Reabertura: 6 dicas que toda empresa deveria seguir para retornar com segurança no pós-pandemia

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A crise gerada pela pandemia do novo coronavírus impactou as atividades de empresas de diversos setores da economia. Com o isolamento social adotado em grande parte do país, o mercado corporativo aderiu em peso ao home office, muitas varejistas ficaram fechadas e serviços foram suspensos.

Mas agora os estados começam a retirar as restrições e articular a retomada do comércio e dos serviços não essenciais. Assim, fábricas, lojas e escritórios iniciam um novo e complexo processo: como planejar a retomada dos negócios em meio à pandemia? Quais protocolos seguir?

Cenário

Guilherme Dietze, assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), diz que a incerteza é um dos fatores que mais atrapalham a retomada dos negócios. “Ninguém sabe muito bem como vai ser a volta. Causa insegurança. O empresário fica receoso de abrir e depois ter que fechar novamente e não tem uma definição de como será o processo de retomada”, afirma.

Para ele, o pior para as empresas já passou, e agora é preciso analisar e tomar cuidado ao reabrir os negócios. “O cenário é devastador, mas temos uma noção real do que está acontecendo. É preferível um cenário negativo, do que incerto, porque a partir disso é possível montar um planejamento e tentar voltar ao trabalho de maneira mais segura”, diz.

Ainda que do ponto de vista econômico empresários já enxerguem uma luz no fim do túnel, do ponto de vista sanitário ainda não se sabe quando a crise vai chegar ao fim. Segundo o último balanço do Ministério da Saúde, divulgado nesta terça-feira (09), o Brasil registrou 1.272 mortes por Covid-19 e 32.091 novos casos da doença em 24 horas. No total, a doença já deixou 38.406 vítimas no país e infectou 739.503 brasileiros.

Como retomar?

Em entrevista ao The New York Times (NYT), Preeti Malani, especialista em doenças infecciosas e chefe de saúde da Universidade de Michigan, afirma que é muito difícil estruturar um plano único de reabertura universal, já que as particularidades de cada setor ou de cada região devem ser levadas em consideração. “Reabrir é muito complicado. Não há modelo, nem manual”, diz.

Não existe um manual pronto, mas na ausência de uma diretriz geral, recomendações de entidades podem ajudar. O InfoMoney mostra a seguir seis dicas que resumem as principais orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de associações e empresas como a FecomercioSP, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a consultoria imobiliária Cushman&Wakefield.

Mantenha o distanciamento social

Por mais que a retomada comece a acontecer, o distanciamento social é muito importante para mitigar o avanço da doença no ambiente da empresa, o que inclui redução de contato físico, e espaços maiores entre os postos de trabalho no escritório ou em lojas.

Segundo Muge Cevik, médico especialista em doenças infecciosas e virologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Saint Andrews, na Escócia, quanto mais longa a conversa e maior a proximidade física entre os participantes, maior o risco de o vírus se espalhar se uma pessoa estiver infectada. “Qualquer conversa cara a cara de 15 minutos entre pessoas que estão a um metro e meio de distância constitui um contato próximo”, disse em entrevista ao NYT.

A Fiesp segue a mesma linha em suas sugestões: é preciso manter uma distância mínima segura entre as pessoas e, onde não for possível, utilizar barreira física ou protetor mais potente. Além disso, o plano de retomada da federação, compartilhado com o InfoMoney, recomenta alternar os dias de comparecimento dos funcionários e considerar jornadas de trabalho menores nos primeiros meses.

As dicas da FecomercioSP para escritórios, salas de reunião e auditórios incluem “mudar layout ou alternar assentos, demarcar lugares que precisarão ficar vazios, e considerar não somente o distanciamento lateral, mas também o espaço entre fileiras”. E quando o ambiente for ocupado por pessoas em pé, a empresa pode demarcar o piso com fitas de sinalização para informar a distância de segurança que deve ser adotada por todos.

A consultoria Cushman&Wakefield acrescenta que instalar divisórias de vidro ou placas de acrílico entre estações de trabalho, nas recepções e expedições também é uma boa maneira de manter o distanciamento.

No caso de empresas que consigam investir em novas tecnologias, a sugestão da consultoria inclui sensores para contagem de pessoas, comandos por voz, infraestrutura para processos de trabalho digitais, automação de processos, entre outros.

Exemplo de escritório com distanciamento social aplicado, segundo a Cushman&Wakefield:
Adote o uso de máscaras

Essa medida pode parecer óbvia, mas é consenso que é uma das mais efetivas e ajuda na proteção das pessoas. Por isso, a OMS ressalta que é importante garantir que “máscaras faciais ou lenços estejam disponíveis no ambiente de trabalho, assim como lixeiras fechadas para o descarte desses itens”.

Evite confinamento e aglomerações

Atividades internas em espaços fechados são mais propensas a espalhar o vírus do que eventos realizados em um ambiente externo. “Quando há ar estagnado, as gotículas podem persistir por mais tempo do que o normal, e haverá muita contaminação nas superfícies. Quando você está perto de uma boa fonte de fluxo de ar ou perto de uma janela, seu trato respiratório não fica tão exposto ao vírus”, disse Cevik, da Faculdade de Medicina da Universidade de Saint Andrews, ao NYT.

A FecomercioSP alerta que materiais de higiene devem ser disponibilizados caso haja reuniões e eventos presenciais e ressalta que o ideal seria proibir que esse tipo de encontro acontecesse em áreas fechadas sem ventilação, sendo restrito apenas a ambientes ao ar livre ou bem arejados. “Reuniões presenciais devem respeitar o distanciamento espacial, reduzindo a quantidade de participantes e a duração sempre que possível”, diz o protocolo de retomada da entidade.

