O choro deveria ser livre (inclusive no trabalho)

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Chorar no trabalho é muitas vezes considerado um comportamento pouco profissional e limitador da carreira — o que não deixa de ser apenas um aspecto da cultura da masculinidade tóxica que permeia nossos ambientes de trabalho. Está na hora de percebermos que nossas ideias sobre o que faz alguém ser forte ou digno estão desatualizadas. Emoções são parte natural do ser humano — e enquanto tivermos funcionários humanos, teremos emoções. Em segundo lugar, precisamos de paixão e emoções para criar o engajamento que impulsiona os resultados do negócio. Se são as emoções que fazem nossos funcionários darem tudo de si para o sucesso da equipe, é natural que essas mesmas emoções, ocasionalmente, desencadeiem lágrimas (ou gritos ou frustrações).

Aqui está uma nova maneira de pensar sobre as emoções no trabalho: considerá-las mais valiosas do que incômodas. Pense nas emoções como dor. A dor não é saudável quando prolongada, mas, em breves intervalos, é um alerta. Se você tem um problema no ombro e levanta o braço acima da cabeça, por exemplo, a dor servirá como um aviso útil de que você precisa colocar o braço para baixo. Do contrário, há o risco de novas lesões.

Pense nas emoções da mesma maneira. Se você está em uma reunião e alguém se emociona, isso é um aviso importante de que, de alguma forma, essa pessoa foi atingida emocionalmente. Nesses casos, duas situações devem ser verdadeiras:

1. Você tocou em algo importante. E, provavelmente, a questão pegou a pessoa de surpresa. Se você quiser diminuir a probabilidade de que as pessoas chorem no trabalho, avise sobre as questões mais delicadas antes, por e-mail, para que elas possam processar suas emoções com antecedência.

2. Existem questões importantes para além dos aspectos lógicos e racionais do assunto em discussão. O que foi dito desencadeou sentimentos, provavelmente porque algo que a pessoa valoriza profundamente foi questionado ou comprometido.

Como lidar com as emoções da equipe

Quando alguém começa a chorar, isso é desconfortável para você também. Mas não se afaste, apenas sente-se em silêncio e ouça. As lágrimas não são radioativas, e você não precisa do kit de primeiros socorros. Ter um lenço por perto pode ajudar. Não tente proteger ou enganar a pessoa. Basta se abrir para o que você pode aprender como profissional a partir dos sentimentos do outro. Será que não há algo, referente àquele assunto, que você não sabia? Se você ouvir atentamente, aprenderá.

Siga essas três etapas para ajudar os funcionários a lidar com as próprias emoções. Primeiro, diga alguma coisa que o faça se sentir reconhecido, em vez de envergonhado ou defensivo. Eu costumo usar: “Parece que isso é importante para você”. Assim, mantemos o foco na questão, e não na emoção. Em seguida, faça perguntas abertas, como “O que você pensa sobre isso?”. Essa reflexão pode ajudar a entender o problema subjacente. Depois de validar a pessoa e ajudá-la a perceber os próprios sentimentos, a emoção começará a se dissipar. Em seguida, faça uma pergunta que direcione a pessoa para a ação. “O que você sugere para lidarmos com essa questão?” Use esse tipo de pergunta para ajudar o funcionário a agir. Você então verá o alívio no rosto da pessoa. E ela ficará agradecida por você ter tido a paciência de ajudá-la a esclarecer e atravessar o problema. Você perceberá que eles confiam e valorizam mais você depois de ter experimentado algo assim juntos.

Chorar não é desculpa para a inércia

Você está permitindo que uma pessoa emotiva adie, dilua ou arraste um problema que a empresa precisa que seja resolvido? Se assim for, você precisa assumir sua parte do problema. Se você é mantido refém das emoções de um empregado, você está prestando desserviço não só para a sua equipe como para toda a organização. Se você permite que a emoção interfira nos negócios, isso acaba se tornando tão prejudicial quanto a falta de controle emocional da outra pessoa.

O padrão de comportamento no trabalho deve ser o mesmo para todos. O fato de que um problema faz alguém chorar é apenas uma sugestão de que existe algo mais profundo e pessoal para aquele funcionário — e que precisa ser abordado. Mas o problema continua sendo dele.

Não fuja da emoção. Mas não dê passe livre para alguém só porque ele chora. Não evite ou adie uma discussão apenas porque você antecipa o drama em resposta. Isso seria apenas um sinal de sua fraqueza. Em vez disso, vá com calma, racional e gentilmente, até chegar à questão subjacente. Se você vê a emoção, resolva isso. Deixe claro que você está disposto a considerar os fatos, sentimentos e valores que fazem parte de qualquer problema. E deixe igualmente claro que, no final, sua obrigação é tomar as melhores decisões para a organização.

Se houver uma situação que você não conseguiu resolver por causa de um colega mais emotivo, pense em como você pode abordar o assunto e vá conversar. Hoje. Você não pode mais esperar.

*Liane Davey é psicóloga, doutora em psicologia organizacional e escritora. Recentemente lançou The Good Fight: Use productive Conflict to Get Your Team and Organization Back on Track.

Fonte Época Negócios
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