O ex-boia fria que ergueu o maior varejo de calçados do interior paulista

Ainda criança, com sete anos de idade, ele já trabalhava como lavrador, em Bandeirantes, no Paraná, para ajudar os pais no sustento dos dez filhos. Hoje, o empresário Pereira é dono da rede de calçados Passarela, que faturou R$ 600 milhões em 2016. Além de 40 lojas físicas espalhadas pelo interior de São Paulo, a rede varejista é uma das principais lojas virtuais multimarcas do país. Enfrenta como principal concorrente a Dafiti, que é financiada pelo fundo alemão Rocket Internet.

Da cana para o varejo

Quando trabalhava na terra de grandes produtores paranaenses, Pereira diz que sonhava em deixar o campo e conhecer a cidade. Os 15 quilômetros que separavam a fazenda onde morava do centro de Bandeirantes faziam com que a rotina da família fosse sempre voltada para o trabalho. Mesmo sendo refém de uma vida muito simples, Pereira nunca deixou de estudar. O incentivo vinha da mãe, que analfabeta, também vislumbrava um futuro diferente para os filhos.

Durante anos, conciliou a escola com o trabalho na lavoura até o dia em que a família teve condições de se mudar para Itatiba, a 85 quilômetros da capital paulista. “Falavam que Itatiba tinha muito emprego –era tudo o que precisávamos”, diz.

Na época (1974), com 19 anos e recém-chegado do Paraná, ele conseguiu seu primeiro emprego com carteira assinada como lixador de móveis coloniais. Em pouco tempo, passou para a função de lustrador. Em menos de um ano, conseguiu outro trabalho, em que ganharia o dobro pela mesma função. Nos dias da folga, seu passeio preferido era visitar Jundiaí – a cidade mais próxima dali, com um comércio já bem formado. A quantidade de lojas e grande movimento de pessoas consumindo despertaram no jovem o desejo de trabalhar no varejo.

De tanto visitar as mesmas lojas, se tornou amigo de um dos comerciantes da cidade, dono de uma loja de calçados, que lhe propôs um novo trabalho. De mudança para Jundiaí, distante 57 quilômetros da capital, entrou de vez para o ramo de calçados.

A proposta era se mudar para Jundiaí, trabalhar como guardador de caixas durante o dia, estudar à noite, morar num quartinho nos fundos da loja e se tornar uma espécie de vigia do estabelecimento. Em sete meses, Pereira se tornou gerente da loja, que tinha 12 funcionários. “Foi muito fácil me tornar líder porque eu tinha muita sede de crescimento”, diz.

Um ano depois ele convenceu o chefe de que era hora de abrir a segunda loja. Pesquisaram novos pontos de vendas, se planejaram e abriram a nova unidade. Se tudo desse certo, o empresário garantiu a Pereira que ele se tornaria sócio do negócio. No mesmo ano, a dupla montou a terceira loja, da qual Pereira teria 50% da sociedade. Em 1986, a entrada do plano cruzado balançou o fundador da rede de calçados que ofereceu a Pereira a parte dele no negócio. “O valor era simbólico, bem abaixo do mercado e parcelado em dois anos. Todo mês pagaria um montante bem menor do que as lojas faturavam por mês”.

Quando assumiu os estabelecimentos, Pereira rebatizou o nome para Passarela e daí em diante não parou de expandir o negócio por todo o interior do Estado. Hoje, a rotina do empresário é bem diferente de quando tudo começou. Forte concorrente de um mercado que movimentou R$ 44 bilhões em 2016, Pereira viaja ao menos duas vezes por ano para o exterior. Sempre em busca de novidades nos Estados Unidos e em países da Europa.

Difiiculdades

Sustentando bons números diante da crise e com mais de dois mil funcionários, Pereira diz enfrentar dificuldades com a queda no poder de compra dos consumidores. Mas, não é só isso.

Vencedora do prêmio Época Reclame Aqui 2017, que premia as melhores empresas para o consumidor, a empresa se preocupa com sua reputação. De acordo com o empresário, as grandes ideias de atendimento, que ele considera um diferencial da rede, vieram do “chão das lojas”. “Uma das coisas mais valiosas que a Passarela construiu é o fácil acesso dos colaboradores ao corpo diretivo”. A capacitação da equipe de vendas, também precisa ser intensa e frequente, segundo o empresário.

Já no e-commerce, o revés está nos gargalos da logística que inflaciona os preços, aumenta o tempo de entrega, e algumas vezes frustra a experiência de compra do cliente. Além disso, ele também aponta que tributação, leis trabalhistas, estoques mal projetados, produtos mal escolhidos e a falta de mão de obra qualificada podem acabar com o sucesso de qualquer negócio, ainda que os consumidores estejam dispostos a gastar.

Diante de todos esses obstáculos, o empresário diz ter apenas um conselho para dar: atender bem sempre. Ser atento no pós-venda e lançar novidades e promoções alinhados ao perfil de consumo. “O segredo é deixar claro para o cliente, que determinada oferta foi criada especialmente, para ele”, diz.

Com 40 mil itens à venda no site, Pereira assume que o e-commerce é ainda sua maior preocupação. Responsável por 45% do faturamento anual da empresa, a plataforma, que foi lançada em 2005, ainda pode crescer muito. A grande meta de Pereira é rentabilizar o e-commerce e alcançar a liderança de seu segmento no comércio eletrônico brasileiro até 2020. Para tanto, será necessário superar a Dafiti, que em 2016 alcançou receita líquida de R$ 1,2 bilhão.

Na contramão da concorrência, a empresa nunca recebeu investimentos externos. Depois de recusar algumas propostas, Pereira vive um período de seca. Hoje, ele reconhece a importância de um investidor para que um negócio do porte da Passarela ganhe mais terreno.

PassarelaVanoil Pereira
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