O que o estilo de Andy Jassy, novo CEO da Amazon, ensina para sua carreira

Depois de 25 anos dentro da Amazon, o executivo Andy Jassy chegou à liderança da companhia na última semana com a missão de substituir o fundador Jeff Bezos.

A transição tem recebido atenção da imprensa internacional principalmente pelo desafio de Jassyy comandar, agora, todo o negócio, de uma forma global, e não mais uma divisão.

Antes de assumir a cadeira de CEO, Jassy era chefe da Amazon Web Services, a poderosa AWS, responsável por “manter de pé” boa parte dos servidores da internet mundial.

A mudança de responsabilidades deve ser um desafio para seu estilo de gestão, mas que ele deve ser capaz de driblar com certa facilidade, como esmiuçaram reportagens dos sites Business Insider e Bloomberg sobre seu estilo de liderança e gestão.

Na AWS, Jacy podia trabalhar mais focado. Agora, à frente da Amazon, seu propósito como gestor muda completamente: há menos espaço para o microgerenciamento, uma característica pela qual ele é famoso dentro da empresa.

Com perfil detalhista, ele é apontado como um gestor que olha muito de perto cada projeto, fazendo escrutínios por todos os detalhes e checando os possíveis problemas.

Nas palavras de uma fonte da Business Insider, “Jassy é um tubarão que sentirá o cheiro de uma gota de sangue a 160 quilômetros de distância, se você não estiver pronto”.

O executivo é apontado como alguém duro nas críticas às questões profissionais e extremamente exigente, mas alguém educado e cordial.

Na reportagem publicada pela Business Insider, há fontes que chegam a criticar o nível de microgerenciamento a que Andy Jacy chegava para conhecer os projetos da AWS. Até o texto que divulgaria um serviço novo ele queria olhar de perto.

Para especialistas em gestão e liderança ouvidos pela Exame, isso não é necessariamente um problema, mas um estilo. A questão é que o papel de CEO de uma companhia é menos focado, como a liderança à frente de uma divisão.

E aí devem começar a haver mais mais necessidade de atuações “políticas” e a capacidade de olhar para todos os negócios da empresa.

Hoje, a Amazon tem 1,3 milhão de funcionários em frentes de negócios tão diversas como produção de entretenimento para streaming e drones.

Um dos principais braços direitos de Jeff Bezos, o fundador da Amazon, Andy chegou ao posto de líder da companhia depois de entregar ótimos resultados à frente da AWS.

A empresa domina o mercado de serviços empresárias de cloud e fica à frente da Microsoft. Como foi apontado como os olhos e ouvidos de Bezos em diversos lugares da empresa e por terem trabalho juntos, a Amazon não passa no momento por uma transição brusca na liderança.

Quanto ao microgerenciamento, o CEO da FESA Executive Search, especializada em recrutamento e seleção C-Level Carlos afirma que é possível que como CEO ele deixe de ter esse tipo de comportamento.

“Agora o trabalho dele será dobrado, né? Eu não sou contra fazer esse tipo de gestão porque é muito do perfil da liderança, mas eu acho que o maior cuidado é, sem dúvida, ele saber priorizar o que que, de fato, é importante. Então, agora, dobrou o “tamanho do painel”. Ele vai começar a delegar mais o tipo de coisa. Não dá pra pensar que ele vai dedicar horas pra decidir o nome de um produto, enquanto tá rolando uma discussão lá na Corte Americana sobre concentração no setor de tecnologia”, opina Carlos Guilherme,

O professor de liderança Paul Ferreira, da Fundação Dom Cabral, entende que é preciso separar o gestor da AWS do homem que será CEO da Amazon.

“O que sabemos dele é como ele era à frente da AWS. O que ele era lá não significa que ele vai continuar sendo à frente da Amazon. Isso é importante porque ele vai poder escolher “que pessoa” ele vai ser agora. E ele vai ter que se adaptar. São uma série de escolhas que ele vai ter que fazer e a gente não sabe muito bem quais serão”.

Quanto ao perfil detalhista, Paul Ferreira aponta vantagens e desvantagens.