Para Barbara Taylor, médica especialista em doenças infecciosas do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas em San Antonio, o encontro de grandes grupos são e serão arriscados por um bom tempo, não importa onde essas reuniões aconteçam. Mesmo ao ar livre, multidões significam mais pessoas, mais contatos e mais fontes potenciais de infecção.

“Você pode criar um cenário em que todos estejam separados por um metro e meio, mas se envolver 500 pessoas, sem dúvida será mais arriscado do que se fossem 30 pessoas. Há um potencial de transmissão e infecção maior em um grupo de mais pessoas”, disse a médica ao NYT.

Reforce a higiene pessoal e de ambientes

Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, o vírus se espalha com mais eficiência de pessoa para pessoa, mas também sobrevive em diferentes superfícies. Por isso, o CDC recomenda a limpeza frequente de objetos em que as pessoas toquem constantemente como mesas, maçanetas, interruptores de luz, bancadas, telefones, teclados, banheiros e torneiras, telas sensíveis ao toque e caixas eletrônicos.

A OMS também afirma que essas medidas de higienização e desinfecção são essenciais a partir de agora. Além disso, a organização ressalta que a empresa deve incentivar os funcionários a lavarem as mãos regularmente, colocar avisos incentivando a higiene pessoal, e manter abastecidos recipientes de higienização das mãos, como álcool em gel.

Cafeterias e refeitórios também são áreas que merecem atenção. A Cushman&Wakefield recomenda o uso de luvas plásticas ou papel descartável para servir, talheres embalados e diferentes turnos para os funcionários usarem o espaço. Além de demarcação de cadeiras e da garantia de que o local seja higienizado constantemente.

Por fim, a Fiesp também recomenda a instalação de estações de lavagem das mãos fora do edifício, ou dispenser de álcool em gel, orientando a todos que os utilizem antes de entrar no prédio e que a empresa mantenha os ambientes bem ventilados e faça a limpeza diária do ar-condicionado.

Comunique-se

A OMS diz que a comunicação constante com os funcionários nesse momento é importante e sugere que a empresa mantenha o funcionário em casa, ao menor sinal de febre ou tosse.

Christian Mina, diretor de gerenciamento de instalações da Cushman&Wakefield, também acredita que é indispensável melhorar a comunicação e diz que entender cada uma das necessidade dos colaboradores é essencial para que qualquer política empresarial dê certo. “Isso tem muito impacto porque a atitude dos funcionários é fundamental para o sucesso das medidas prevenção”, diz.

A FecomercioSP sugere um plano de comunicação eficaz para conscientizar os colaboradores em relação aos cuidados e aos protocolos a serem seguidos.

A empresa também pode divulgar comunicados que instruam os compradores e funcionários sobre as normas de proteção que estão em vigência no estabelecimento, segundo a Fiesp.

Avalie o risco

O empresário pode avaliar também o nível de risco com o qual se sente confortável para voltar a operar, considerando circunstâncias como estado pessoal de saúde e estágio em que a doença está em seu estado ou cidade.

As maiores precauções devem ser voltadas às pessoas que se enquadram no chamado grupo de risco. Porém, adultos, crianças e jovens saudáveis ​​podem ser vetores do vírus e devem se proteger para não contaminar pessoas mais vulneráveis à doença que fazem parte do seu convívio. “Nós somos os guardiões dos nossos irmãos. Embora eu não esteja em um grupo de risco, estou regularmente em contato com pessoas que estão, então não se trata apenas de pensar em nós mesmos, mas nas nossas comunidades”, disse Barbara, do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas em San Antonio.

A OMS divulgou uma lista de itens que devem ser levados em consideração antes da decisão de retomar as atividades. Entre eles estão: a efetividade no controle da transmissão do vírus no local em questão; um sistema nacional de saúde com capacidade de testar, tratar cada caso e acompanhar o contágio; a adoção de medidas preventivas; a educação e o engajamento da sociedade para aderir às novas normas de convívio social; entre outros.

A Fiesp afirma que ao retornar, as empresas devem respeitar protocolos de combate à Covid-19 e que a cada sete dias é recomendável que a situação seja reavaliada e, a partir disso, as regras podem ser revisadas.

Alternativa

Christian Mina, diretor de gerenciamento de instalações da Cushman&Wakefield, afirma é ideal que o retorno seja gradual e apesar de muitos resultados positivos com o home office, as pessoas ainda querem voltar para a rotina do trabalho – ou algo perto daquilo.

“Percebemos que muitos colaboradores se sentem acolhidos pelas empresas, já que as companhias estão adotando medidas preventivas e isso constrói confiança pelo sentimento de cuidado. Além disso, a crise antecipa uma série de ações que seriam coisa do futuro se nada tivesse acontecido. Há oportunidades”, diz.

Atendendo à essa demanda pela retomada, o grupo Fleury anunciou um novo serviço de consultoria denominado Cuidado Integrado para Empresas. Jeane TsuTsui, médica e diretora executiva de negócios do Grupo Fleury, explica que cada empresa recebe um plano de retomada personalizado e um protocolo pensado em conjunto com a área de saúde ou com o time de Recursos Humanos da companhia.

“As empresas querem retomar os negócios e atendimentos. A consultoria envolve desde a etapa de diagnóstico de colaboradores e consultoria médica para definição de protocolos de segurança de saúde, até a coordenação de cuidados com aplicação de soluções como telemedicina e relatórios de saúde populacional”, diz Jeane. Segundo ela, empresas como Bradesco e o Iguatemi Empresa de Shopping Centers estão entre os negócios que aderiram ao serviço.

Fonte Infomoney
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