Inflação dos alimentos chega às cestas básicas e setor troca marca de arroz

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A alta nos preços de produtos como arroz, feijão e óleo de soja afetou diretamente o bolso das famílias brasileiras, mas as empresas que montam e comercializam cestas básicas — compostas por alimentos secos que normalmente são embalados em caixas de papelão ou em plástico — também estão sofrendo para lidar com os reajustes e a falta de produtos.

Os principais clientes desse segmento são empresas que distribuem as cestas para os próprios funcionários, em substituição ou complemento ao vale-alimentação. Mas como a pandemia apertou as contas do empresariado, tem sido difícil repassar o aumento de preços. Para solucionar o problema, muitos dos comercializadores de cestas básicas estão adotando estratégias diferentes: desde a substituição de itens (como o arroz pelo macarrão) até a estocagem de produtos.

“A cesta básica, por ser um benefício, representa um custo fixo para as empresas. Muitos setores permaneceram aquecidos durante a quarentena, mas outros ficaram um tempão parados. São empresas que estão em um momento difícil, por isso uma parte do reajuste é repassada e outra absorvida por nós”, diz Gustavo Defendi, diretor comercial da Real Cestas.

Ele diz que optou por negociar a substituição de alguns itens nas cestas básicas. Em alguns casos, metade do arroz foi trocado por macarrão, por exemplo. As marcas dos produtos também mudaram. “Não estamos conseguindo comprar em quantidade, por isso, nossos clientes estão trabalhando com marcas mais baratas. Se o empresário antes comprava um arroz Camil, ele vai para o arroz Namorado”, diz Defendi.

Quando o problema começou? O diretor comercial da Real Cestas explica que a alta dos preços dos alimentos chegou ao setor de cestas básicas antes de pegar os supermercados. Ele diz que a indústria de alimentos, responsável pelo envase dos produtos, começou a sentir que os produtores estavam entregando menos que o necessário em março.

“No começo da quarentena os produtores começaram a sinalizar que havia um problema. Em abril já veio a alta de preços, mas nas últimas semanas isso piorou bastante”, conta. Ele diz, ainda, que está faltando até mesmo papelão e plástico para embalar as cestas.

Vai faltar alimento? A razão para a alta dos alimentos e de vários outros produtos foi o crescimento repentino da demanda interna e externa. No caso da comida, o principal fator tem sido a exportação para outros países. “Já existia uma previsão em março de que faltaria arroz no mercado local, devido às exportações. Todo mundo está colocando a China como grande vilã, mas Irã, Venezuela e México estão comprando muito do Brasil”, diz Mario Augusto Danziger, coordenador da empresa Empório Mega 100.

A solução para quem tem espaço e capacidade de compra tem sido fazer estoque para garantir que não sofrerá com a variação de preços e garantir que não vai faltar nada. “Tenho 500 toneladas de arroz no estoque, e quase tudo já está pago. Como a demanda subiu, os produtores diminuíram o prazo para receber pela mercadoria”, explica Dazinger. Ele afirma que trabalha com a negociação de alimentos secos há 30 anos e que nunca viu uma situação como a atual.

O arroz não é o único algoz do preço das cestas. O preço do óleo de soja dobrou em três meses, e o feijão também está sendo reajustado, embora não exista uma razão clara para isso. “O feijão, por exemplo, começou a ter alta nas últimas semanas, mas não há um motivo específico. Os produtores estão aproveitando que o preço de outros produtos está subindo para recompor margens”, reclama Defendi, da Real Cestas.

O governo vai importar arroz. Isso deve aliviar? Os empresários do ramo de cestas básicas não estão muito otimistas com a iniciativa do governo federal de importar produtos, especialmente o arroz, de outros países. “Foi só algo psicológico, para pressionar os produtores locais. Mas, colocando na ponta do lápis, tudo que o governo comprou até agora é suficiente para, no máximo, 22 dias de consumo no Brasil”, conta Dazinger, da Empório Mega 100.

Ele diz que vai levar 2 meses para o arroz importado chegar ao Brasil, e que faltam cerca de 180 dias para que a próxima safra comece a chegar na indústria — isso se o clima ajudar e tudo correr bem na colheita. Ou seja: ele acredita que os preços vão continuar altos pelo menos até o começo do ano que vem. Além disso, o preço alto não garantiria que não vai faltar produto.

“Mesmo ficando mais caro, o brasileiro prefere pagar mais para ter a comida do dia-a-dia na mesa. Dizer que vai substituir o feijão por lentilha, que até tem um valor nutricional melhor, ou que vai trocar o arroz por macarrão é falácia. Nosso verdadeiro patrão é o cliente”, diz.

Fonte 6 Minutos
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