Rossano Iaconelli nem consegue se lembrar da \u00faltima vez em que usou a placa de \u201cN\u00e3o h\u00e1 vagas\u201d no estacionamento que administra desde 1996 na Avenida Paulista, regi\u00e3o nobre e cercada por escrit\u00f3rios em S\u00e3o Paulo. \u201cMuitas empresas fecharam, quem tinha trocado a sala comercial por um endere\u00e7o compartilhado, para cortar custos, tamb\u00e9m n\u00e3o aguentou. Dois concorrentes fecharam recentemente e nem assim meu movimento cresceu. Est\u00e1 bem dif\u00edcil, n\u00e3o \u00e9 hora de mexer no pre\u00e7o.\u201d<\/p>\n
Na mesma avenida, o estacionamento de Danilo Scatolini teve de transformar o pre\u00e7o da primeira hora no total cobrado pelo dia inteiro. \u201cMesmo com todo o esfor\u00e7o, a frequ\u00eancia caiu 50%, no m\u00ednimo. A gente nem consegue ganhar o suficiente para pagar o aluguel e os custos trabalhistas, estamos no vermelho. Este estacionamento existe h\u00e1 mais de 40 anos, mas, se continuar assim, n\u00e3o vamos durar muito mais tempo.\u201d<\/p>\n
Nos \u00faltimos meses, os pre\u00e7os dos servi\u00e7os deram, enfim, sinais de que tamb\u00e9m sucumbiram \u00e0 recess\u00e3o. Em maio, o IPCA registrou alta de apenas 0,05% nos servi\u00e7os e, em 12 meses, essa infla\u00e7\u00e3o foi recuando de 6,05% em mar\u00e7o para 5,96% em abril e 5,62% em maio. Para o IBGE, esse \u00edndice \u00e9 mais resistente porque parte dele vem da indexa\u00e7\u00e3o de contratos, que tende a perder for\u00e7a de alta \u00e0 medida que a infla\u00e7\u00e3o arrefece.<\/p>\n
\u201cOs pre\u00e7os continuaram subindo, n\u00e3o d\u00e1 para esperar uma defla\u00e7\u00e3o nessa categoria, mas o ritmo de alta dos servi\u00e7os perdeu mesmo f\u00f4lego\u201d, diz o economista Fabio Rom\u00e3o, da LCA Consultores. \u201cNo ano passado, o IPCA para os servi\u00e7os subiu 6,5% e j\u00e1 comemoramos. Agora, nossa previs\u00e3o \u00e9 de alta de 4,9%, a menor desde o ano 2000.\u201d<\/p>\n
Margem<\/strong><\/p>\n Para compensar a baixa demanda do consumidor, reflexo da crise, o comerciante muitas vezes prefere ver sua margem de lucro reduzida a cobrar mais dos clientes, e a falta de reajuste nos pre\u00e7os j\u00e1 pode ser sentida pelo brasileiro.<\/p>\n Quando a cabeleireira Maria Gorete de Oliveira abriu seu sal\u00e3o de beleza na zona sul de S\u00e3o Paulo, em julho de 1993, um exemplar do jornal O\u00a0Estado\u00a0de S\u00e3o Paulo custava Cr$ 30 mil (cruzeiros) em uma banca de S\u00e3o Paulo \u2013 o dobro do que era cobrado tr\u00eas meses antes. \u201cEu tinha de mexer nos pre\u00e7os o tempo todo. Qualquer descuido, acabaria no preju\u00edzo. Olhando para tr\u00e1s, parece at\u00e9 outro mundo.\u201d<\/p>\n Da \u00e9poca em que a alta da infla\u00e7\u00e3o era uma conversa recorrente entre as clientes do sal\u00e3o, s\u00f3 ficou a mem\u00f3ria. \u201cN\u00e3o consigo aumentar os valores desde o come\u00e7o do ano, n\u00e3o quero correr o risco de perder movimento. Fiz pacotes promocionais, dei desconto no corte, no alisamento, mas nem assim deixei de perder clientes\u201d, diz Maria.<\/p>\n Para o professor da PUC-Rio Jos\u00e9 Marcio Camargo, a infla\u00e7\u00e3o de servi\u00e7os \u00e9 resistente porque as empresas s\u00f3 conseguem reduzir o sal\u00e1rio nominal dos funcion\u00e1rios em uma negocia\u00e7\u00e3o coletiva. \u201cO custo \u00e9 reduzido quando o funcion\u00e1rio \u00e9 demitido e outro \u00e9 colocado no lugar por um sal\u00e1rio menor, mas esse impacto demora para chegar at\u00e9 o consumidor.\u201d<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Ritmo de alta dos pre\u00e7os do setor vem perdendo f\u00f4lego, e previs\u00e3o \u00e9 que fechem o ano com alta de 4,9%, que seria a menor desde 2000<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":40101,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"content-type":""},"categories":[96],"tags":[582,596,7295],"yoast_head":"\n