Movidas a Fé

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“Andar com fé eu vou, que a fé não costuma ‘faiá’” (Gilberto Gil)

Há dez anos, quando começamos o processo formal de sucessão em nossa empresa, meu pai emergiu de uma madrugada insone com uma grande ideia. Naquela manhã, quando cheguei ao escritório, ele já me aguardava com os 16 tópicos do ‘Plano Mais’ impressos em uma folha de papel.

Dizia ele: “pensei num plano de vendas para esta temporada…” (aqui um parênteses: distribuímos sorvetes, açaí e polpa de frutas, logo vivemos entre temporadas). Mas sabíamos que naquela folha havia muito mais. E como no início da sucessão tudo é cercado de muita expectativa, formalidade e até um pouco de drama, assim o fizemos. Tínhamos três meses até a temporada e usamos o Plano Mais como nossa pedra filosofal: debatemos eu e meu pai até eu perder a voz; a partir da nossa visão compartilhada construímos uma agenda de aplicação prática com os colaboradores e apresentamos o trabalho aos principais fornecedores. Foi um processo fantástico que nos deu gás para encarar os dois primeiros anos de entrosamento das gerações, que eu considero a etapa mais difícil.

“Mais Vendas”, “Mais Lucro”, “Mais Competitividade”…tudo isso era fácil assimilar e repassar. Mas, na lista dele ainda havia o MAIS FÉ. Esse eu pedi para tirar: “pai, as pessoas não vão entender, vão confundir com religião”. Confesso a você que era ‘eu’ que não entendia. E se não compreendia, como iria passar este conceito adiante?

Mas o tempo se encarrega de tudo. Em 2011, quando meu pai completou 60 anos, coroamos nosso processo interno de continuidade. Assumi a responsabilidade pela área comercial e MAIS FÉ tem sido o meu mantra, a força que me faz enfrentar com disposição os revezes do campo. Hoje entendo que é Deus que está no comando e que ele é o meu grande parceiro. E assim a conta sempre fecha.

Semanas atrás, estava no Rio de Janeiro em reunião na fábrica de sorvetes. Na hora do almoço, entre uma conversa sobre os novos produtos e as informações do satélite – que prometem um verão abrasador, o diretor da multinacional que nos atende fez a pergunta de mais de um milhão de dólares: “e a sua temporada este ano vai ser boa?”

Estávamos no restaurante do Riocentro. Às costas do meu anfitrião, a parede de vidro revelava vazio o pavilhão que abriga as maiores feiras do país. Pensei em quanta fé é necessária para encher aquele espaço de estandes e gente em busca de oportunidades. Me escapou um sorriso: não estou sozinha nesse negócio

– Tenho certeza que será uma excelente temporada – declarei sem titubear.

– Mas você baseia sua previsão em quê? Nas suas vendas? No mercado da sua região?

– Talvez o sell in não mostre, mas faz três meses que não batemos o sell out. Todos tivemos um ano difícil. Mas acredito porque, na entrada da temporada, tudo o que devo é ter fé. Devo passar para a minha equipe e para os meus clientes que esta será a melhor temporada de todas.

“Vivemos tempos graves e grávidos”, estas palavras do filósofo Mario Sergio Cortella me desafiam a enxergar as oportunidades que existem em meio à crise. Acredito que os líderes que arregaçam as mangas e se permitem a encarar as mudanças do mercado com um olhar desanuviado terão mais chances de conduzir suas organizações para a prosperidade no médio e longo prazo. Mas antes de tudo, é preciso ter muita fé.

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3 Comentários
  1. José Fontelles diz

    Joice, Parabéns pela mensagem !!
    Sucesso !!

    1. Joice Sabatke diz

      Olá José Fontelles, que bom ter o reconhecimento, de uma pessoa tão atuante conhecedora do mercado quanto você!
      A correria do verão nos absorve totalmente, correria boa, mas já temos um texto quentinho saindo em breve. Leia, divulgue e me conte o que você achou 😉

  2. Pamilla diz

    Maravilhoso, Joyce!!! Texto cheio de inspirAÇÃO! Obrigada por compartilhar sua rica experiência. Vou até repassar para algumas pessoas. DesejORO cada dia mais essa fé capaz movem montanhas… Grande abraço!

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