A quarentena imposta pela pandemia do coronav\u00edrus mudou os h\u00e1bitos de consumo dos brasileiros. Alguns produtos ganharam em vendas, outros perderam. A consultoria de pesquisa de mercado Euromonitor analisou o comportamento do consumidor nas \u00faltimas semanas para entender essa movimenta\u00e7\u00e3o e tra\u00e7ar cen\u00e1rios para os pr\u00f3ximos meses. \u201cAlgumas categorias cresceram 200% nas primeiras semanas de isolamento, mas sabemos que esses efeitos dificilmente s\u00e3o sustentados ao longo do ano todo. Algumas delas podem terminar o ano no zero a zero. Nosso foco \u00e9 entender movimentos que tenham um impacto anual\u201d, afirma Angelica Salado, gerente de pesquisa da Euromonitor.<\/p>\n
O setor de alimentos foi um dos que sentiu o impacto do isolamento social imposto pelo coronav\u00edrus. Com boa parte da popula\u00e7\u00e3o brasileira em quarentena e restaurantes fechados, as pessoas abasteceram as despensas e est\u00e3o cozinhando mais. A corrida ao supermercado, no entanto, gerou alguns exageros. \u201cNas primeiras semanas houve uma corrida t\u00e3o grande que em alguns produtos foi comprado o tanto que ser\u00e1 consumido no ano todo\u201d, afirma Salado.<\/p>\n
\u00c9 o caso dos itens considerados de indulg\u00eancia. Esses produtos tiveram grande procura, mas podem sentir redu\u00e7\u00e3o agora, uma vez que as fam\u00edlias est\u00e3o mais apreensivas com o futuro da economia, diz a gerente da Euromonitor. Por outro lado, produtos de consumo b\u00e1sico como arroz, macarr\u00e3o, molhos e enlatados devem ter crescimento mais consistente no ano, devido ao maior n\u00famero de refei\u00e7\u00f5es feitas em casa.<\/p>\n
Um ponto importante no segmento de alimentos \u00e9 que as marcas consigam fazer seus produtos chegarem \u00e0s prateleiras do supermercado. \u201cNo momento, a efici\u00eancia log\u00edstica \u00e9 um atributo que vai determinar quem ganha e quem perde espa\u00e7o no mercado\u201d, afirma Salado. As restri\u00e7\u00f5es impostas pelo coronav\u00edrus t\u00eam dificultado a chegada de alguns produtos \u00e0s g\u00f4ndolas. Eles acabam substitu\u00eddos por marcas pr\u00f3prias das redes varejistas ou outras que estejam dispon\u00edveis. \u201cNesse contexto, a marca mais eficiente em evitar o desabastecimento vai ganhar espa\u00e7o independentemente da categoria\u201d, afirma.<\/p>\n
Pelas contas da Euromonitor, o cen\u00e1rio mais leve dentre os previstos para a economia brasileira nos pr\u00f3ximos meses se assemelha ao visto no pa\u00eds em 2016, auge da crise econ\u00f4mica da qual o pa\u00eds come\u00e7ava a sair antes da pandemia. Com isso, a previs\u00e3o da consultoria \u00e9 de consolida\u00e7\u00e3o de um comportamento de compra mais comedido, com menos espa\u00e7o para itens sup\u00e9rfluos. \u201cVamos estabelecer um novo n\u00edvel de compra pautado pela incerteza\u201d, afirma Salado.<\/p>\n
Outra categoria analisada pela consultoria \u00e9 a de produtos para fortalecer o sistema imunol\u00f3gico. Itens como vitamina C, multivitaminas e produtos naturais, como pr\u00f3polis, tiveram alta procura, ficaram esgotados em alguns pontos de venda e tiveram aumento de pre\u00e7o. \u201cDesde a confirma\u00e7\u00e3o do primeiro caso em fevereiro, os pre\u00e7os subiram no pa\u00eds. A vitamina C, por exemplo, registrou taxa de crescimento de quase 200%, de fevereiro a mar\u00e7o de 2020\u201d, diz o relat\u00f3rio da consultoria.<\/p>\n
No entanto, a consultoria ressalta que, com a demanda aquecida, pode haver falta de mat\u00e9ria-prima para sustentar a produ\u00e7\u00e3o e o suprimento desses itens no m\u00e9dio prazo. Tamb\u00e9m n\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel identificar se isso se refletir\u00e1 em um comportamento de compra consolidado nos pr\u00f3ximos meses. \u201cO h\u00e1bito de se preocupar com a pr\u00f3pria sa\u00fade vai continuar, mas \u00e9 cedo para dizer se isso levar\u00e1 a uma mudan\u00e7a no padr\u00e3o de compra. Hoje, esses n\u00e3o s\u00e3o produtos essenciais para a maioria da popula\u00e7\u00e3o\u201d, afirma Salado.<\/p>\n
No setor de higiene, itens como como sabonetes, em especial aqueles com antibactericida, ganham espa\u00e7o. \u201cEsses itens devem maior performance esse ano, porque foram criadas novas necessidades. As pessoas v\u00e3o lavar mais as m\u00e3os\u201d, afirma Salado. Segundo o relat\u00f3rio da Euromonitor, o sabonete l\u00edquido teve aumento de pre\u00e7o semanal de 20% entre fevereiro e mar\u00e7o devido \u00e0 alta demanda. Produtos de limpeza tamb\u00e9m devem ter aumento nas vendas. J\u00e1 o papel higi\u00eanico, que chegou a faltar nas prateleiras nas primeiras semanas de quarentena, pode chegar ao final do ano com vendas normalizadas, uma vez que as vendas tendem a cair ap\u00f3s a euforia das primeiras semanas.<\/p>\n
Os produtos de maquiagem e perfumaria perdem espa\u00e7o, assim como bebidas alco\u00f3licas e moda. \u201cVia de regra, categorias de consumo em um ambiente social devem sentir impacto negativo\u201d, afirma Salado. O foco para as empresas que dependem desses produtos \u00e9 se adaptar. \u201cAs companhias devem fazer um exerc\u00edcio de realocar capacidade produtiva para categorias consideradas essenciais nesse momento. Aquelas que conseguirem adaptar linhas de produ\u00e7\u00e3o devem ganhar participa\u00e7\u00e3o no mercado\u201d, afirma. Segundo Salado, desovar estoques via promo\u00e7\u00f5es n\u00e3o \u00e9 uma boa estrat\u00e9gia, mas sim entender que vivemos um per\u00edodo de ocasi\u00f5es de consumo diferentes. O momento tamb\u00e9m coloca \u00e0 prova a estrat\u00e9gia digital das companhias, com o aumento das compras pela internet.<\/p>\n
Na parte de entretenimento, um movimento importante identificado pela consultoria foi o aumento nas vendas do segmento de videogames. \u201cEra um setor que vinha ganhando espa\u00e7o inclusive entre adultos. Agora vemos um movimento de compra de consoles, antecipando as compras esperadas para a Black Friday\u201d, afirma Salado. Outros itens como computadores pessoais e equipamentos de cozinha tamb\u00e9m est\u00e3o em alta, devido ao trabalho em casa adotado por muitos profissionais, e ao fato de as fam\u00edlias estarem cozinhando mais.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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