“Isso de ser minucioso e detalhista tem pontos positivos e negativos. Quando a gente tem que tomar decisões, é interessante saber que seu líder entende as consequências e sabe os detalhes. Então esse estilo dele também ajudava a valorizar o trabalho dos subordinados. Isso é positivo. Além de entender os efeitos de cada projeto mesmo”.

Como ponto negativo, o professor afirma que algumas pessoas podem pensar que você pode estar duvidando delas, ao querer saber no mínimo detalhe.

Ao mesmo tempo em que é importante questionar, é importante passar para os outros que você confia neles e no trabalho de checagem de informações que ela já tenha feito.

Outro ponto é que se seu chefe está entrando em cada uma das decisões. Talvez ele esteja sem tempo para focar em cada uma das decisões de longo prazo.

Pressão sobre os funcionários

Apesar de as reportagens apontarem que o Jassy é um líder respeitoso, a pressão aos funcionários é um ponto chave na liderança do novo CEO também.

“A gente sabe que o ambiente da Amazon é competitivo, de alta eficiência. O cliente é o primeiro valor, então é um ambiente de alta pressão. Ainda que ele coloque pressão com respeito, o excesso acaba gerando problemas no longo porque as pessoas acabam saindo das empresas e até transtornos mentais, como Síndrome de Burnout.”

Na transição entre Bezos e Jassy, ficou claro que a companhia quer dar mais atenção aos funcionários. A empresa adicionou duas novas “cláusulas” ao conjunto de 14 princípios de liderança que a regem. Agora, ela também quer “lutar para ser o melhor empregador do planeta”, e “sucesso e escala trazem grandes responsabilidades”.

O recrutador Carlos Guilherme pondera, porém, que é papel do CEO questionar e fazer as perguntas certas. “Tem uma linha tênue das pessoas entenderem isso quase como uma humilhação. Mas é tirar as pessoas da zona de conforto e fazer ela serem melhores. Então, eu acho que o bom líder é o cara que, com respeito, ele consegue dar aquela cutucada. De perguntar: Por que você não pensou nisso?”, questiona.

Outro ponto importante é que um CEO de uma companhia desse tamanho precisa ter alguns pilares de sustentação, na visão do executivo.

“O primeiro é um um alinhamento de cultura. Não adianta ele ficar no topo e o mundo inteiro não estar praticando a cultura. Cultura não é o que o presidente escreve na parede da empresa, né? É o que se pratica de fato. Como é que cê faz isso, né? Aí entra acho que o segundo pilar, que é montar uma equipe muito alinhada e muito forte pra isso. E pra mim um terceiro ponto, principalmente na empresa como a Amazon, de tecnologia, é conseguir manter o nível de inovação”, explica.

A capacidade de delegar é um fator destacado pelo professor como característica fundamental de alguém que comanda um milhão de pessoas.

“Eu duvido que ele tenha a capacidade de entrar nos detalhes, até mesmo nos grandes projetos. Um sinal disso até é que ele chamou de volta para a Amazon dois executivos que tinham saído da empresa. Na minha interpretação, ele traz essas duas pessoas de confiança, o que indica que ele terá que delegar.”

Adam Selipsky, que ajudou a criar a AWS e voltou para liderá-la, e o veterano Jeff Blackburn, que passou por um ano sabático e está a frente da divisão de mídia e entretenimento, fazem parte da equipe de Jassy.

Fora do comando da Amazon, o bilionário Jeff Bezos continuará no Conselho de Administração. Em seu comunicado de saída, afirmou que acredita que a Amazon está em sua fase mais inovadora e que está animado com a transição e que ele próprio não pensa em aposentadoria.

“Terei o tempo e energia que preciso para focar no Fundo Dia 1, o Fundo Bezos pela Terra, a Blue Origin e o The Washington Post, e minhas outras paixões. Nunca tive tanta energia, e isto não é sobre aposentadoria. Eu estou super apaixonado pelo impacto que acredito que estas organizações podem ter”, disse em fevereiro, época em que anunciou a saída.

Enquanto a liderança e a gestão de Andy Jassy será testada, Bezos não deve sair dos holofotes.

 

 

 

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