os pavilhões, montadoras de estande e inúmeros prestadoras de serviços. Sem contar as próprias empresas expositoras que contam com essa plataforma de negócios para promover seus produtos e serviços de maneira muito eficiente. Uma cadeia enorme, que envolve inúmeros empregos e que traz muitas perdas ao parar. Nenhum outro dispositivo de marketing é capaz de representar uma empresa e seus produtos de maneira tão abrangente quanto o contato pessoal.

Assim, acredito que essa imensa crise é passageira e as empresas rapidamente irão conseguir se adequar para a retomada dos negócios. Ao que tudo indica, na Europa, partir de setembro já teremos feiras acontecendo e outubro e novembro serão meses bastante concorridos. Um cenário mais normal, com um calendário mais próximo do que conhecemos, só veremos a partir do 2º semestre de 2021.

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