O que o varejo brasileiro pode aprender com os chineses

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Por André Faria, CEO da Bluesoft, empresa de tecnologia especializada em softwares de gestão em nuvem

Definitivamente, foi-se o tempo em que a China apenas “copiava” outros países, desenvolvendo produtos mais baratos e de baixa qualidade. A edição 2019 da NRF, a principal feira do varejo mundial, realizada em Nova Iorque, nos mostrou justamente o contrário. Os chineses ganharam respeito com inovações e cases que farão o país alcançar em 2019, segundo a eMarketer, o topo de negócios no varejo mundial que hoje está a cargo dos norte-americanos. As vendas na China devem atingir US$ 5,636 trilhões, um crescimento de 7,5% em um ano, contra US$ 5,529 trilhões dos Estados Unidos, que avançaria 3,3%.

O crescimento do comércio na China é impulsionado pelas vendas digitais, que devem aumentar 30% em 2019, como aponta a eMarketer (nos Estados Unidos, esse índice deve ficar em 10,9%). Hoje, os chineses estabelecem tendências e vendem para o mundo inteiro, inclusive para o Brasil, onde plataformas como Alibaba, Wish, Asos, Gear Best e Tiny Deal se popularizaram. Trocando em miúdos, temos muito o que aprender com esses asiáticos quando o assunto é varejo.

Segundo o presidente do Alibaba Group, J. Michael Evans, a maneira com que geralmente nos referimos ao Alibaba, dizendo que é a Amazon da China, está errada. O Alibaba é um marketplace e não um varejista. A companhia não compete com marcas, diferente da gigante americana, nem com as pequenas e médias empresas que usam o site.

Evans reforça que a China é um mercado enorme para se vender produtos de outros países. Há 300 milhões de pessoas na classe média e outros 300 milhões são esperados para se juntar a esse grupo nos próximos cinco anos. Por isso, vender na China produtos produzidos no exterior e expandir operações nos Estados Unidos e na Europa fazem parte da estratégia de globalização do Alibaba.

Os números do Alibaba são de admirar. São 600 milhões de consumidores e 10 milhões de PMEs na plataforma, US$ 780 bilhões em vendas, 70 milhões de entregar por dia e 10 mil itens com entrega para os Estados Unidos diariamente. Mas as inovações não ficam somente no seu poderoso e-commerce. O grupo está cada vez mais próximo dos supermercados.

O Alibaba, com seu conceito de novo varejo, trouxe novidades surpreendentes. Os seus supermercados, chamados de Freshippo, mantém processos altamente tecnológicos de logística de separação de pedidos, um self checkout inteligente que permite o pagamento via reconhecimento facial, etiquetas eletrônicas com QR Code que oferecem inúmeras informações ao cliente pelo celular, um restaurante dentro da loja que usa robôs para entregar e retirar os pratos, entre outras coisas.

A JD Fashion, outra gigante chinesa, também é um ícone da inovação do varejo naquele país. Seu diretor de Desenvolvimento de Negócios, Harlan Bratcher, costuma ressaltar que a China é o país mais avançado do mundo no uso de pagamentos pelo celular. Por isso, considerando que a vasta maioria das transações é realizada digitalmente, desenvolveu-se uma parceria com o aplicativo WeChat, uma espécie de Whatsapp, já utilizado por 300 milhões de clientes ativos, que se beneficiam de 500 depósitos e 7 mil estações de entrega. Os pedidos levam, no máximo, 24 horas para serem entregues, com drones em algumas operações, além da rede manter sete lojas sem nenhum atendente e artigos de luxo que podem chegar à casa dos clientes em até 2 horas.

Enquanto muitos varejistas do restante do mundo enfrentam retração, o mercado chinês sofre um fenômeno de aquecimento ano após ano. E não deverá ser diferente em 2019, 2020, 2021. No primeiro semestre de 2018, o varejo chinês teve um aumento médio de 9% sobre o registrado em 2017, puxado especialmente pelo e-commerce, que representa 20% de todo o seu comércio, como aponta a pesquisa Trading Economics. No Brasil, esse percentual é de apenas 4%.

A busca de ganho operacional através de automação e robótica, com lojas sem atendentes e serviços inovadores, deve ser permanente no Brasil, onde a perspectiva de crescimento do varejo é gradativa e constante. Uma pesquisa da consultoria Deloitte com 826 empresas que somaram faturamento de R$ 2,8 trilhões em 2017, ou 43% do Produto Interno Bruto (PIB), aponta que 97% dos empresários pretende realizar algum investimento em 2019, o maior percentual da série histórica.

A confiança na retomada da economia, com o bom aproveitamento dessa janela de oportunidades, poderá ser um passaporte para transformar definitivamente o Brasil em um país mais moderno e cheio de oportunidades, a exemplo do que fez a China.

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