O desempenho esperado do varejo no quarto trimestre de 2021

Prof. Claudio Felisoni de Angelo, presidente do IBEVAR

Prever o futuro é sempre uma tarefa perigosa. Compreensivelmente torna-se menos arriscada quando o horizonte que se vislumbra transcende o tempo de vida de quem se dispõe ao exercício dessa tarefa ingrata. O mundo costuma ser surpreendente. Ter todo o futuro desenhado é como querer conter um punhado de areia na palma da mão. Parte dela some por entre os dedos, assim como parte dos fatos relevantes escapam a percepção dos sentidos. 

Entretanto, como disse Auguste Comte, fundador da escola do positivismo: “Saber para prever, a fim de poder”. Dito de outro modo, quanto mais areia tivermos mais conseguiremos manter na palma da mão. Quanto mais procuramos saber menor será a desconfortável insegurança que caracteriza o futuro. É da capacidade de prever que advém o poder transformador. Portanto, o futuro que vislumbramos hoje, é uma possibilidade. Poderá ser reconstruído pelas ações que hoje escolhemos. 

Imbuídos por esse pensamento é que o IBEVAR realiza seus estudos preditivos. Em particular trimestralmente o Instituto divulga a pesquisa Intenção de Compra. Como o indivíduo que se vale de mais de um sentido para capturar a realidade, o trabalho também procura perscrutar o futuro imediato, ou seja, o próximo trimestre, no caso outubro – dezembro, se valendo de dois recursos: modelos estatísticos e o monitoramento das redes sociais.

E o que esses radares apontados para esse futuro dizem?  As projeções econométricas mostram um crescimento de 0,68% no quarto trimestre de 2021 em relação ao mesmo trimestre do ano passado é de 0,52%, em relação ao terceiro trimestre deste ano. Esse crescimento é sustentado basicamente pelas categorias: de veículos, combustíveis, produtos farmacológicos, artigos de uso pessoal e vestuário. Em termos do ano de 2021, projeta-se, neste momento, um crescimento do consumo de 7,15% relativamente ao exercício de 2020. 

Esse resultado aparentemente auspicioso precisa ser contextualizado. Deve-se observar que esta recuperação está muito associada ao auxílio emergencial. Note-se que a expansão do quarto trimestre em relação ao terceiro do corrente ano é bastante discreta, ou seja, apenas 0,52%. O mesmo pode-se dizer ao comparar os quartos trimestres desse ano em relação a 2020.

As condições econômicas sustentam essas previsões. A aceleração da inflação, acumulando um índice 10,25% em doze meses, a queda da massa real de pagamentos, em que pese a recuperação limitada do emprego e o movimento ascendente das taxas de juros não indicam um crescimento sustentável do consumo. Portanto, o crescimento de 2021 sobre 2020, deve ser observado com cuidado. As razões que o explicam não estarão presentes no futuro imediato.

Os dados levantados nas redes sociais, que não são agrupados da mesma forma que as séries do IBGE (base das projeções econométricas) e, portanto, não podem ser comparados diretamente, corroboram o cenário pouco promissor do varejo para o quarto trimestre desse ano. Comparando os dois exercícios (2020 e 2021) nota-se que apenas para os segmentos informática e moda registra-se um comportamento nitidamente melhor em 2021.

Esses dados, assim como outras informações, trazem um pouco mais de luz na complexa tarefa de decidir. É difícil imaginar que se possa alterar o ambiente geral de negócios, principalmente no curto prazo. Mas, continua valendo o ensinamento do filosofo francês: saber é poder, ainda que seja no âmbito limitado das organizações.

 

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