Em meio às mudanças nos hábitos de consumo e levando-se em conta as diferenças entre os países e suas culturas, alimentos e bebidas têm sido escolhidos, globalmente, por dois critérios: saudabilidade e bem-estar. É o que aponta o relatório Eat, Drink & Be Healthy, elaborado pela Kantar Worldpanel e que analisa oito mercados globais – Reino Unido, Espanha, México, Portugal, China Continental, França, Brasil e Estados Unidos. De acordo com o levantamento, o lanche saudável está em alta, mesmo com as pessoas se alimentando cada vez menos em casa. A fruta fresca, por exemplo, aumentou sua presença na mesa dos consumidores, enquanto que o café da manhã segue sendo a principal refeição feita nos lares mundialmente.
Queda de alimentação em casa
Com as refeições principais ficando mais simples e leves, além da diminuição do consumo de proteína animal, o número de pratos servidos no almoço e jantar registrou queda de 6% em 2018. As escolhas baseadas na saúde e bem-estar impactaram também na ampliação do mercado de bebidas, com opções como sucos e smoothies ganhando espaço frente aos produtos de grandes marcas.
Quando se compara o número de ocasiões semanais de consumo de alimentos e bebidas em casa, há dois grupos distintos: países onde as pessoas se alimentam no domicílio três vezes por dia e aqueles em que as pessoas só o fazem duas vezes. O snacking – o lanche feito no intervalo das refeições principais – é o fator mais relevante para o entendimento das diferenças entre os mercados. O hábito de petiscar é quase três vezes maior no Reino Unido, onde as pessoas comem em casa três vezes por dia, do que na França, onde a frequência é de duas vezes.
Variação de ocasiões de alimentação em casa
A diminuição do consumo em casa pode impactar o café da manhã, almoço e jantar, mas isso não vale para as ocasiões de lanches. Enquanto o número global de refeições em casa despencou 36 milhões entre 2014 e 2018 – um declínio de 2% em café da manhã, almoço e jantar – os snacks cresceram. Com pessoas fazendo menos refeições principais, especialmente no horário de almoço e jantar, houve um aumento de 0,5% no consumo dos lanches/petiscos, comportamento que é tendência no mundo todo e que ocorre, em sua maioria, à tarde e depois do jantar.
“A alimentação é uma das maiores manifestações culturais de um país, de uma sociedade. Vemos que no Brasil temos uma singularidade de pratos, rituais e ingredientes que nos diferenciam e nos abrem espaço para oportunidades de negócio específicas. Vemos temas globais – como a saudabilidade – sustentando sua relevância, porém cada mercado se apropria disso de forma diferente, com produtos diferentes”, afirma Alain Enya, Out of Home & Usage Manager da Kantar Worldpanel.
Fruta domina ocasiões de snacks
O fato de o café da manhã ser a refeição mais importante globalmente não quer dizer, no entanto, que ele signifique a mesma coisa em todos os mercados. Na China continental, por exemplo, ele ocorre entre 6h e 7h, já na França e Reino Unido, às 7h. Espanhóis e mexicanos fazem a refeição mais tarde, respectivamente, entre 8h e 9h e 9h e 10h. O dinheiro e o tempo empregado também são diferentes. Espanha, França e o Reino Unido gastam menos de 10 minutos preparando o café da manhã em um dia normal, mas são os espanhóis que pagam mais pela ocasião, € 1,60. Mexicanos levam mais de 18 minutos para fazer seu café da manhã – mais que o dobro do tempo de qualquer país ocidental. Mas o que eles perdem em tempo, ganham em custo, gastando apenas 0,30 € em cada ocasião.
Café da manhã em casa
O que vai à mesa no café da manhã também muda de país para país. Os menus no Reino Unido, por exemplo, são dominados por cereais (60%), enquanto os do México e da China Continental incluem muito mais ingredientes – incluindo ovos e especiarias. No México, 17% das pessoas também consomem refrigerantes durante o café da manhã após às 10h – não por acaso, a Coca-Cola aparece como a marca número um do país, de acordo com o relatório Brand Footprint mais recente. A idade é outro diferencial. Na Espanha, por exemplo, à medida que as pessoas envelhecem, o café da manhã se torna mais complexo. Os espanhóis deixam de tomar chocolate e comer carboidratos simples, como as crianças, para desfrutar de opções saudáveis, incluindo frutas.
Quando analisadas as bebidas consumidas em casa, o estudo revela que houve um declínio geral no hábito – menos 60 milhões de vezes por semana. Essa queda é em grande parte impulsionada por uma diminuição significativa de bebidas quentes, especialmente nos EUA (- 8% desde 2014) e o Reino Unido ( – 5% no mesmo período). Todo mercado analisado em no estudo mostrou um declínio no consumo de bebidas quentes, tendo a queda média global sido de 3,3% em relação aos últimos 12 meses. Esta tendência proporcionou oportunidades para as marcas expandirem suas ofertas de bebidas frias. O café gelado e cerveja gelada, por exemplo, são categorias que estão ganhando participação nos Estados Unidos.
O consumo de água aumentou em todos os oito mercados. Mais notavelmente, a água da torneira tornou-se a escolha das famílias dos Estados Unidos e Reino Unido – impulsionado em grande parte por um desejo de reduzir o desperdício de plástico. Isso significa que, agora mais do que nunca, marcas estão competindo com água em todas as ocasiões – nos EUA, quase a metade (48,5%) de todas as ocasiões de bebidas são agora água. Dentro disso, 34% é água da torneira, apresentando para as marcas o desafio de encontrar maneiras de persuadir os consumidores a gastar bebendo algo disponível “gratuitamente”.
Já os refrigerantes têm perdido espaço. Na Espanha, por exemplo, o consumo em casa diminuiu 22% em 2018. Significativamente, 33% desse declínio foi visto entre indivíduos de 10 a 14 anos, uma tendência que sugere que futuras gerações de adultos podem não beber refrigerantes.
Os consumidores de hoje querem saber exatamente o que entra em seus produtos. Esse desejo juntamente com a demanda por mais ingredientes saudáveis, naturais e orgânicos, levou a um boom nas bebidas caseiras. Ao contrário do que temos visto com culinária e a simplificação de cardápios, sucos caseiros estão roubando partes de produtos prontos para beber— mais notavelmente no México e na Espanha, onde mais da metade de todo suco bebidas são caseiras.