Em meio à perda de mercado, Fiat muda comando no Brasil

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A Fiat anunciou ontem a troca no comando da montadora na América Latina, com a substituição de Cledorvino Belini, principal executivo do grupo na região por mais de onze anos, pelo engenheiro Stefan Ketter, chefe global de manufatura da multinacional italiana, posto que seguirá ocupando com o novo cargo.

Primeiro brasileiro a comandar os negócios da Fiat no Brasil, Belini deixa aos 66 anos a posição para assumir as relações institucionais da subsidiária. Como presidente de desenvolvimento para América Latina ­ um novo cargo criado na organização­, ele será o principal representante da empresa no diálogo com governos tanto do Brasil como de países vizinhos, reportando­se diretamente ao chefe global da Fiat Chrysler Automobiles (FCA), Sergio Marchionne. Belini vai aproveitar, assim, a profícua experiência de negociador acumulada não apenas nas tratativas dos incentivos fiscais que permitiram a construção da nova fábrica do grupo em Pernambuco, mas também quando presidiu a Anfavea, entidade que representa as montadoras brasileiras, e costurou uma política automotiva que, desde 2011, fechou portas a importações de veículos.

As mudanças comunicadas pela FCA começam a valer em 1º de novembro. Mais do que manter a Fiat como a marca mais vendida, Belini, valendo­se também do declínio da concorrente Volkswagen, fez da empresa a maior fabricante de veículos do Brasil e do Palio o modelo mais popular, acabando com um reinado de 27 anos do Gol. Mesmo assim, a montadora não escapou da crise que atingiu a indústria automobilística e é neste ano quem mais perde vendas no país, mesmo se descontado o sucesso do modelo Renegade, o utilitário esportivo da marca Jeep montado no parque industrial inaugurado em abril em Goiana, na Zona da Mata Norte de Pernambuco.

De janeiro a setembro, a Fiat vendeu 174 mil carros a menos do que em igual período do ano passado, o que fez sua participação de mercado cair de 21,5% para 18,2%. A empresa diz que a troca de comando é um procedimento normal de renovação, sem qualquer relação com a forte retração das vendas. A situação, porém, impõe ao sucessor de Belini o desafio de enxugar custos e preparar a FCA a uma recessão que promete ser longa em seu segundo maior mercado no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Até o momento, a empresa vem administrando a ociosidade na fábrica de Betim (MG), a maior do grupo no mundo, com paradas pontuais e férias coletivas, sem partir para soluções mais radicais, como demissões em larga escala e cortes de salários.

Assim como Belini, Stefan Ketter, de 56 anos, é paulistano, mas deixou o Brasil ainda jovem para estudar engenharia mecânica em Munique, na Alemanha. Depois disso, se especializou em gestão empresarial na França e construiu a carreira no exterior. Ketter tem uma história de rápida ascensão na montadora italiana. Depois de passar por BMW, Audi e Volkswagen, ele foi contratado em 2004 pela Fiat e, desde então, já ocupou cargos na Europa, nos Estados Unidos e na China. É ele o homem responsável pelos processos industriais adotados nas fábricas da FCA em todo o mundo. Em 2006, quando já comandava a área de manufatura, Ketter liderou a implementação de um novo modelo global de produção que mudou a rotina das fábricas da Fiat em busca da maior eficiência no processo de fabricação de automóveis. Quando a Fiat comprou a Chrysler em 2009, coube a ele reorganizar as fábricas da montadora americana nos Estados Unidos. Desde então, cada projeto industrial da sétima montadora do mundo passa por suas mãos. O retorno ao Brasil aconteceu em 2013, em virtude da construção da fábrica em Goiana. Sergio Marchionne destacou Ketter para acompanhar in loco a execução do empreendimento de R$ 7 bilhões e, dos escritórios em Detroit e Turim, o executivo passou a ocupar um gabinete instalado no meio do canteiro de obras. Concluída a fábrica pernambucana, maior projeto da Fiat no mundo, Ketter terá, agora como presidente na região, a missão de concluir um programa de investimentos de R$ 15 bilhões que prevê o lançamento de um novo modelo da Jeep e outros quatro da marca italiana, incluindo uma picape a ser montada em Goiana.

Via Valor

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