Abrir mão do prazer para aumentar a produtividade? Entenda o que é “jejum de dopamina”, nova moda do Vale do Silício

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O que te dá prazer? Ver filmes, comer sua comida favorita e se exercitar são todos exemplos de coisas que fazem seu cérebro liberar dopamina, neurotransmissor ligado à satisfação, recompensa e felicidade. A mais recente moda do Vale do Silício propõe justamente cortar esse hormônio de partes da sua vida com o objetivo de aumentar a produtividade e diminuir comportamentos impulsivos.

Segundo os defensores do método, o ser humano hoje fica muito preso a atividades improdutivas e que consomem muito tempo. O motivo, segundo eles, seria o cérebro caçando doses cada vez mais “altas” de dopamina. Se uma vez seu cérebro liberou dopamina depois que você recebeu uma notificação no celular, por exemplo, o cérebro buscaria esse prazer de novo de forma incessante. Abdicar de tudo que libera dopamina seria, então, uma maneira de regular esse “vício” e retomar controle de como você gasta seu tempo.

O problema do “jejum de dopamina”, no entanto, é que não é algo possível de verdade. Segundo pesquisadores, isso não é algo controlável. A dopamina também é liberada por interações bem pequenas, incluindo interações pessoais mínimas como contato visual.

“Você não pode se impedir de ter expectativas,” disse Judson Brewer, psicólogo e neurocientista especializado em vícios, a Vox. Acontece que a simples expectativa de prazer libera o hormônio. “Se você vê uma barra de chocolates, seu cérebro pensa: ‘Olha, isso parece bom!’ Você não consegue falar pro seu cérebro: ‘Ei, não faça isso.’”

O método ficou popular após o psicólogo e consultor Cameron Sepah fazer uma publicação sobre isso no LinkedIn. Ele propôs maneiras de cortar o que ele chama de “comportamentos impulsivos”, como checar o celular por notificações excessivamente. A sugestão é abdicar por pelo menos uma hora ao dia de um comportamento que você quer cortar ou coibir.

Se soa parecido com terapia para cortar vícios, é mesmo: o método de Sepah é baseado em terapia cognitivo comportamental, que normalmente é utilizada para tratar vícios como o de apostas ou bebida.

Por isso, pesquisadores entendem que o “jejum de dopamina” se trata apenas de uma maneira de cortar o excesso de estímulos que recebemos no dia-a-dia. Mas Sepah nega que seu método seja semelhante a técnicas mais tradicionais de abstinência, como retiros espirituais e meditação, ou até mesmo férias do trabalho.

“Meditação e retiros envolvem praticar conscientização e, às vezes, ficar em silêncio. Jejum de dopamina não envolve nada disso,” Sepah disse a Vox. “Você com certeza pode trabalhar durante um jejum de dopamina.”

“Já as férias normalmente são tratadas como oportunidades para hedonismo desenfreado e normalmente envolvem mais hábitos ruins, então é quase o oposto do jejum de dopamina,” completou.

A ideia já foi levada ao extremo. O canal do YouTube Improvement Pill fez um vídeo com uma versão mais extrema da prática. O dono do canal, Richard (ele não revela o sobrenome), afirma que já fez o jejum três vezes, passando dias bebendo apenas água, escrevendo e caminhando.

“É meio que um botão de reinício,” disse Richard a VICE. “Já que você ficou um dia inteiro fazendo nada, qualquer coisa parece ser divertida.”

Brewer, no entanto, ri dessa versão mais extrema. “É hilário,” disse. “Claro que as pessoas vão levar tudo ao extremo por não entenderem como o próprio cérebro funciona.”

Para Brewer, o método para evitar comportamentos negativos começa em reconhecer o seu problema e não em se privar do que te dá prazer. Na Universidade Brown, ele escreveu um artigo que fala sobre como aplicativos podem ser usados melhorar maus hábitos. “Você precisa dar ao seu cérebro uma oferta melhor, maior,” disse.

Fonte Época Negócios
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1 comentário
  1. Hugues Godefroy diz

    Na há nada de novo nisso , vide Epicuro de Samos no 4 século Antes christo

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