“Redes sociais mais desestabilizam discussão eleitoral do que informam”

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As redes sociais terão em 2018 a maior influência que já tiveram no Brasil, mas o efeito será principalmente o de desestabilizar a discussão, defendeu Mirella Sampaio, economista da Itaú Asset Management. Em palestra na Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo na terça-feira (06/03), ela apresentou um relatório produzido pela instituição financeira sobre as interações entre redes sociais e eleições no Brasil.

“Só três partidos têm mais de um minuto e meio de televisão. Em menos de um minuto não dá tempo de falar nada”, disse Mirella. A internet, nesse cenário, se torna um dos campos possíveis para a corrida eleitoral. Além da falta de tempo, os partidos e candidatos também enfrentam outros desafios na eleição de 2018. Este é o primeiro ano de pleito presidencial sem financiamento de empresas privadas. A partir de maio, os partidos e candidatos podem começar a fazer campanhas pedindo doações.

“As redes sociais surgem mais como fator desestabilizador do que algo que traz informação. Não estou dizendo que elas não servem como fonte de informação, mas sim que desestabilizam mais do que informam”, afirmou ela. Segundo Mirella, os brasileiros tendem a usar as informações encontradas na rede como uma confirmação para suas opiniões prévias. “Não há nenhuma fonte de informação que todo mundo concorde que é fidedigna, então quando as pessoas encontram uma fonte que corrobora aquilo que elas querem ouvir, é como música para os ouvidos”.

Atualmente, com a tecnologia, “a possibilidade de manipulação é quase sem fim”, disse Mirella, lembrando que há programas que imitam a voz de pessoas. “O grande problema é que a velocidade com a qual essa informação se espalha é muito maior do que qualquer esforço para desmentir ou checar o fato”, afirmou.

Nesse contexto, as redes sociais devem ser usadas cada vez mais pelos candidatos para direcionar o discurso. “A internet é a forma mais rápida e barata de saber para onde está indo o discurso e as discussões das pessoas, mas acho que os políticos ainda não estão fazendo isso”, disse ela. Mirella lembrou que mesmo com o assunto da febre amarela sendo muito discutido nas redes, nenhum pré-candidato usou o tema para fortalecer sua plataforma política. “Os candidatos que souberem fazer isso podem ter sucesso relevante na rede social e aumentam suas chances de ganhar”, afirmou. “A reforma política do ano passado permite o impulsionamento de notícias. E não é preciso ser uma notícia sobre um político, pode ser sobre um tema que é importante para a plataforma de um político”.

Robôs

Mirella Sampaio falou também sobre os perfis automatizados utilizados nas eleições. Segundo um estudo da FGV no Rio de Janeiro, os robôs motivaram mais de 10% do debate político nas eleições de 2014, sendo 19,4% das interações de perfis favoráveis ao então candidato Aécio Neves e 9,8% das interações de perfis favoráveis a Dilma Rousseff. “Não acho que um candidato use um instrumento polêmico como esse, mas o que fazer se as pessoas fazem um bot desses?”, questionou ela. Mirella afirmou ainda que é mais fácil identificar perfis falsos no Twitter do que no Facebook – e um dos problemas é que no Brasil, diferente de outros países, o Facebook é a rede mais usada. “A população de robôs não supera 10% de todos os perfis. O Twitter reconhece que 5% sejam robôs. Mas o problema não é o número de robôs, mas é que eles motivam a discussão muito mais”.

Fonte Época Negócios
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