3 técnicas que ajudam a aprender qualquer coisa – do inglês à matemática

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Eu aprendi muito em 2017. Mas eu quero que 2018 seja o ano em que eu definirei melhor esse processo, tornando-o mais deliberado, intencional e, se tudo der certo, mais efetivo. Por isso, contatei Ulrich Boser, um fellow sênior do Center for American Progress e autor do livro “Learn Better: Mastering the Skills for Success in Life, Business and School“.

“A habilidade de aprender de forma efetiva pode ser a mais importante da vida”, diz Boser. “É como a anti-criptonita. Ela concede os poderes mágicos para ser bem sucedido em qualquer campo”. De fato, os argumentos em favor de um aprendizado contínuo nunca estiveram tão fortes – seja para tentar continuar numa indústria mesmo era da automação ou simplesmente fortalecer a capacidade de refletir profundamente diante de uma avalanche de notícias a todo momento.

Para aqueles que desejam aprender qualquer coisa em 2018, Boser identificou três estratégias importantes aplicáveis para todo mundo: encontrar significado, desenvolver metacognição e aceitar o poder do esquecimento.

Encontrar significado

Pesquisas apontam que motivação é a chave para aprender qualquer coisa. Então, para conseguir dominar uma ideia, nós temos que torná-la importante.

“É impossível aprender se nós não quisermos fazer isso, e para ganhar expertise temos de ver essas habilidades e conhecimentos como valiosos”, afirma Boser. “Nós temos que criar significado. Aprender é encontrar sentido em algo”.

Algumas pessoas pensam que nossos cérebros funcionam como computadores: nós lemos algo, nossos cérebros guardam a informação e nós a acessamos quando precisamos dela. Não é assim, como explica Boser. Um experimento interessante de 2002 constatou que estudantes conseguiam usar bem as fórmulas de matemática para resolver uma série de 1500 problemas de Física, mas, ainda assim, não conseguiam entender o conceito por trás das questões que respondiam. “As pessoas podem fazer a mesma coisa milhares de vezes – literalmente – sem de fato aprendê-la”.

Nós temos que nos engajar de maneira ativa com a informação para que ela se fixe. Parar para pensar “por que funciona desse jeito?” ou mesmo errar uma resposta pode ajudar a “cimentar” esse material no cérebro.

Então, ainda que sublinhar ou grifar um livro possa nos fazer sentir mais inteligentes e preparados, é mais eficaz ler um excerto e parar por dois minutos para fazer anotações sobre essa leitura breve. Uma pesquisa de 2014 mostrou que estudantes que liam um trecho e tinham de, logo depois, relembrar o que haviam lido, seja escrevendo um parágrafo ou criando um mapa conceitual, absorviam melhor a informação do que os alunos que só estudavam o texto sem apelar para técnicas mais ativas. Ter de escrever sobre esse material fez com que atribuíssem sentido a ele.

Quer outra boa estratégia para aprender qualquer coisa?

É simples: cometa erros. Boser conta que, uma vez, perguntaram a ele qual era a capital da Austrália. Ele respondeu de forma confiante que era Sydney, e depois arriscou Melbourne, e aí Perth e uma lista das cidades australianas de que se lembrava. (Sendo que a resposta era Canberra)

Para Boser, essa foi uma boa maneira de aprender a capital da Austrália. Ao se confundir com as respostas inicialmente, ele se tornou capaz de lembrar melhor a opção correta em seguida. Esse é o chamado “efeito da hiper-correção”, que acontece quando temos a certeza de que sabemos algo mas, depois, percebemos que estávamos errados. Quando somos confrontados com o nosso próprio deslize, diz Boser, “nós paramos e pensamos ‘por que eu pensava desse jeito?’ e, então, o material passa a ter mais significado”.

Na próxima vez que você encarar uma discussão complexa, veja se consegue imediatamente separar os argumentos em sua essência – por meio da escrita, ou mesmo tirando um momento para identificar as principais conclusões. Pode parecer uma técnica que consome muito tempo, mas provavelmente exigirá um período de dedicação menor do que ler alguma coisa, esquecê-la e depois precisar fazer tudo de novo para recobrar essa lembrança. Faça com que a informação que você absorve tenha sentido e ela se fixará melhor.

Metacognição

Humanos são animais confiantes demais. Nós achamos que somos mais espertos e mais bonitos do que realmente somos, e que trabalhamos mais do que aqueles à nossa volta. E isso é, com certeza, matematicamente impossível. “Nós não fazemos o suficiente para entender o que não sabemos”, escreve Boser.

Isso acontece, em partes, porque não passamos muito tempo pensando no que fazemos e no que não sabemos. Só que, no fim das contas, pensar sobre o ato de refletir é uma forma bastante efetiva de melhorar nosso aprendizado. A chamada “metacognição” tem dois aspectos principais, como define Boser: o planejamento (“Quais são meus objetivos e como vou aprender sobre isso?”) e o monitoramento (“Há outra forma de aprender isso? Como posso medir meus avanços? Por que estou fazendo isso?”).

