Cadastro Positivo confunde consumidores e gera reclamações após dois meses

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O Cadastro Positivo foi lançado em janeiro com a expectativa de injetar até R$ 1,3 trilhão na economia brasileira. Mas quem esperava mudanças rápidas pode estar decepcionado a essa altura – e muitos brasileiros veem dificuldades para compreender e utilizar o sistema.

O banco de dados, administrado por quatro birôs de crédito do país (Boa Vista, Quod, Serasa e SPC Brasil), reúne informações de consumo de pessoas físicas e jurídicas, que gera um score de crédito com base no histórico de pagamentos. A nota pode ser acessada por instituições financeiras e utilizada no processo de liberação de crédito.

A plataforma impacta milhões de brasileiros e, apesar de funcionar há dois meses, ainda está em fase de construção e ambientação, segundo o presidente da Associação Nacional dos Bureaus de Crédito (ANBC), Elias Sfeir.

“É um produto novo, que está entrando em marcha. Os birôs têm oferecido e certamente as pessoas estão começando a acessar essa nota de crédito, que agora leva em consideração os dados do cadastro positivo trazendo uma precisão maior na avaliação de crédito e uma transparência nessa relação”, explica Sfeir.

Um levantamento feito pelo site Reclame Aqui, a pedido do InfoMoney, revela que as maioria das reclamações registradas durante o primeiro mês do cadastro positivo foram referentes a problemas de acesso, diferença de score entre birôs e informações imprecisas.

O gráfico abaixo mostra um aumento nas reclamações no dia 14 de janeiro, primeiro dia útil após a liberação da consulta, que aconteceu no sábado (11/1). O presidente da ANBC afirma que os birôs se preparam para receber a plataforma estimando o grande volume de acesso e pedidos de saída do banco de dados.

O gerente de Cadastro Positivo do SPC Brasil, Vilásio Pereira, explica que a instituição tem notado em seus canais de atendimentos uma maior procura de consumidores com dúvidas sobre o funcionamento do cadastro positivo e do score e vem trabalhando para esclarecer.

“Pelo score estar mais acessível, isso de fato, gera mais dúvidas nas pessoas, que nos procuram tanto no site, como no aplicativo ou o 0800 para tentar entender o que significa. Explicamos que se trata de uma pontuação e a sua composição, que agora com o cadastro positivo entra todas as informações do histórico de pagamento dele e os benefícios”.

Por que existe diferença na nota de crédito em cada birô?

Um mesmo consumidor pode ter até quatro notas diferentes no cadastro positivo. Isso acontece porque cada birô atua com uma metodologia na construção da sua nota, além disso, a base negativa, na qual as informações do cadastro positivo são somados, também são distintas.

Quando uma empresa entra com o pedido de negativação de uma pessoa física ou jurídica ela não precisa acionar todos os quatro birôs. Apesar das empresas do setor não revelarem o valor da operação, essas informações representam custos para as instituições credoras, fora que, como se trata de uma relação comercial, muitas empresas possuem contratos e parcerias específicas.

Atuando no mercado para resolver problemas de assimetria de informação, os birôs de crédito obtêm as informações sobre o histórico do consumidor de diversas fontes e as organiza em um relatório relacionado a cada um dos tomadores de crédito – dividindo em duas categorias.

Como a base de informações presente no cadastro positivo é a mesma para todos, a tendência é que, ao longo do tempo, as notas fiquem mais parecidas e a diferença da base negativa menos relevante na composição do score.

“Essa diferença acontece no mundo inteiro, porque o cadastro positivo traz um volume de informações que vai se somar com o cadastro já existente. A base presente também é pequena, só temos 13 meses de histórico. Com mais informações na plataforma, a nota de crédito vai se tornando mais consistente”, diz Sfeir.

O que fazer quando encontrar alguma informação incorreta?

Um dos principais motivos de reclamação dos consumidores ao acessar seus históricos de consumo é a inconsistência de alguns dados.

Quando isso acontece, o usuário pode solicitar a correção e/ou exclusão dos dados no próprio birô de crédito, que irá levar o pedido às fontes e a informação, se pertinente, será atendida em até dez dias, conforme estabelecido pela Lei do Cadastro Positivo.

Informações inseridas por fases

Ainda em fase de construção, a nota de crédito sofrerá diversas alterações ao passo que mais informações forem inseridas no banco de dados.

O primeiro momento, em novembro, foi a inserção de dados das instituições financeiras, que já realizavam essa operação na negativação. A próxima grande leva de inserção será das empresas de telecomunicações, seguida das de utilidades (água, luz e gás) e por último dados do varejo.

“A medida em que os birôs forem recebendo e tratando essas informações, com certeza, os scores serão revistos, e esses dados serão incorporadas e vão participar na composição da nota”, explica Pereira.

Por lei, os birôs só podem usar os dados dois meses depois do envio das informações pelas fontes, e, esse intervalo conta a partir de cada envio específico. Isso significa que, mesmo um consumidor tendo cumprido suas obrigações em determinado setor, sua nota não será alterada automaticamente.

Dificuldades com a saída

A retirada dos dados do cadastro positivo é gratuita e pode ser solicitada a qualquer momento. Alguns usuários reclamaram da dificuldade de retirar seus dados da plataforma, que varia de birô para birô também.

Apesar de ser possível solicitar a retirada de apenas um, que é por lei obrigado a comunicar a decisão para todos os outros três, cada birô utiliza de uma estratégia de identificação para evitar fraudes. Alguns processos exigem biometria, respostas de uma série de questionários e até selfie.

Fonte Infomoney
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