Prop\u00f3sito, amor, respeito, intui\u00e7\u00e3o, muito trabalho e um tanto de f\u00e9. Essa \u00e9 a receita do sucesso de Luiza Trajano, presidente do conselho de administra\u00e7\u00e3o do Magazine Luiza. Ela sabe do que fala. Sua empresa, com quase mil lojas pelo pa\u00eds e uma presen\u00e7a digital invej\u00e1vel, faturou R$ 20 bilh\u00f5es em 2018. Mesmo assim, refor\u00e7a: \u201co prop\u00f3sito deve estar acima do dinheiro e do ego\u201d.<\/p>\n
Luiza se apresentou durante o \u201cCapitalismo Consciente Latin-American Conference 2019\u201d, evento que acontece em S\u00e3o Paulo. Durante sua apresenta\u00e7\u00e3o, n\u00e3o falou somente do imp\u00e9rio fundado por seu tio e administrado por ela mesma ao longo das \u00faltimas d\u00e9cadas, mas discutiu a import\u00e2ncia da humaniza\u00e7\u00e3o dentro do dia a dia de um neg\u00f3cio.<\/p>\n
Na sua vis\u00e3o, respeito \u00e0 diversidade, cuidado com a equipe, olhar com \u201ccarinho\u201d para os clientes e se atentar \u00e0s novas tecnologias foram elementos que fizeram a diferen\u00e7a na hist\u00f3ria do Magazine Luiza. Outro t\u00f3pico de extrema relev\u00e2ncia dentro da companhia \u00e9 a quest\u00e3o das mulheres. \u201cVoc\u00eas n\u00e3o sabem a revolu\u00e7\u00e3o que foi uma mulher vir do interior entrar num mercado repleto de homens\u201d, diz ela ao p\u00fablico presente.<\/p>\n
Luiza \u00e9 fundadora do Grupo Mulheres do Brasil, rede criada em 2013 por mulheres executivas, com o intuito de engajar a sociedade por meio do empreendedorismo feminino. Ao longo do painel, lembrou de situa\u00e7\u00f5es marcantes na sua hist\u00f3ria. \u201cQuando comecei, esperavam que as empres\u00e1rias fossem bravas e usassem um determinado tipo de roupa. Mas eu mantive meu feminino. Eu n\u00e3o uso cal\u00e7a comprida para trabalhar. Segui meu cora\u00e7\u00e3o, certa de que n\u00e3o podia perder minha ess\u00eancia\u201d, diz.<\/p>\n
Intui\u00e7\u00e3o, inclusive, \u00e9 outra palavra mandat\u00f3ria para Luiza. Ao menos, foi o que garantiu \u00e0 empres\u00e1ria a certeza de que estava no caminho certo. \u201cFui muito criticada quando comecei a me arriscar\u201d, afirma. A sa\u00edda foi se agarrar ao objetivo \u2014 e \u00e0 f\u00e9 \u2014 para continuar em frente. \u201cQuando voc\u00ea sabe o que quer, fica mais f\u00e1cil.\u201d<\/p>\n
Segundo a empres\u00e1ria, o que ela queria era ir al\u00e9m do lucro. \u201cTamb\u00e9m queria uma empresa que fosse boa para as pessoas e com prop\u00f3sito. O prop\u00f3sito \u00e9 a espinha dorsal de uma empresa\u201d, diz.<\/p>\n
Das decis\u00f5es arriscadas que diz ter tomado, cita dois exemplos: quando fez a transforma\u00e7\u00e3o digital do neg\u00f3cio e uma parceria fechada com um fundo de investimentos. Alguns anos depois, pode-se dizer que a primeira decis\u00e3o deu muito certo \u2014 s\u00e3o mais de R$ 4 bilh\u00f5es em vendas nas plataformas digitais e nas lojas f\u00edsicas.<\/p>\n
A segunda, no entanto, serviu como aprendizado. Luiza n\u00e3o d\u00e1 detalhes do caso, mas conta que o fundo havia aportado R$ 40 milh\u00f5es no neg\u00f3cio. Segundo ela, o dinheiro ajudaria muito a empresa \u2014 e a fam\u00edlia Trajano \u2014 naquele momento. A parceria, por\u00e9m, n\u00e3o se mostrou frut\u00edfera. Os respons\u00e1veis pelo fundo come\u00e7aram a mudar demais o neg\u00f3cio \u2014 e Luiza viu seu prop\u00f3sito se perdendo pelo caminho.<\/p>\n
O que ela decidiu fazer? Cancelou o contrato e devolveu o aporte. Depois de 15 dias, viu o antigo Unibanco se interessar e investir no neg\u00f3cio. Dessa parceria, a Magazine Luiza colheu frutos que ela entende que jamais colheria se ainda tivesse com os primeiros investidores. \u201cQuerem saber uma regra de ouro? Os valores da empresa t\u00eam que estar nos s\u00f3cios, n\u00e3o no papel\u201d, afirma a empres\u00e1ria, sob aplausos da plateia.<\/p>\n
Uma quest\u00e3o que Luiza n\u00e3o deixa passar em branco \u00e9 o combate ao ass\u00e9dio que, segundo ela, \u201c\u00e9 um dos pontos mais fortes da empresa\u201d. A empres\u00e1ria conta que, um ano atr\u00e1s, o Magazine Luiza fez uma pesquisa com todos seus funcion\u00e1rios, a fim de saber se todos sabiam o que era considerado ass\u00e9dio sexual e\/ou moral.<\/p>\n
A partir das respostas, desenvolveu um programa de prote\u00e7\u00e3o \u00e0s funcion\u00e1rias \u2014 tanto no ambiente de trabalho, quando em ambientes pessoais. Durante esse per\u00edodo, surgiram a proibi\u00e7\u00e3o da frase \u201c\u00e9 s\u00f3 uma brincadeira\u201d e a campanha publicit\u00e1ria \u201cEu meto a colher sim\u201d, em refer\u00eancia \u00e0s mulheres que sofrem de viol\u00eancia dom\u00e9stica. Al\u00e9m disso, a rede desenvolveu um aplicativo para mulheres denunciarem casos de ass\u00e9dio e, mensalmente, l\u00edderes se re\u00fanem para discutir a quest\u00e3o.<\/p>\n
\u201cMesmo assim, dois meses atr\u00e1s, tivemos um gerente que agrediu sua esposa. Se isso acontece na minha empresa, onde eu batalho tanto, imagine l\u00e1 fora?\u201d, diz. No fim, insiste Luiza, \u00e9 tudo sobre o tal do prop\u00f3sito. \u201cN\u00e3o pode ser s\u00f3 dinheiro. Essa vai ser a grande salva\u00e7\u00e3o das empresas.\u201d<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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