O que separa as pessoas que desistem das bem-sucedidas, segundo ex-atleta

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Foco, disciplina e treinamento. Segundo o ex-nadador da seleção brasileira Joel Moraes, o Jota, esses são os três pilares essenciais para qualquer um atingir seu máximo potencial.

Técnico de atletas de alto desempenho por 22 anos, o esportista acaba de lançar o livro Esteja, Viva, Permaneça 100% Presente, no qual explora o poder dos pequenos hábitos para realizar grandes conquistas.

Na obra, ele revela o método que usava para aumentar a performance pessoal e profissional de seus times e compartilha lições e aprendizados dos tempos em que enfrentava a pressão dos campeonatos. Para Jota, a maior parte das pessoas fracassa por desejar que as coisas aconteçam da noite para o dia.

Leia, a seguir, um trecho inédito do livro.

TRECHO DO LIVRO
Ação imediata

Você tomou uma decisão. Agora é avançar do modo analisar rumo ao modo agir. Pensar é fundamental, mas o segredo é agir. E eu não conheço o sucesso natural. Para mim, o dom não supera a força do trabalho duro. Pode ser que você faça parte do grupo que começa a concretizar o que decidiu, trabalha duro ATÉ ter sucesso — e não volta atrás. No entanto, há outro grupo que decide, começa seu plano de ação na maior empolgação e… empaca ou volta atrás. Por quê? Porque coloca uma expectativa grande de realizar sua meta rapidamente, com atalhos.

Joel Moraes, o Jota, ex-nadador da seleção brasileira

Quer empreender, mas só se tiver uma startup unicórnio (com valor de mercado superior a 1 bilhão de dólares). Decide emagrecer fazendo dietas malucas na esperança de entrar no jeans de solteiro em dez dias. A esse segundo grupo, eu aviso que ALTA performance vem depois de desenvolver AUTO performance, um caminho muito mais sustentável para implantar uma ação imediata. E, aí, só depende de você. Eu enxergo três elementos que definem se você já atingiu uma condição de ALTA performance:

• Seus resultados estão acima da média. Ou seja, se na atividade profissional que você exerce, eles podem ser medidos, explicados, compartilhados;

• Você faz isso de maneira consistente. Praticamente todo dia alcança esses resultados acima da média;

• Você faz isso por muito tempo.

Você sabe que tem ALTA performance quando se compara com os outros; e vencer os outros é difícil. Entretanto, é muito mais difícil vencer a si mesmo, incluindo seus desejos, vontades, planos, limites… E essa deve ser sua principal preocupação agora. Na minha primeira competição, aos 13 anos, fiquei em último lugar. Aquele efeito tinha causas, que meu treinador explicou:

— Você ficou em último porque não treinou, não tinha resistência nem força. Não está se alimentando muito bem, não está descansando…

Quatro meses depois, competi novamente com 22 nadadores, aproximadamente, e fiquei em sétimo lugar. Eu tive ALTA performance? Não. Mas tive AUTO performance? Muita. Porque reconheci minhas falhas e agi imediatamente para melhorar a questão do sono e da alimentação, também a força e a eficiência das braçadas. Fiquei mais concentrado, arrumei um pouco meu gesto motor. A turma da ALTA performance era quem estava em primeiro, segundo, terceiro lugar. No entanto, eu havia melhorado de último para sétimo. Evoluí.

Qual é o problema das pessoas que desistem? Elas querem ir do último para os primeiros lugares sem esforço. Não entendem que é um processo. Ao longo dos campeonatos, passei do sétimo para o sexto lugar, depois para o quinto… No seguinte, conquistei o quarto lugar. E, toda vez que eu avançava uma casa, meu pai, que nunca havia colocado óculos de natação no rosto, mas tinha sabedoria de vida, me alertava:

— Não se compare com os outros! Preocupe-se em melhorar.

Por isso, é ruim estar num ambiente com pessoas que ficam querendo que você vá do último ao primeiro lugar rapidamente. Às vezes, pai e mãe ou chefes agem assim. Exigem que você seja o primeiro, só que eles nunca foram. Que loucura isso! O pai somente aceita que você seja o melhor de sua turma, mas ele não foi o melhor. Então, por que está cobrando isso do filho? Elevar a régua de exigências, sem considerar o processo, também aumenta incrivelmente o risco de frustração, porque a pessoa se compara com alguém já em ALTA performance e se julga incapaz de chegar lá.

Ame o que faz, e não vencer

Outro ponto a considerar: se você está fazendo algo para o qual tem vocação, a possibilidade de não parar é muito maior do que se fosse aquilo que realiza de maneira mediana e sem nenhum grau de satisfação. Trata-se daquela coisa que você aprende com mais facilidade do que a maioria das pessoas ou que se apresentou cedo em sua vida. Portanto, deverá ter melhoras progressivas. E, a cada pequeno progresso, você percebe: “Coloquei energia, melhorei; ótimo”.

