Como tecnologias emergentes, geradas no Brasil, vão impactar o varejo

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Em dezembro de 2016, a Amazon, uma das maiores varejistas online do mundo, anunciou uma operação experimental no setor supermercadista. Batizada de Amazon Go, a loja localizada em Seatlle, nos Estados Unidos, tem se mostrado revolucionária devido a operação 100% automatizada.

Não há caixas ou filas. O consumidor entra na loja, aciona um aplicativo no smartphone, escolhe os produtos e vai embora. O segredo por trás da liberdade é um conjunto de tecnologias, como inteligência artificial, análise de big data e internet das coisas (IOT). No estabelecimento, sensores e câmeras identificam a entrada e mapeiam o deslocamento do visitante na loja. Etiquetas dotadas de chips registram os itens retirados das gôndolas. Os produtos são adicionados automaticamente a uma lista de compras num aplicativo.

Ao sair da loja, o valor da compra é debitado no cartão de crédito do cliente, previamente cadastro no banco de dados da Amazon. Quase um ano depois do anúncio, a Amazon Go ainda opera em modo de testes.

O supermercado tecnológico da Amazon parece bem distante da realidade brasileira. No entanto, o Brasil tem vivido uma efervescência de startups que podem fomentar inovações no varejo. Uma recente pesquisa da aceleradora Liga Ventures, em parceria com a Intel e Tivit, mapeou as startups que atuam em tecnologias emergentes.

O conceito é baseado em inovações com potencial para criar ou transformar o ambiente de negócios nos próximos cinco a dez anos, e que podem alcançar grande influência econômica. Foram avaliadas 7.512 startups nacionais. Dessas, 193 atuam em tecnologias emergentes.

Entre as empresas destacadas, 25% atuam em IOT; 20% em Big Data e Analytics; 14% em inteligência artificial; 10% em realidade aumentada e realidade virtual e 9% em blockchain (a tecnologia por trás do bitcoin). “São tecnologias que já possuem aplicações práticas, despertam grande interesse de empreendedores, corporações e investidores por seu potencial de rápido crescimento e impacto na sociedade”, afirma Raphael Augusto, startup hunter da Liga Ventures.

Aplicações no varejo

Há um movimento no varejo para lançar mão de tecnologias para replicar e integrar experiências online e offline. Em termos de atendimento ao consumidor, haverá a predominância de chatbots, sistemas dotados de inteligência artificial que podem tirar dúvidas e fazer sugestão de produtos de acordo com os hábitos de compra do consumidor.

Os chatbots, que têm sido usados em atendimentos de lojas virtuais, podem ser integrados a aplicativos de marcas e em totens, posicionados nas lojas físicas. Ao mesmo tempo, tecnologias de blockchain podem mudar totalmente a forma como realizamos pagamentos. A inovação permite que clientes, com perfil digital na base de dados da loja, possam realizar pagamentos apenas aproximando o smartphone num sensor, que funcionaria como caixa.

Por meio de aplicativos de realidade aumentada, o consumidor pode posicionar o smartphone nas prateleiras para visualizar informações, dos produtos, como ingredientes, data de validade, formas de pagamento e avaliação de outros clientes.

Caso o visitante tenha dificuldade para encontrar algum item, a tecnologia pode apontar a localização exata entre os corredores da loja. No varejo brasileiro tem crescido o uso de tecnologias de Indoor Analitcs. E o que é isso?

São câmeras de vídeo, integradas a hardware e softwares de análise de dados, que identificam o consumidor e mapeiam seu comportamento na loja. A tecnologia pode descobrir quantas pessoas passam em frente à loja, quais param para olhar a vitrine e quantas entram no estabelecimento.

Também é possível descobrir as áreas mais visitadas e o tempo de permanência nos corredores e no caixa. Uma das empresas que usa essa tecnologia é a Óticas Carol. A empresa monitorou o fluxo de entrada e saída de suas unidades – e descobriu que muita gente saia sem levar nada.

Como armações e lentes são produtos que demandam explicações técnicas, quando a loja estava cheia, o cliente desistia da compra. A marca, então, redistribuiu as equipes de acordo com os horários de pico de cada unidade. O gerenciamento da força de trabalho fez com que a empresa aumentasse as receitas em 6%.

Análise de imagens

Um das startups analisadas pela Liga Ventures é a Meerkat. A empresa é especializada em soluções de visão computacional e análise de imagem para automação de processos. Fundada em 2015, a Meerkat desenvolve tecnologias de contagem de fluxo; reconhecimento facial e detecção de logos em imagens de redes sociais e leitura de placas de automóveis. Entre os clientes estão empresas do setor bancário, de segurança e vigilância, de desenvolvimento de softwares e varejo.

Para estabelecimentos comerciais, as soluções de reconhecimento facial podem ser usadas, por exemplo, para analisar gênero e idade dos consumidores. A ferramenta pode ser usada para mensurar o posicionado de marca e ações de publicidade.

Se uma loja cria, por exemplo, uma campanha para atrair mulheres na faixa dos 50 anos, mas a tecnologia não detecta o público-alvo no estabelecimento, pode haver um problema de comunicação. A tecnologia também pode ser usada para avaliar a atratividade de vitrines e saber que tipo de consumidor presta atenção na fachada da loja. “A solução pode é usada em lojas conceitos, em que a vitrine é um relevante elemento de marca”, afirma Renan Gustavo Franz, diretor da Meerkat.

Durante o último Rock In Rio, a Meerkat participou de uma ação digital para a marca de macarrão instantâneo Cup Noodles. A tecnologia da startup foi usada para reconhecer rótulos dos produtos por meio de smartphone e webcam. Numa brincadeira, cada sabor de macarrão liberava um instrumento musical para o usuário criar suas próprias músicas num site. As músicas gravadas eram compartilhadas nas redes sociais.

Recentemente, a Meerkat foi pré-selecionada para receber investimento de R$ 1 milhão da Finep para aprimorar seus produtos. “Embora haja enorme potencial, as tecnologias emergentes ainda precisam ser testadas e expostas ao mercado para aumentar o nível de acurácia”, afirma Augusto, da Liga Ventures.

 

Fonte Diário do Comércio
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