Defensor da desestatização e de um modelo econômico ajustado à realidade brasileira e que ofereça um “amplo programa de apoio à pequena e média empresa”, o cientista político Bolívar Lamounier sente um clima mais favorável no ambiente político com a troca de presidente na Câmara de Deputados – sai Eduardo Cunha e entra Rodrigo Maia, mais afinado com Michel Temer. Ainda que considere necessário para a economia consolidar indicadores que mostrem uma retomada vigorosa do crescimento, a qual só deverá ocorrer entre 2018 e 2019, Bolívar também acredita que já é possível experimentar ventos favoráveis, alguns deles sinalizados pelo mercado.
Crítico da política econômica adotada pelo governo de Dilma Rousseff, que estimulou ”todo mundo a se endividar e pagando juros astronômicos”, o cientista político entende a necessidade de o atual governo agir de imediato e manter firme a proposta das reformas trabalhista e previdenciária e, posteriormente, de apresentar projetos para as áreas tributária e política.
Bolívar Lamounier também é favorável a uma participação mais ativa da sociedade, especialmente dos agentes econômicos, para o fortalecimento da economia e o afastamento gradativo do que chama de “ilusão chinesa”, para a qual a solidez econômica deve ter como base os grandes conglomerados produtivos.
Indagado sobre a experiência dos brasileiros, que saíram de uma boa condição de consumo para a recessão econômica, o cientista político entende que a propensão para consumir é muito intensa. Mas “espera” que os consumidores tenham aprendido a se endividar menos.
O senhor acredita que Rodrigo Maia, à frente da Câmara, surge como uma nova liderança, com capacidade para apaziguar um pouco mais os ânimos?
Sim, sem dúvida. Rodrigo Maia tem bom trânsito e habilidade, mas não tem a ousadia do Eduardo Cunha. O ideal seria uma mescla do lado bom dos dois, mas nada é perfeito.
E qual será o efeito dessa mudança no curto prazo?
Se pensamos no curto prazo, reconhecemos que ele é uma pessoa muito adequada, ponderada e respeitada, e afina-se muito com o perfil do presidente Michel Temer. No fundo, eles se parecem. São parlamentares sem extremismos, sem atitudes extremadas, como o Eduardo Cunha tem, e sem a carga pesada das acusações que recaem sobre Renan Calheiros.
Mas Rodrigo Maia está distante do novo perfil de político tão aclamado e esperado?
Creio que antes das eleições de 2018 não teremos esse outro perfil de político, considerando a situação atual. Mas em política tudo é possível. A política é um rio correndo.
Mas é possível dizer que a economia responde positivamente às mudanças políticas?
Não há dúvida nenhuma de que a economia já responde positivamente. A Bolsa, por exemplo, subiu em poucos dias de 39 mil pontos para 55 mil (logo depois da confirmação do nome do novo presidente da Câmara) como efeito direto da mudança política.