Crédito corporativo tem fôlego, mas alívio de calotes e juros fica para 2019

0 1.134

A queda de 37,2% no uso do rotativo e parcelado do cartão de crédito pelas empresas sinaliza tendência de melhora no setor privado. As incertezas políticas e avanço no mercado de capitais, porém, adiam recuos mais expressivos nos juros e calotes para 2019.

Os últimos dados do Banco Central (BC), divulgados ontem, apontam que o uso do rotativo e do parcelado do cartão ficaram em R$ 932 milhões em fevereiro deste ano, contra os R$ 1,486 bilhão vistos em igual mês de 2017. O uso do plástico à vista, por sua vez, aumentou 43,7% na mesma relação, saindo de R$ 2,697 bilhões para um total de R$ 3,878 bilhões.

“Exatamente pela rotatividade, o cartão de crédito é um dinheiro mais fácil de obter. E quanto mais facilidade, mais caro. Se o uso desse meio diminuiu é um sinal positivo de que a adimplência está se tornando realidade”, explica o economista e professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EESP/FGV) Alberto Ajzental.

Ainda segundo os dados do BC a inadimplência da modalidade ficou em 10,1% no mês passado, queda de 6,2 pontos percentuais em relação ao mesmo mês de 2017, quando marcava 16,3%. Para o professor da Saint Paul Escola de Negócios Maurício Godoi, o movimento acaba sendo natural em um cenário em que as empresas conseguem gerenciar melhor seu fluxo de caixa.

“Antes, as empresas precisavam do cartão de crédito para financiar a própria produção. Agora, é um novo cenário econômico e de mercado que vivemos e isso faz com que os bancos permitam uma tendência melhor nas concessões e na redução dos juros para companhias”, explica.

Os juros da modalidade, porém, ainda são altos. Em fevereiro, o rotativo ficou em 310,6% ao ano (a.a.), mesmo com queda de 60,1 pontos percentuais (p.p.) ante igual mês de 2017 (370,7% a.a.). Já o parcelado do cartão, no entanto, mostrou alta de 109,2 p.p. na mesma comparação, de 37,5% a.a. para 146,7% a.a.

“O avanço ainda depende do nível de surpresa das eleições deste ano”, complementa Godoi, reforçando que, com o atual ambiente fiscal e político, a ideia é que a migração se alterne entre capital de giro e antecipação de recebíveis.

“As empresas começam a sair de linhas mais caras e migrar para outras modalidades mais seguras. A expectativa é que neste semestre, vejamos um movimento maior de capital de giro – com maior risco – e, a partir de julho, o foco volte a ser antecipação de recebíveis”, avalia o especialista.

Em relação às concessões, as linhas de antecipação de faturas de cartão e desconto de duplicatas cresceram 142% e 33,7%, para R$ 10,3 bilhões e R$ 19,302 bilhões, respectivamente em fevereiro contra igual mês de 2017. Capital de giro, por sua vez, recuou 0,24%, para R$ 10,875 bilhões.

Mercado de Capitais

Ao mesmo tempo, os especialistas ponderam a concorrência do mercado de capitais como algo que também influencie no mercado de crédito em 2018. Segundo o professor de finanças do Labfin da Fundação Instituto de Administração (FIA) Marcos Piellusch, com o “ano bastante incerto”, bancos e tomadores só assumirão riscos maiores se “as condições se mostrarem mais estáveis”. “E isso vale não apenas para o mercado de crédito, mas também para o de capitais”, pontua o professor.

Ele comenta, ainda, que mesmo que o atual momento “dificulte o processo de retomada”, a partir de uma definição política e fiscal, o ambiente deve melhorar. “É tudo uma questão de humor e confiança para que mais recursos via investimentos entre. Esse segmento, inclusive, pode crescer mais e em maior velocidade do que o crédito, principalmente a partir de 2019”, conclui.

Fonte DCI
Notícias Relacionadas
Deixe um comentário

Seu endereço de email não será publicado.