Blockchain é a maior invenção da história da computação”, diz Don Tapscott

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Em setembro de 2008, na semana em que o banco Lehmann Brothers quebrou, desacreditado após fraudar informações sobre o mercado imobiliário americano, Don Tapscott deu uma palestra no Sibos, um evento para mais de 10 mil banqueiros. “Percebi alguns lugares vazios na plateia. Vários inscritos haviam perdido o emprego”, diz. “A confiança na figura de um mediador estava em crise, mas não havia muitas soluções”.

Agora palestrante do Dell Technologies World, Tapscott está mais que otimista. Após cinco anos de pesquisa – que renderam um livro -, um dos principais gurus de tecnologia do mundo afirma que o blockchain pode salvar a internet e a credibilidade do mercado financeiro. Embora, não necessariamente, salvar os bancos. A seguir, alguns trechos de sua apresentação.

“Blockchain representa a segunda era da internet. Com a internet, eu posso enviar uma foto, um texto. Mas não posso enviar dinheiro ou carteira de identidade, seria uma péssima ideia. A maneira que a sociedade encontrou, até hoje, para dar confiança a registros e transferências, foi um intermediário. Bancos, governos, empresas de cartão de crédito. Eles gerenciam as transações. Mas em 2008, começamos a perceber alguns problemas. A ideia de um intermediário estava em crise. Mas não havia muitas soluções.”

“Eis que, ainda em 2008, um texto anônimo propõe uma solução para o problema de credibilidade entre as partes. E se tivéssemos uma internet de valores? Se pudéssemos mover contratos, dinheiro e valores pela rede, com segurança? Para mim, essa é a maior inovação da história da ciência da computação. Pela primeira vez, podemos confiar uns nos outros, numa colaboração mediada por um código.”

“Os céticos dizem: ‘Ah, mas bitcoin ou blockchain, é tudo uma bolha, né?’ Considerem isso: bitcoin é como o email. A primeira grande aplicação da internet. Agora temos essas plataformas surgindo. Elas se parecem mais com a web. Quanto vale a world wide web? Trilhões? Quem investiu nela nos primeiros dias ficou muito rico. Não porque fosse uma bolha. Apenas estava diante da melhor invenção da história.”

“Privacidade é uma grande preocupação dos céticos contra o blockchain. Imagine que todos os nossos dados, gerados em tempo real – batimentos cardíacos, sua localização, tudo o mais, são atualmente capturados por terceiros. No blockchain, podemos recuperar nossa identidade e gerenciá-la de forma responsável. Podemos vender esses dados, se quisermos, ou nos proteger. Alguns dizem que a privacidade já era. É bobagem. São ignorantes. A privacidade é o fundamento da liberdade. Precisamos recuperar nossa identidade.”

“Quando temos uma mudança de paradigma desse tamanho, líderes superam as dificuldades para abraçar o novo.”

“Num estudo recente sobre confiança compartilhada, encontramos o exemplo de pássaros na Inglaterra chamados estorninhos. Eles fazem algo chamado murmuration. Passarinhos que estão a quilômetros de distância se reúnem para formar nuvens. É um dos espetáculos mais incríveis da natureza. Não fazem isso apenas para se exibir. Uma utilidade é se proteger de pássaros maiores. Em alguns vídeos desse fenômeno, é possível avistar gaviões à espreita. Um gavião pode ter 25 vezes o tamanho de um estorninho. Com a nuvem, eles recorrem ao poder coletivo. Cientistas estudiosos do assunto dizem que nunca viram um acidente. Existe liderança, mas não há um líder. Proponho aqui uma analogia um pouco fantástica. O murmuration funciona exatamente de acordo com os sete princípios do protocolo de confiança que apresentamos no meu livro sobre blockchain. A confiança não é alcançada pela presença de um intermediário. Não há intermediários. É alcançada pela colaboração e por um código. Há algum código entre os pássaros que prevê regras. Entre elas, não trombar com o colega. Há outras regras, como não se afastar demais. Há colaboração e interdependência. Os interesses de cada pássaros estão ligados aos interesses da nuvem como um todo. Os pássaros fizeram a coisa certa. Esse é o fundamento da confiança.”

“O que é confiança? Levei três meses pensando até chegar a uma resposta. Confiança, nos negócios, é a expectativa de que a outra parte vai agir com integridade. De que vai fazer a coisa certa. Assim um passarinho resolve enfrentar um predador 25 vezes maior. Ele sabe que os outros passarinhos cumprirão a parte deles. Quando vejo isso, fico muito esperançoso. Imaginando a possibilidade de nos conectarmos a uma nova internet de valores, uma rede feita de transparência, criptografia, códigos… O que vamos poder fazer? Que tipo de mundo novo vamos poder criar? Vamos poder resolver grandes problemas de prosperidade, privacidade e confiança? Talvez as crianças possam. Talvez essa era de confiança compartilhada possa significar a maturidade do mundo digital.”

Fonte Época Negócios
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