JBS deve ser mais pressionada pelo varejo

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Grandes varejistas devem elevar a pressão por melhores condições nos contratos com a J&F, controladora da JBS, como ampliação de prazos de pagamento, descontos e maiores verbas de propaganda. Isso ocorre num momento em que as cadeias já sentem a queda de preço da carne nas lojas e uma piora do ambiente de competição no mercado.

Duas grandes redes de supermercados ouvidas pelo jornal Valor Econômico começam a buscar condições comerciais mais vantajosas, apoiando-se no discurso de que mantêm os canais de venda abertos para a JBS “fortalecendo a parceria entre as empresas”, apesar da crise que afeta o grupo, disse ontem um executivo que analisa a estratégia.

As redes ouvidas pedem sigilo porque não querem passar a percepção de que avaliam condições melhores, sob risco de uma reação da concorrência. Grandes grupos de varejo já enviaram mensagens de apoio à J&F nos últimos dias.

“Há uma situação difícil, com consumidores falando em boicote à empresa. Se eu mantenho minha compra ou planejo uma compra até maior lá na frente, os termos podem melhorar. É a hora certa de saber negociar, considerando produtos que, como a carne, por exemplo, não têm margens tão altas, por causa da alta ‘quebra’ [perda]”, diz um diretor comercial de uma rede de hipermercado.

A margem bruta da carne hoje varia de 20% a 25% e pode cair a 5%, em promoções. A reposição das carnes nas grandes e médias cadeias de varejo é feita pelo menos duas vezes por semana. “Carne traz fluxo [de clientes], mas não necessariamente retorno”, diz o consultor de uma supermercadista.

De acordo com um diretor comercial ouvido, a possibilidade de que a J&F feche acordo de leniência com o Ministério Público Federal dá maior tranquilidade ao varejo para manter as negociações comerciais. Nos últimos dias, varejistas vêm sendo questionadas se continuarão a vender produtos de marcas ligadas à J&F.

Códigos de conduta do Walmart, Carrefour, Grupo Pão de Açúcar e McDonald’s considerarem inaceitável ou, no mínimo, repreensível, acordos com indústrias que subornaram agentes públicos. Publicamente, as empresas dizem que estão “acompanhando” o caso.

Poder de barganha

A maior dificuldade nessas tratativas está no poder de barganha da companhia. As marcas da J&F têm forte presença no varejo – quase metade dos lares do País tem algum produto da JBS em casa, segundo estudo da Kantar de 2015. “Historicamente, por causa dessa força, são sempre negociações difíceis. Então, exatamente quando há alguma margem para conversar, é preciso considerar”, diz uma fonte.

Procurado, o grupo informou, por meio de nota, que “as atividades comerciais das empresas controladas pela J&F Investimentos, entre elas a JBS, prosseguem normalmente, como sempre estiveram.”

O recado dado pela JBS nas últimas reuniões entre a equipe de vendedores e supermercados de grande porte reforça a ideia de que estão mantidas as condições de acordos já fechados (em alguns casos, são contratos anuais). É uma forma de acenar que a revisão de tratativas não serão aceitas.

A JBS é dona da Friboi, Swift, Seara e é controlada pela J&F – holding que ainda reúne marcas como Vigor, Itambé, Leco e Doriana. Semanas atrás, a empresa confirmou que fez ajustes em seus acordos com alguns pecuaristas e isso chamou a atenção do varejo.

A empresa alongou seu prazo de pagamento para os criadores de gado em algumas regiões do País – isso ocorreu antes do vazamento da delação dos sócios do grupo. Foi padronizado o pagamento no prazo de 30 dias, algo que ocorria em 97% das praças onde atuava.

Um supermercadista de médio porte ouvido ontem disse ao Valor que há um receio no setor de que a empresa promova mudanças também nas condições de pagamento das lojas à JBS, reduzindo prazos. O Valor apurou que a JBS não considera essa hipótese hoje.

De acordo com um executivo de uma cadeia de atacarejo, houve uma piora do cenário de competição entre as marcas de carnes depois da Operação Carne Fraca, em abril, que investigou um esquema de fraude e corrupção em frigoríficos. Há uma queda no preço da carne no mercado neste ano, de cerca de 10% até maio, e houve redução na demanda recente.

Segundo pesquisa da consultoria britânica dunnhumby publicada na semana passada, 64% das pessoas tiveram suas decisões de compra de carnes afetada pela operação Carne Fraca. Destas, 57% diminuíram a compra ou o consumo de carnes e derivados (in natura, congelados, embutidos e frios).

Desde que trechos da delação dos sócios da J&F foram revelados, as menções à JBS e à Friboi no Twitter somaram quase 1 milhão de mensagens, segundo a ferramenta de pesquisa Reverb. Nas duas semanas anteriores, o total estava perto de 50 mil. As citações tiveram seu pico no dia 17, quando a notícia foi publicada pelo jornal “O Globo”. Nos dois dias seguintes, o assunto continuou em pauta, mas com volume três vezes menor. Depois, as citações foram caindo. As menções à campanha online de consumidores pelo boicote aos produtos da JBS cresceram durante o período, chegando ao seu auge no dia 23, mas também perderam força nos dias seguintes.

Fonte Valor Econômico
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