O pesquisador holandês Marcel Veenman descobriu que crianças com habilidades metacognitivas superavam as crianças que tinham QI alto nos testes de matemática. Ele disse a Boser que, em sua pesquisa, a metacognição era responsável por 40% dos resultados do processo de aprendizagem, comparada aos 25% que ficavam a cargo do QI. Criar um processo para se planejar, monitorar e avaliar o processo de aprendizado gera um entendimento maior.

Um estudo mostrou que estudantes que recebiam treinamento em como pensar sobre problem solving – assim como outro grupo que recebia treinamento sobre o problem solving em si, e sobre como se planejar, monitorar e avaliar seu próprio aprendizado – se saíram melhor nos exames, aproveitaram oportunidades de aprender de forma mais independente no restante do semestre e se sentiram mais motivados do que os colegas que não receberam esse treinamento todo.

De acordo com o Educational Endowment Foundation do Reino Unido, que realiza estudos para diminuir o achievement gap, a metacognição está entre as duas técnicas mais eficazes que já foram testadas pelo órgão. Feedback é a outra forma mais popular. Os alunos envolvidos em programas desenhados para melhorar a maneira como eles refletiam sobre seu jeito de pensar aceleraram seu processo de aprendizagem em uma média de oito meses, em termos de progresso acadêmico. Os efeitos mais significativos foram identificados nos estudantes com pior desempenho inicial e nos mais velhos.

Além disso, um pesquisador de Stanford desenvolveu uma técnica de 15 minutos baseada em metacognição que elevou as notas de alunos de “B” para “A” (a nota máxima). Se você quer apostar em metacognição, esse talvez seja um bom lugar para começar.

O poder do esquecimento

As pessoas, em geral, esquecem 50% do que aprendem depois de um período de 24 horas. De acordo com Boser, não há nada de errado nisso. “Em resumo, as pesquisas demonstram que o esquecimento ajuda no aprendizado e que, quanto mais nos aproveitamos disso, mais aprendemos”. Isso porque, quando nos esquecemos, temos a chance de relembrar algo. E relembrar permite que retenhamos a informação por mais tempo.

Uma prática-chave que se beneficia da nossa tendência ao esquecimento é chamada “interleaving“. Quando as aulas misturam diferentes tipos de problema, as crianças costumam aprender mais do que quando veem um tipo de cada vez. Pense em termos matemáticos: os jovens geralmente têm de entender, por exemplo, uma série de enunciados que trabalham um tipo de gráfico específico para, em seguida, analisar outros conceitos, como curvas. Eles não precisam pensar sobre qual espécie de problema estão resolvendo, o que os ajudaria em uma prova que mesclasse todos eles, sem uma ordem determinada. Quando nos forçamos a alternar diversas porções de informação, nós esquecemos e relembramos o material – e, como consequência, absorvemos melhor.

Outro estudo conduzido por Douglas Rohrer, professor de psicologia da Universidade do Sul da Flórida, nos Estados Unidos, mostrou que as crianças que estudavam problemas desordenados se saíam melhor do que aquelas que seguiam o caminho oposto. Mais importante ainda, ao fim do semestre, quando faziam as avaliações, retinham mais informação.

Annie Murphy Paul escreveu, na publicação Scientific American, uma descrição dos resultados:

Depois de três meses, todos os estudantes encararam uma revisão geral, e no dia seguinte fizeram uma prova. Aqueles que tinham adotado práticas de interleaving acertaram 80% do teste, comparados com 64% de rendimento da outra parcela dos alunos, que realizava as tarefas divididas “em blocos” – uma diferença não tão significativa. Mas a vantagem do interleaving ficou mais evidente quando os estudantes foram testados um mês depois da revisão. Nesse exame, os que adotaram a prática acertaram 74%, enquanto os que realizavam as tarefas em blocos chegaram a míseros 42%.

Essa abordagem é um tapa na cara na maneira como nós, tipicamente, aprendemos novos conceitos. Ache um estudante que nunca tenha se matado de estudar às vésperas de uma avaliação e eu vou encontrar um unicórnio que me leve para casa aos fins de semana. E, ainda que seja um formato ineficiente, é o jeito como os jovens estudam.

“Nós costumamos fazer a mesma coisa várias e várias vezes”, explica Boser. “Mas, quando se mistura tudo, o aprendizado é mais produtivo”. Ele diz que os alunos que usam uma pilha de flashcards, que divide os conceitos em fichas, melhoram seu desempenho em 30%.

A conclusão

Há muitos mal-entendidos sobre processos de aprendizagem. Muitas pessoas creem que haja “estilos” para cada pessoa, ainda que falte evidência científica sobre isso, ou mesmo que conseguimos aprender bem sem ter orientação (o que é falso).

A verdade é que, para aprender qualquer coisa, é necessário trabalho duro. Mas, para parafrasear Eleanor Roosevelt, são as coisas difíceis que tendem a valer a pena. Nós podemos ser bons aprendizes por natureza se, como Boser, dedicarmos tempo a isso, elaborarmos um processo que funcione e entendermos como monitorar nosso progresso.

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