Novo consumidor, necessidades antigas

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Por Gustavo Carrer*

A rápida evolução da tecnologia, particularmente daquelas aplicadas ao varejo e consumo, muitas vezes nos fazem acreditar que as necessidades das pessoas avançam no mesmo ritmo. Não há dúvida de que consumidores mais informados e empoderados vão fazer suas compras baseadas em novos parâmetros, mas será que as demandas mais básicas mudaram tanto assim?

Nos anos 80, eu via meu avô assistindo futebol aos domingos de uma maneira muito particular: ele tirava o som da TV e ouvia o jogo pelo rádio. Isso sempre me deixou intrigado, mas respeitei essa escolha. Nas poucas vezes que comentou sobre isso, ele dizia que era mais emocionante ouvir a locução do rádio.

Naquela mesma época, semanalmente eu acompanhava meu pai até a agência dos Correios, para buscar as correspondências que eram entregues na caixa postal da escola em que ele era diretor. Eu achava aquilo pouco prático, já que também recebíamos cartas em casa, mas ele explicou que a caixa postal era melhor pelo tipo e volume de documentos que recebia.

Por outro lado, até meados dos anos 90, todos os anos recebíamos em casa uma lista telefônica impressa, que continha de forma organizada os anúncios das mais variadas empresas, as conhecidas páginas amarelas. Para quem não teve a oportunidade de conhecer, eram chamadas assim, pois as páginas de anúncios eram impressas em papel amarelo mesmo. Nelas era possível encontrar fornecedores dos mais variados setores, de pneus, à eletricistas, de materiais de construção à revenda de carros usados.

Embora seja divertido lembrar disso tudo, meu objetivo não é o saudosismo, muito pelo contrário. Passados 40 anos, com todos os avanços da tecnologia e da sociedade, as pessoas continuam com demandas muito parecidas.

Gustavo Carrer, gerente de Desenvolvimento de Negócios da Gunnebo

Trazendo para os dias atuais, os marketplaces, em grande medida, se assemelham às páginas amarelas, mas sem dúvida vão muito além, pois permitem a compra imediata sem a interação humana. No passado era necessário, no mínimo, usar o telefone para comprar algo.

As empresas investiam em anúncios nas listas amarelas pois era garantia de fluxo (ligações) de clientes, da mesma forma que hoje o principal atrativo para entrar nos marketplaces é exatamente o fluxo de consumidores. Curiosamente, os marketplaces chamam de “anúncios” as páginas em que são exibidos os produtos das empresas que investem em suas plataformas.

As caixas postais modernas, agora se chamam lockers, e estão espalhados por toda cidade, em postos de gasolina e estações de metrô. Acessíveis 24 horas, não ficam limitados somente às agências dos Correios e ao horário comercial. Quando integrados ao comércio eletrônico, oferecem conveniência e agilidade aos usuários na retirada das mercadorias compradas, mas, como no passado, os lockers também podem ser usados para o simples envio de documentos e encomendas entre pessoas físicas, não envolvendo transações comerciais.

Quanto ao hábito do meu avô, nos dias de hoje alguém assiste TV sem usar o celular ao mesmo tempo? Acredito que já éramos adeptos de múltiplos canais, muito antes da palavra omnichannel ter sido dita pela primeira vez.

Será que comprar em marketplaces, usando um celular (enquanto assiste TV) e retirar as mercadorias no locker representam necessidades criadas pela tecnologia? Ou trata-se apenas de soluções modernas para demandas que sempre existiram?

*É gerente de Desenvolvimento de Negócios da Gunnebo, palestrante, consultor da série Mãe S/A do Fantástico da Globo e do Mundo S/A da Globo News, coordenador de missões internacionais a NRF desde 2012 e membro do Conselho Consultivo da Brazilian Retail Week e do Comitê Gestor SP Export na Investe-SP.

 

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