Varejo desacelera e mais áreas sentem crise

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Apesar da forte expansão da venda on-line desde o início da pandemia, avaliações preliminares de associações e de empresas que publicaram balanços nos últimos dias indicam que março pode estar com desempenho já comprometido para o comércio. Mesmo setores que tinham melhores resultados perderam força, como os supermercados. No varejo de moda, ontem, a Riachuelo informou que as lojas têm funcionado 40% do tempo normal em março.

A Associação Brasileira de Franquias (ABF) relata um cenário hoje mais frágil para as lojas do que no início da pandemia, em setores como moda, calçados e restaurantes.

“A preocupação [dos empresários] aumentou muito, com os negócios mais expostos aos shoppings centers numa situação mais difícil. Há efeito sobre custos fixos, por conta dos estoques parados, o que pressiona ainda mais a necessidade de caixa das empresas”, disse Antonio Leite, diretor vice-presidente da ABF.

A Apas, a associação dos supermercados paulistas, criticou a decisão de certos municípios de fechar hipermercados e supermercados e permitir apenas a venda on-line neste momento. No segmento, especialistas estimam que só 5% das vendas sejam feita pela internet. A entidade afirma em nota que as redes não têm estrutura para trabalhar só com entregas.

O Valor apurou que a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) foi informada por entidades regionais do Sul e do Sudeste que o volume de vendas tem caído em certas categorias neste mês na comparação com 2020. E o aumento na receita nominal decorre de reajustes de preços acumulados. “O fim do auxílio emergencial e o aumento dos gastos de começo de ano afetaram março. Era algo que víamos em fevereiro, mas em março ficou mais claro”, diz o diretor de uma associação do Sul.

No varejo de eletroeletrônicos, a venda parou em março em regiões onde as normas de isolamento ficaram mais rígidas, em resposta ao agravamento da pandemia. “Vínhamos bem em janeiro, seria um ano maravilhoso se continuasse assim, mas os rumores de ‘lockdown’ já foram piorando o ambiente em fevereiro. Agora está tudo parado, a venda é por aplicativo, site e WhatsApp. Mas ela representa 10%, 15% do total, não chega a 20%”, disse Ubirajara Pasquotto, diretor-presidente da Cybelar, com cerca de 80 lojas no Estado de São Paulo.

Dias atrás, o Magazine Luiza informou uma leve desaceleração nas vendas no começo do ano, em relação ao fim de 2020, mas a empresa permanecia otimista com os resultados pela capacidade de migração da demanda das lojas para o site e aplicativo – 65% das vendas da empresa vem do digital. Há dez dias, a rede tinha 820 lojas fechadas, das 1,3 mil.

Fornecedora de eletrodoméstios, a Atlas verificou uma queda no volume de pedidos de redes médias neste mês. As grandes cadeias mantêm o abastecimento normal. “As menores não querem comprometer capital e deixam o pedido em ‘stand by’, até o retorno das operações. Pedem para ‘segurar’ pelo prazo que der, porque se já pedir e emitir a nota, terá que fazer o pagamento, e ainda há toda essa incerteza em relação à demanda”, disse Clovis Simões, diretor comercial da Atlas.

Após o Valor informar, ontem, que apenas 5% dos shoppings brasileiros operam plenamente no país, as ações das empresas do setor e dos lojistas de moda e calçados, altamente dependentes da demanda nesses empreendimentos, tiveram forte queda na B3. Vinte e nove ações fecharam o pregão em queda, sendo 22 com recuo acima da retração do Ibovespa. Quatorze delas são varejistas de moda ou shopping centers.

Entre as grandes cadeias do setor, lojistas da Hering, rede que apurou uma aceleração gradual na demanda em janeiro e fevereiro, de 1,4% e de 5,7%, respectivamente, registraram uma desaceleração em março, na comparação com o mês anterior. Isso ocorreu após a primeira semana de fevereiro, dizem três franquias da rede ouvidas ontem, que somam cerca de 10 lojas da Hering Store no país.

“Mesmo em cidades com restrições menos pesadas, como o Rio de Janeiro, houve impacto pelo aumento do contágio e pela falta de clareza nas regras de funcionamento, que mudam toda hora”, disse ontem o sócio de uma loja da Hering num shopping do Rio.
Em teleconferência com analistas ontem, a Guararapes, dona da Riachuelo, informou que as lojas estão funcionando com 40% “das horas possíveis do período normal”, mas que as unidades em operação têm tido desempenhos positivos, como reflexo da aceitação da nova coleção.

“Estamos num nível de desafio importante, dezembro já foi pressionado e essa [pressão] já foi maior neste começo de ano, com o avanço da pandemia. Entendemos que aprendemos muito com o digital e o potencial de um novo modelo integrado e temos que usar o que aprendemos. Agora é ter de novo paciência e usar o conhecimento que temos”, disse Tulio de Queiroz, diretor de relações com investidores. O comando da Guararapes acredita num segundo semestre melhor para o setor de moda, com o avanço da vacinação.

Dados publicados ontem pela Cielo, sobre vendas no varejo, mostrou queda de 17,1% em fevereiro sobre mesmo mês de 2020 – ritmo de queda superior a janeiro, quando o recuo foi de 12,6%. Eletroeletrônicos e móveis estão entre os segmentos com os maiores recuos.

 

Fonte Valor Econômico
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