Claro, pode acontecer de não ter uma performance tão boa em determinado dia. É humano. Mas você vai se lembrar do que fez em todos os outros dias e continuar, como detalhei no capítulo anterior. Até porque quem só ama vencer provavelmente vai desanimar no meio do caminho, por falta de resiliência. De modo inconsciente, contabiliza: “Venci, amei. Venci, amei. Venci, amei. Venci, amei. Não venci? Parei”. A chave não é amar vencer, mas amar o que você faz, porque dessa forma consegue superar as próprias falhas. Se você só ama vencer, então não admite errar nem enxerga as oportunidades de melhorar.

Eu conheci muitos atletas que eram vencedores quando ainda meninos e meninas e, na primeira vez que perderam, abandonaram o esporte. Não teve pai nem mãe para segurá-los lá, isso quando eles não entregavam os pontos dizendo: “Faça o que você quiser; se você não está feliz, pode procurar outra coisa…” Você não tem de fazer as coisas só porque está feliz. Tem de fazer porque tem de fazer — mesmo estando, às vezes, triste, chateado, frustrado. A vida não é uma linha reta. Sobe e desce feito uma montanha-russa. Por isso, uma grande lição que tive como atleta é não depender apenas de motivação. Ela não é confiável, pode abandoná-lo conforme as circunstâncias.

O hábito é confiável. Ninguém precisa esperar até se sentir cheio de vontade para começar alguma coisa — nem para continuar. Aja imediata e regularmente… que a motivação virá. Mas também não dependa dela para continuar. Um grupo de empresários e pais se reuniu para jogar com o atleta americano ­Mi­chael Jordan, em sua fase pós-encerramento de carreira nas quadras. Ele, que é considerado por muitos o maior jogador de basquete de todos os tempos, foi questionado por um pai:

— Michael, meu filho tem 10 anos e é muito seu fã, muito mesmo. Adora sua história, seus jogos, tudo que você fez. E ele está jogando basquete todos os dias. Qual é o melhor conselho que você pode dar ao meu filho?

— Fale para ele amar o basquete. Só isso! Porque, se ele amar somente ganhar, vai desistir.

Bacana isso, não é? Vale para a vida, para tudo. Sem amor pelo que faz, o indivíduo desiste, porque pensa: “Não tenho vocação para esse negócio, essa escolha não é minha, quem escolheu foi ela; então, a escolha é dela, e não minha”. Já quando decido por livre-arbítrio, eu quero seguir. Avalio: “Não deu certo hoje, no estado presente, mas eu escolhi”. É autoconhecimento o tempo todo. Comece a fortalecer seu íntimo fazendo pequenos acordos consigo mesmo.

Por exemplo, se fala que vai acordar todos os dias às 5 horas da manhã e consegue fazer isso rotineiramente, você já venceu a si mesmo. Se resolve que vai guardar 10 reais por dia e consegue juntar um bom dinheiro depois de vários meses, você venceu a si mesmo. Dei dois exemplos de mini-hábitos, que são uma somatória de atitudes que você repete várias vezes até que faça automaticamente, e assim vai gerando AUTOperformance, que é a mãe da ALTA performance.

Dê chance ao hábito

Eu acredito no poder das pequenas decisões, das pequenas ações, e não das grandes. Trabalhe com os hábitos que deseja alcançar de maneira fracionada. Em vez de querer correr durante 15 minutos, ande por 7 minutos. Em vez de querer entrar na academia já pensando em malhar cinco vezes por semana, faça uma flexão de braço diariamente. Em vez de querer ler um livro por mês, leia um capítulo por semana.

Em vez de querer ter muito dinheiro para aplicar numa corretora, invista minutos de seu tempo estudando algum comportamento crítico que não o deixa guardar dinheiro — e mude-o. Quando você dá chance ao hábito, ele fica mais palpável. Em vez de decretar “eu quero isso”, reflita se está dando um passo nessa direção — um passo pequeno por vez e de maneira frequente, e não um passo enorme, que cansa por exigir muito esforço e energia num curto espaço de tempo. Em vez de querer várias coisas por dia, coloque seu foco em apenas uma.

Faça esse teste e você conseguirá bater 30 metas no mês. Consiga um cliente por dia. Faça uma flexão por dia. Escreva uma página por dia. Emagreça 55 gramas por dia. Escute sua equipe 2 minutos por dia. Fique com seu filho 7 minutos a mais por dia. Fique 5 minutos a menos no WhatsApp. Aumente em 6 minutos sua atenção no trabalho. Uma meta por dia, pequena, tangível, possível, que não dependa de ninguém a não ser você mesmo. É a somatória de mini-hábitos, nano-hábitos, micro-hábitos que fará a diferença.

Fonte Exame.com
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