Os planos da NotCo para ganhar o Brasil

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A NotCo tem dois anos para ser reconhecida nacionalmente, estar presente em pelo menos sete diferentes categorias de produtos e alcançar um faturamento na casa das centenas de milhões de reais. Ao menos, esse é prognóstico do “otimista por natureza” Luiz Augusto Silva, presidente da startup chilena de alimentação no Brasil. Se vai dar certo, ninguém sabe. Para tirar a meta do papel, o executivo não vê outra alternativa a não ser “trabalhar muito”.

A startup chegou ao país em maio deste ano, com seu primeiro e mais importante produto: a “não-maionese”. Feita à base de grão de bico, a iguaria é fruto da mescla entre inteligência artificial, gastronomia e uma boa dose de empreendedorismo. Da mesma forma também saíram o sorvete feito de ervilha e o hambúrguer de cacau e beterraba. No Brasil, por enquanto, só a “maionese” NotMayo está disponível.

Fundada em 2015 pelos chilenos Matias Muchnick, Pablo Zamora e Karim Baksai, jovens com formação nos Estados Unidos nas áreas de bioquímica e ciência da computação, a NotCo se tornou uma “queridinha” dos investidores. No seu portfólio de aportes, carrega investimentos de fundos como Kaszek Ventures, dos fundadores do Mercado Livre, e de Jeff Bezos, fundador da Amazon e pessoa mais rica do planeta, que colocou US$ 30 milhões no projeto.

No Brasil, a responsabilidade de cuidar da startup em ascensão será Luiz Augusto Silva, nomeado presidente da companhia no país há poucos meses. Com mais de dez anos de experiência no mercado de meios de consumo, entre Unilever e Danone, o executivo chega com a missão de estruturar os negócios da NotCo – e dar conta de seus ousados objetivos. “A empresa vem para causar uma revolução na forma como a gente se alimenta”, diz.

Como apontado no início do texto, Silva tem muito trabalho pela frente. Da lista de prioridades, o presidente impõe dois desafios principais:

Desafio número 1:

Passar da fase pré-operacional para a operacional. Para isso, é necessário armar uma cadeia de suprimentos para começar a produzir localmente. Os primeiros produtos vendidos, logo em maio, foram importados do Chile. Agora, no entanto, a empresa já fez a primeira venda para o mercado de food service com produção local. O produto foi a maionese.

Desafio número 2:

Deixar claro para o público brasileiro que a NotCo é “uma empresa com produtos veganos para todos os consumidores”. Portanto, saber transportar o potencial da marca para um país de dimensões continentais e de diferentes realidades socioeconômicas. “É uma tarefa de marketing, com certeza.”

Um bom exemplo disso é que Silva sabe que o Brasil não tem a mesma relação com a maionese que o Chile – um dos países que mais consome o produto. Aqui, esse não será o carro-chefe. Qual será, no entanto, o presidente ainda não sabe ao certo. Mas vê características locais do Brasil com potencial de crescimento, como o alto consumo de leite.

O NotMilk (“não-leite”) conta com 20 ingredientes vegetais diferentes e é a grande aposta de Silva. Mesmo assim, adaptações são necessárias. Enquanto no Chile o consumidor está acostumado a beber leite desnatado, o brasileiro tem por característica comprar sua versão integral. “Isso mostra a importância dos times locais”, diz. Silva reforça seu argumento com um argumento simples: enquanto na Argentina faz sentido desenvolver um doce de leite alternativo, no Brasil o ideal é investir em um leite condensado.

O Brasil tem tudo que precisa para produzir localmente, garante o presidente. O processo fica mais fácil por conta da tecnologia, porque a elaboração das combinações e testes fica por parte da inteligência artificial alocada no Chile. Depois que o “segredo” é definido, bastam fabricantes locais executarem a fórmula. São mais de 300 mil tipos de plantas podem ser analisadas pela IA Giuseppe, como ficou conhecida a tecnologia da NotCo.

Regulação

Pelo ineditismo peculiar a empresas como a startup chilena, desafios regulatórios também tendem a ser enfrentados. Silva, por exemplo, pontua que a NotMayo, em termos práticos, não se encaixa a nenhum tipo de produto perante à lei brasileira. Do ponto de vista regulatório, uma maionese contém ovo – e ovo a NotMayo definitivamente não tem. “Vamos ter discussões interessantes em torno desse assunto. É um novo mundo, que nasce do zero.”

Para o executivo, o ideal é que o poder público e a iniciativa privada se unam para encontrar um caminho para o setor. “Se a gente quer que essas categorias cresçam, é preciso discutir equiparação de tributação. Será que uma maioneses [supostamente] mais sustentável que a média deveria realmente custar mais caro?”.

Silva também espera dialogar com o agronegócio brasileiro durante sua empreitada. Na visão do executivo, agricultura é a base do negócio da NotCo. “Eu não sei se eles já entendem isso, mas acho que vão. O mundo está andando em uma velocidade de transformação importante. É uma boa discussão”, afirma.

Fonte Época Negócios
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